Ópera da Serra da Capivara: espetáculo encanta com projeções na Pedra Furada
Sítio arqueológico com pinturas rupestres e formações rochosas recebe grandes nomes da música brasileira e vira palco de apresentação de música e dança
No sertão do Piauí, o Parque Nacional da Serra da Capivara guarda a maior concentração de pinturas rupestres do mundo. Mas também é um lugar de grande beleza natural devido à presença de formações rochosas que parecem desafiar a gravidade. Entre elas está a Pedra Furada, um paredão de mais de 60 metros de altura com uma abertura de 15 metros de diâmetro.
Todos os anos, na última semana de julho, o espaço logo abaixo da Pedra Furada é transformado em um anfiteatro natural – com acústica impecável, aliás – para receber a Ópera da Serra da Capivara. Não se trata de uma ópera no sentido clássico: não há, por exemplo, cantores líricos. O evento mistura teatro, música, dança, circo e projeções em alta resolução que extrapolam o palco e tomam conta inclusive da própria Pedra Furada, que é lindamente integrada ao cenário.
O espetáculo tem ampliado a visibilidade do parque nacional, um Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco ainda pouco conhecido pelos próprios brasileiros. Segundo a idealizadora e diretora geral do evento, a jornalista e arqueóloga Sádia Castro, a Serra da Capivara recebe 30% dos seus visitantes anuais durante a Ópera. Guias e motoristas locais confirmam que o período se tornou o mais movimentado.
As quatro primeiras edições – que aconteceram em 2017, 2018, 2019 e 2022 – tiveram como temas elementos da história e da cultura da região. O ciclo se encerrou em 2022 com um espetáculo muito elogiado em homenagem à Niéde Guidon, a arqueóloga franco-brasileira que foi pioneira nas escavações na Serra da Capivara e responsável pela criação do parque nacional.
Em 2023, teve início um novo ciclo que fará releituras de óperas e musicais. No ano passado, o espetáculo “Carmen do Sertão” foi inspirado na ópera Carmen de Georges Bizet e exaltava a força da mulher sertaneja. Na sexta edição, que aconteceu entre os dias 25 e 27 de julho, a montagem “Onça Rainha: Uma Jornada de Rugidos e Silêncios” remete ao Rei Leão, mas incorpora os animais da região e o problema das queimadas na caatinga, que atingiram número recorde no último ano.
Ópera na Cidade
Vamos retroceder alguns dias. O clima de festa toma conta de São Raimundo Nonato, o município que é a principal base para conhecer o Parque Nacional da Serra da Capivara, já no começo da semana. Na segunda e na terça-feira, a praça principal da cidadezinha recebe o agito da Ópera na Cidade, que tem feirinha do Sebrae com artesanatos e comidas típicas e shows de artistas nacionais gratuitos.
Cheguei à São Raimundo Nonato na terça-feira do dia 23 de julho, bem a tempo de curtir as apresentações da forrozeira local Isadora D’Lavor e da gaúcha Filipe Catto, que trouxe um repertório de canções da Gal Costa. A pista encheu de moradores locais e de municípios vizinhos, além de alguns turistas tão surpresos quanto eu em encontrar tamanha animação em um dia de semana.
A Ópera na Cidade é muito bem-vinda, já que em dias normais não há programação noturna na pequenina São Raimundo Nonato, que possui menos de 39 mil habitantes.
Ópera da Serra da Capivara
Na quinta-feira, tem início a Ópera da Serra da Capivara: assisti “Onça Rainha” logo na estreia, no dia 25 de julho. Como a apresentação acontece em uma área de preservação ambiental, a logística é um pouco diferente de um espetáculo comum.
Os visitantes devem ir de carro até um estacionamento perto da entrada do Parque Nacional da Serra da Capivara, de onde saem vans que entram no parque em si e levam até o mais próximo possível da Pedra Furada. É preciso percorrer um último trechinho a pé no chão de terra vermelha, então saltos altos e tênis brancos estão fora de cogitação. Há pouca iluminação pelo caminho: vale usar a lanterna do celular.
Na chegada, uma lanchonete improvisada vende salgadinhos, água, sucos e refrigerantes – consumir bebidas alcoolicas é proibido dentro do parque, assim como fumar.
Como não há lugares marcados, a recomendação é chegar cedo. Há uma arquibancada e mais algumas cadeiras de plástico que ficam espalhadas nas laterais do palco. O melhor lugar é no ponto mais alto da arquibancada, onde você conseguirá observar melhor tanto as projeções no chão do palco quanto as na Pedra Furada.
Como cheguei há menos de meia hora do início do espetáculo, havia poucos lugares vagos, mas fiquei feliz de me instalar na parte mais baixa da arquibancada, bem pertinho da ação. As cadeiras de plástico nas laterais são definitivamente os piores lugares devido à visão lateral.
Com músicos e bailarinos de São Raimundo Nonato, São Paulo e Curitiba, “Onça Rainha” foi um espetáculo bastante colorido graças às fantasias representando a fauna da caatinga, com destaque para o número com artistas de perna-de-pau vestidos de seriemas. Mas o diferencial fica mesmo por conta do cenário, com bonitas projeções tomando conta da Pedra Furada.
No final da apresentação, há um momento um tanto prolongado em que patrocinadores e políticos do município e do estado tomam o microfone para pronunciamentos. O público espera porque, na sequência, há uma apresentação de música ao vivo e o palco do espetáculo se transforma em uma grande pista de dança.
O artista varia a cada noite. Já passaram pela Ópera da Serra da Capivara nomes como Lenine, Tony Garrido e Zeca Baleiro. Na estreia da sexta edição do evento, quem subiu ao palco foi a pernambucana Lia de Itamaracá, que logo colocou o público para dançar em uma grande ciranda.
Serviço
Onde? No Anfiteatro da Pedra Furada, dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí.
Quando? Sempre na última semana de julho, quando as noites têm temperaturas mais amenas e não chove (afinal, trata-se de um evento ao ar livre). Acompanhe as atualizações no site e no Instagram da Ópera da Serra da Capivara.
Quanto? Em 2024, os ingressos custavam R$ 180 a meia entrada solidária (mediante doação de um quilo de alimento não perecível).
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