No fim de tarde ensolarado, as ruas estão cheias de gente exibindo o bronzeado, os cabelos coloridos, os penteados multiculturais. Pais supertatuados pegam o filho na escola, muçulmanas flanam com vestes coloridas, mulheres pedalam de saia, calcinhas aparecem, meias desfiam – quem liga?
Berlim é assim. E verde. E quieta: nos bairros residenciais, o silêncio só é quebrado, vez em quando, por uma justa buzina advertindo o pedestre distraído que caminhou na ciclovia – ou um ciclista que resolveu fazer o mesmo no caminho do carro. Atravessar a faixa, só quando o Ampelmännchen (o homenzinho de chapéu dos semáforos da antiga Berlim Oriental) fica verde. Ordem é ordem.
Ainda que abrigando tanta coisa bacana, descolada e civilizada, Berlim faz questão de não esquecer seus maus dias. Há memoriais para todas as vítimas do nazismo – judeus, gays, ciganos – e sinais em toda parte do muro que partiu a cidade durante os longos anos da Guerra Fria.
Enxergar a confluência das marcas do passado e da nova vida, porém, nem sempre é simples. Há de se ter olho para achar as coisas meio escondidas, as camadas de história, o tantão de arte e um estilo de vida de uma cidade que aprende a ser uma só de novo. E que, em meio a tantas camadas de conflitos e transformações, escolheu simplesmente viver. E bem.
TRANSPORTEDividido na zonas A, B e C, o sistema é composto por:
Vale a pena comprar o Berlin WelcomeCard e se jogar nas infinitas possibilidades de interligação. Só a zona C, mais distante do Centro, exige um bilhete à parte. A boa notícia: o metrô funciona 24 horas nos fins de semana. |
MITTE
O coração da cidade
Área da antiga Berlim Oriental, o Mitte se transformou numa espécie de Centro da capital depois da reunificação. A arquitetura é toda misturada, resultado de várias épocas e influências que nem sempre são fáceis de identificar.
Prédios de tijolos do pós-guerra se misturam à arquitetura modernista da Bauhaus e a edifícios dos tempos da Prússia, reino que deu origem à Alemanha. É nesse pedaço que estão as atrações turísticas mais disputadas – daí ser o ponto de partida ideal para quem não sossega até ticar os cartões-postais do roteiro.
Se você não ficou em coma nos últimos 25 anos, já viu um pedacinho do Mitte: o Portão de Brandemburgo (estação Brandemburgo Tor). Encimada pela estátua da deusa Vitória conduzindo em triunfo uma biga de quatro cavalos, a grandiosa estrutura de pavilhões e colunas servia de portão da cidade nos tempos prussianos.
Trancado do lado oriental desde 1961, nos anos de Guerra Fria, virou o símbolo da unificação quando o muro veio abaixo, naquele 9 de novembro de 1989. Hoje abre alas para o lado ocidental, de frente para a imensa área verde do Tiergarten.
Nesse parque, em meio a 5 000 metros quadrados de trilhas e árvores nativas, está o Siegessäule, a superdourada coluna da Vitória (ela de novo), construída no século 19 para celebrar os triunfos da Prússia sobre os vizinhos. É uma lindeza de jardim à beira de um lago onde tem barcos para alugar. E não se assuste se der de cara com peladões; lá isso é totalmente aceitável.
Nas redondezas do parque está o Memorial do Holocausto, dedicado aos 6 milhões de judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial. Não foi de propósito, mas a estrutura formada por 2 711 blocos retangulares de concreto enfileirados sobre uma superfície irregular lembram ondas de lápides – para muitos, obra de gosto duvidoso.
Também por ali está o Reichstag, o edifício histórico do Parlamento alemão, com uma outra boa história de calamidades. Incendiado e bombardeado, foi lá que as tropas soviéticas fincaram sua bandeira ao entrar na cidade arrasada.
Reformado pelo arquiteto inglês Norman Foster, voltou a sediar o Legislativo do país em 1999. As formas neorrenascentistas foram mantidas, mas uma cúpula de vidro, construída no lugar da original, dá vista pra sala do plenário. Recado político, símbolo de novos tempos, de transparência. Logo ali, aliás, está o Bundeskanzleramt, o prédio da chancelaria, onde Angela Merkel bate seu cartão.
Na Potsdamer Platz (estação Potsdamer Platz Bhf) está o modernão Sony Center, complexo de entretenimento, compras, hospedagem e escritórios construído no lugar onde havia um antigo prédio bombardeado. Nessa região fica um pedaço do Muro transformado em exposição, que ficou famoso porque foi totalmente coberto com chicletes! É uma daquelas bobagens que começam e ninguém sabe explicar a razão. Curiosidades à parte, este pode ser um ponto de partida pra quem quer mergulhar um pouco mais no tema.
Algumas torres de vigia foram mantidas. Uma delas está na Erna- Berger-Straße, e é curioso ver como os terrenos em torno ainda estão vazios. O Check Point Charlie (estação Koch Str./Checkpoint Charlie) é um clássico. Era posto militar usado pro vai e vem de diplomatas e membros das forças aliadas – Estados Unidos, Inglaterra e França, que ficaram com o pedaço ocidental.
Na mesma rua tem o Museum Haus am Checkpoint Charlie, que, em seus quase 2 000 metros quadrados, toma essa desgraceira toda como mote para uma série de exibições em prol dos direitos humanos. Por ali está também o Topographie des Terrors, museu que documenta as atrocidades nazistas.
Aliás, se a sua ideia for esgotar o tema do muro, pegue o metrô e vá já para o ex-ocidental bairro Wedding. Lá está o Memorial do Muro de Berlim (estação Bernauer Str.), que reúne as histórias mais pavorosas do dia em que, sem mais nem menos, as pessoas se viram impedidas de circular – muitas, de ver suas famílias.
Em Berlim é legal gastar pouco sempre, e o vintage tem a cara da cidade. Todo mundo se veste de um jeito meio despretensioso. Há uma rede chamada Humana que é tipo uma “H&M retrô”; algumas lojas têm vários andares, com peças de € 3 a € 20. Achei muitas coisas incríveis lá, principalmente anos 90.
Jana Rosa é escritora, autora do livro Como Ter uma Vida Normal Sendo Louca
A Feirinha do Mauerpark de domingo tem opções de roupas também. O que compensa muito lá são as jaquetas militares, por até € 5, e os casacos de inverno, muito bons para aguentar aquele frio todo.
Flanar em alemão
Depois de tanto muro e guerra, um refresco pra alma é a charmosa Gendarmenmarkt (estação Französische Str), praça considerada (por quem tem mania de ranquear tudo) a mais bonita de Berlim. É composta de três harmoniosos edifícios: a casa de concertos Konzerthaus, ladeada por duas igrejas, a católica Französischer Dom e a protestante Deutscher Dom. Com exceção dos cantos onde ficam as igrejas, é uma praça sem árvores. Não dá pra dizer assssimmm que é a mais bonita.
A Bebelplatz é outra praça de prédios imponentes: a Catedral St. Hedwig, a Alte Bibliothek e a Alte Palais. Viu uma rodinha de pessoas olhando pro chão? O quadrado vazio, coberto por uma tampa de vidro, é o memorial (mais um) bolado pelo artista israelense Micha Ullman, em referência à queima de livros “subversivos” promovida no lugar pelos nazistas em 1933. O.k., não é tão fácil fugir das marcas da guerra.
Desviando dos monumentos e memoriais, dá para aproveitar, logo ali, o hype Cookie Cream, representante do estilo da deliciosa nova cozinha natureba-alemã-berlinense, que só usa produtos sazonais e fresquinhos. Dá um trabalhinho encontrar: entre no vão entre o hotel The Westin Grand Berlin e a Komische Oper Berlin, passe pelas lixeiras, vença os becos até achar a porta com um lustre em forma de caixa. É lá. No loft com paredes caiadas de branco, entregue-se às combinações inusitadas como mingau de milho e pipoca, repolho com creme de leite e uvas, trufa de queijo suíço com beterraba em conserva… E os vinhos são ótimos.
Há vários walking tours na cidade, a maioria gratuita. Você só contribui com uma gorjeta para o guia. Gostei do tour organizado pela Alternative Berlin (alternativeberlin.com), que mostra como a cidade se tornou a capital hipster do mundo.
Wellington Soares, Jornalista, morou na Alemanha por seis meses
Na maior parte do tempo andamos pelo bairro Kreuzberg, vendo grafites e visitando lugares por onde passaram artistas famosos e importantes. Um ponto alto do passeio foi o Künstlerhaus Bethanien, um antigo hospital abandonado que hoje serve como espaço de cocriação e galeria de arte.
Ilha de cultura
Do lado oriental do Portão de Brandemburgo, seguindo pela Avenida Unter den Linden, chega-se a Lustgarten (estação 100 Lustgarten), grande jardim que dá para a Berliner Dom, a catedral da cidade. Ele está na Museumsinsel, a ilha sobre um braço do Rio Spree que é inteirinha de museus!
São cinco no total, e, se você tiver tempo para apenas um, siga a multidão e vá ao Pergamon, com acervo cujo forte são as peças da Antiguidade. A principal atração é o Altar de Pérgamo, uma gigantesca estrutura de mármore com frisos e baixos-relevos, construída na cidade de Pérgamo no século 2 a.C., em homenagem a Zeus. Problema: está fechado para restauração desde 2014 e só abre em 2023!
Mas não faz mal, ainda há hits como o grego Portão do Mercado de Mileto, a babilônica e coloridíssima Porta de Ishtar e a ala inteirinha de arte islâmica. Se tempo não for problema, vale ver o busto de Nefertiti, datado de 3 300 anos atrás, no Neues Museum; ou as obras de Monet, Cézanne e Renoir, no Alte Nationalgalerie.
O Bode-Museum é famoso pelas peças bizantinas e pela coleção de moedas, mas já é uma atração e tanto do lado de fora. O edifício neobarroco, lindo e imponente, contorna a ponta da ilha. Ali, nos domingos de verão, berlinenses se juntam pra assistir a concertos. De graça.
Fora da ilha também tem o DDR, museu interativo com objetos e ambientes que recriam como era a vida em Berlim Oriental. Na outra margem do Spree está Nikolaiviertel (estação Kloster Str.), vila medieval meio escondidinha. Dá até pra esquecer que estamos dentro de Berlim, tamanhas a fofura e a cara de cidadezinha do interior desse pedaço que é o marco zero, o lugar em que a cidade nasceu, em 1237.
A antítese desses refúgios está a poucas quadras. É a Alexanderplatz, a praça mais muvucada de Berlim. Loucos por tranqueiras tecnológicas piram na Saturn, consumistas arrastam sacolas da H&M e da Primark. Tudo sob a sombra da bizarra Berliner Fernsehturm, a Torre de TV, que, construída pelo governo socialista, volta e meia aparece nas fotos, onde quer que você esteja. Tem 368 metros de altura, e a plataforma de observação, a 203 metros, é aberta ao público. Lá, o restaurante Sphere gira 360 graus, devagarinho, enquanto você come. Uma mesa na janela, por favor.
ROLÊ GASTRÔ EM SCHEUNENVIERTELCô-cô – O Bánh mì deli é um baguete crocante com lascas de porco e molho agridoce. Não precisa de mais nada! Monsieur Vuong – Mais comida do Vietnã. Os berlinenses amam. Vá com fé no prato do dia! Pantry – Retrô e barulhento. Carnes ótimas! Também famoso por pratos veganos. Katz Orange – Fica num pátio charmosérrimo! Comidas feitas com carne e vegetais orgânicos. Pauly Saal – Fica numa ex-escola de meninas judias. Serve cordeiro, enguia, vieiras… No almoço sai mais em conta. |
Fauna alternativa
Ao norte do Mitte, a uma estação de metrô do coração da cidade, outro mundo se apresenta em Scheunenviertel (estação Oranienburguer Str.). Bairro operário judeu antes da Segunda Guerra, ele guarda outras cicatrizes em meio às suas peculiares transformações. Obra do artista alemão Gunter Demnig, As Pedras do Tropeço – plaquinhas de cobre chumbadas na calçada – informam nome, data de nascimento, de morte e para qual campo de concentração foi levado o morador daquela casa.
Nos imóveis se misturam marcas judaicas do passado às do presente, com muitos estabelecimentos exibindo a estrela de Davi ou indicando cardápios kosher. Também nessa área está a lindíssima Neue Synagoge, com sua cúpula dourada em estilo mourisco.
Por razões óbvias, gueto é uma ideia que não pode se repetir na cidade. Mas pode, talvez, ser reinventada. Cheia de Höfes, pátios internos que já foram galpões e fábricas escondidos pela fachada das casas, a região foi tomada pela turma descolada, que ali ergueu residências, galerias de arte, restaurantes, cafés, livrarias… Você está, nessas ruas estreitas e tranquilas, em meio a uma das faunas mais hipster da Alemanha!
O Hackesche Höfe é um complexo de oito pátios restaurados nos anos 90 e protegidos pelo patrimônio histórico. Além dos habituais estabelecimentos, tem um teatro, o Chamäleon Varieté, que fica no Endellscher Hof, o pátio mais bonito do conjunto, restaurado em estilo art nouveau com azulejos desenhados pelo arquiteto August Endell.
Na mesma rua está o Café Cinema. A entrada do beco meio escura não é exatamente convidativa, mas é de boa pra entrar e tomar uma cerveja sentado nos compridos bancos de madeira, ou explorar as portinhas que podem levar para escadas estreitas, grafites, livrarias e exposição de monstros de metal que se mexem. Divertido.
Perto, outro pátio, o Sophie-Gips, abriga a Sammlung Hoffmann, uma conceituada galeria de arte contemporânea que tem obras de Basquiat e Andy Warhol.
Sim, claro, street art. O prédio que foi da galeria Tacheles (estação Oranienburger Tor), berço da porra-louquice que baixou na cidade após a reunificação, ainda exibe do lado de fora o famoso mural How Long Is Now. Aos pedaços, o prédio está hoje à beira da demolição. Mas fique sossegado, que arte alternativa não vai faltar, nos grafites dos bombados Alias e El Bocho, por exemplo.
O Hackescher Mark (estação Hackescher Markt) fica perto da avenida mais movimentada do bairro, a Rosenthaler Straße, onde, às quintas e aos sábados, acontece uma animada feira. Nas barraquinhas que ficam no início da rua são vendidos os doces turcos mais fresquinhos e crocantes que comi na cidade.
Na via mais emblemática do pedaço, a Auguststraße, o programão é ir de porta em porta. Ali está The Barn, minúsculo café em que são servidos espressos perfeitos. Importante: jamais magoe os simpáticos atendentes pedindo açúcar; café ali é coisa levada a sério.
Se estiver muito lotado, peça pra viagem e tome o seu no sossego da Do You Read Me?!, uma livraria discreta, mas que tem o poder de enlouquecer loucos por papel impresso. São publicações sobre arte, moda, arquitetura e design de mais de 20 países.
Fora do bairro, um pouco mais ao norte, fica uma edição do Bite Club (estação Rosa-Luxemburg-Platz), uma feira gastronômica que funciona nas tardes de sábado. Desejei ter dois estômagos para provar a variedade de comidinhas vendidas nos populares food trucks.
HAMBÚRGUERES DESCOLADOSBurgermeister – Antes banheiro público (!), hoje serve sandubas perfeitos com batatas fritas polvilhadas com queijo. Fica embaixo da linha de trem. BurgerAMT – Os caras não têm medo de arriscar nas combinações (guacamole, teriyaki, abacaxi, amendoim) dos enormes hambúrgueres feitos com carne especiais. Berlin Burger International – A modesta portinha em Kreuzkölln esconde um menu cheio de burgers gigantes e afamados. |
PRENZLAUER BERG
Gente diferenciada
A noroeste da cidade, o Prenzlauer Berg é daqueles bairros cujo metro quadrado ganhou preços nada socialistas depois da reunificação. Reduto de jovens famílias abonadas com seus bebês, é realmente todo gracioso, com mercadinhos free lactose, glúten ou gordura trans, além de estúdios de ioga e parques sossegados.
Mas o diferenciado mesmo está literalmente do outro lado da linha do trem, quando a vizinhança fica movimentada. Nas tardes de domingo, uma horda se dirige para o mesmo lugar: o Mauerpark (estação Eberswalder Str.).
Perto de um trecho largado do Muro, com grama falhada e trechos de areião, as pessoas levam tapetes de casa, enrolam um cigarro de palha, abrem uma cerveja e acendem práticas churrasqueiras descartáveis.
Divertidíssimo, o popular mercado de pulgas vende belas tranqueiras: roupas, lentes de máquinas, bijoux de qualidade e artigos de brechó de primeira linha! E shows acontecem simultaneamente.
O ponto alto das tardes de domingo é o karaokê que reúne mais de mil pessoas em torno da bicicleta do irlandês Joe Hatchiban, o cara que dá o som. Pode ser que ele não apareça, fato ocorrido a esta que vos escreve, que afinou o gogó e levou um bolo. Pô, Joe!
CHARLOTTENBURG E SCHÖNEBERG
Compras, compras
Lado ocidental adentro, Charlottenburg (estação Zoologischer Garten Bhf) é o bairro para onde os orientais correram quando o Muro caiu, pra ver coisas corriqueiras como variedade de chocolates e roupas, raridades do lado de lá.
Ali fica a KaDeWe, tradicional loja de departamentos que vende de guardanapo de papel a bolsa de € 10 000. Vale subir até o quinto e último andar e dar uma volta na sensacional praça de alimentação, misto de mercadão e empório chique.
Na avenidona Kurfürstendamm, chamada de Kudamm, estão o megashopping Europa Center e lojas de marcas populares e de grifes como Bulgari e Chanel.
Shopping-conceito, o Bikini Berlin é um disparador de tendências com algumas marcas que só podem ser encontradas lá. As lojas minimalistas são todas organizadas em conteinêres, dentro de uma estrutura cheia de transparências.
A ideia é que as pessoas deem de cara com o Zoologischer Garten, o zoológico queridinho da cidade por ter a maior coleção de espécies do mundo.
Não é, por ali, a única coisa que se vê. No skyline moderníssimo do bairro se destaca a torre da igreja luterana Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche, bombardeada e de propósito não restaurada. Queria se jogar nas compras e esquecer da guerra? Não, senhor.
No vizinho Schöneberg, bairro gay que já abrigou David Bowie, Iggy Pop, Marlene Dietrich e Einstein, o borogodó é outro. Ali se misturam vitrines de sex shops, lojas de roupas vintage e as tradicionais feiras familiares que acontecem nas ruas arborizadas. Muito bom para comprar peças exclusivas.
ESCAPADASGleis 17 – A estação de trem onde os nazistas embarcaram parte dos 50 mil judeus deportados de Berlim para campos de concentração. Bahn Grunewald Potsdam – Os jardins e o Castelo de Sanssouci, onde os reis da Prússia passavam as férias, valem o deslocamento de uma hora de trem. Potsdam Hauptbahnhof Sachsenhausen – Um dos três maiores campos de concentração da Alemanha. Na porta de entrada, a frase: “O trabalho te libertará”. Oranienburg Bhf Alte Börse Marzahn – Antigos prédios da bolsa de valores de Marzahn, abrigam galerias e oficinas que foram deslocadas da cidade de Berlin, como os da Tacheles. Arte pra iniciados. Friedrichsfelde Ost |
KREUZBERG, NEUKÖLLN E FRIEDRICHSHAIN
Boêmios e baladeiros
Região mais a leste do lado ocidental, trancada pelo Muro em três de seus lados, Kreuzberg só aos poucos vai se valorizando – daí ser até hoje reduto de punks, bichos-grilos, artistas e turcos. Boêmio, é ideal para encontrar restaurantes abertos até tarde.
O aglomerado de ruas entre a Oranienstraße (estação Moritzplatz) e a Bergmannkiez (estação Gneisenau Str.) não desapontará quem quer fazer uma boquinha fora de hora. Um alívio numa cidade que, apesar de moderna, vai dormir com as galinhas.
O que não fecha cedo, óbvio, são as baladas. Uma parte do bairro está perto do Spree, e os locais adoram um agito beira-rio! É o lugar para experimentar uma tradição berlinense. O animado Sage Restaurant reúne música, boa comida e até areia à beira d’água!
O KitKat Club é uma balada-fetiche, o que – atenção! – significa que é preciso se caracterizar para dançar entre gente vestindo todo tipo de fantasia sexual. Se for demais para você, tente o WaterGate: chique, com janelas de vidro que enquadram o rio e a ponte Oberbaumbrücke.
Pra se recompor, o spa Liquidrom (estação Anhalter Bnf) cai como uma luva! Aaaah… As chaise-longues do jardim de inverno… A massagem com óleos quentes… A sensação de voltar ao útero boiando na piscina com som tocando embaixo da água morna… O vestiário e a sauna… AAAH… mistos! O.k., pode ser estranho, mas tente entrar no clima. Berlinenses acham natural bater um papo com os colegas da firma como vieram ao mundo. Justiça seja feita: pedaladas esculpem. Mesmo.
A região, à beira do canal Landwehr, onde Kreuzberg encontra o vizinho Neukölln, é chamada informalmente de “Kreuzkölln”. É lá que funciona, às terças e sextas, um mercado de rua sensacional: o Maybachufer Turkish Market (estação Schönlein Str.), uma versão turca- hipster-natureba da nossa feira livre, com vegetais orgânicos, roupas, tecidos para as vaidosas muçulmanas e comida vendida ao gritos pelos feirantes turcos.
Uma multidão fica ali à toa vendo os barcos passarem ou assistindo a alguma performance ou show. Vi alemães batucando e cantando: “Iaiá, ôôôôô iáiá, minha preta não sabe o que eu sei…” Mas, se o seu negócio é mesmo balada, vale escapulir novamente pro lado ex-oriental.
No Friedrichshain está uma das mais famosas do mundo! O Berghain, que fica num enorme galpão, é aquele lugar que a gente espera ver em Berlim: gente sem camisa enlouquecida ao som de música eletrônica de peso. Esteja preparado para todo e qualquer tipo de bizarrice – coisa como gente enrolada em Magipack e pendurada em esquemas masoquistas.
É nesse bairro que também está o maior trecho do Muro. São 1 300 metros de grafites que se transformaram numa galeria a céu aberto, o East Side Gallery (estação Ostbahnhof), um desfile de grafites de artistas do mundo todo! Não deixe de tirar seu selfie em frente à obra Meu Deus, me Ajude a Sobreviver a Esse Amor Fatal, do russo Dmitri Vrubel, que reproduz o beijaço entre Erich Honecker, o último dirigente da Alemanha Oriental, e Leonid Brejnev, o homem-forte da União Soviética entre 1964 e 1982. Amor, com muito muro e muita guerra. Bem Berlim.
Guia VT
Ficar
Boa parte dos hotéis tem investido em decorações modernetes, como o Nhow Hotel e o 25 Hours Hotel Bikini Berlin, que tem um restaurante no terraço com vista panorâmica. No Mitte, o bairro descolado, o The Weinmeister tem 84 quartos estilosos focados em hóspedes do cinema, da música e da moda, enquanto o MANI faz o estilo clássico-contemporâneo, com aposentos minimalistas.
No ótimo Hostel One 80°, você se sente ainda mais cool – e paga menos. E, para respirar mais arte, o Arte Luise Kunsthotel é um hotel-galeria que ocupa um prédio de 1827 onde cada quarto foi desenhado por um artista.
Comer e beber
Com produtos sazonais, o Cookies Cream é a estrela da nova cozinha inventiva. No alto da Torre de TV, o Sphere é um restaurante-cartão-postal que gira 360° enquanto você… come! Para tomar uma boa gelada alemã em um canecão, vá ao Café Cinema. No russo Pasternak, peça o Draniki (panqueca de batata, salmão e molho de raiz-forte), mas jamais opte pela cerveja russa.
No Zur Letzten Instanz, encare um joelho de porco e, para forrar o estômago, invista no tradicional Konnopke’s Imbiss, que serve quitutes debaixo dos trilhos da linha de trem. O Chipps é um restaurante natureba e vegetariano (que também serve carnes), com janelões altos de vidro de onde se veem executivos berlinenses chegando de bike.
O Horvath, estrelado Michelin do jovem chef Sebastian Frank, é uma das sensações do momento. Aos sábados, não perca o Bite Club, feirinha de food trucks – dá-lhe sandubas, pizzas, doces e até porções indianas.
Passear
No Mitte estão os high-lights mais emblemáticos: o Portão de Brandemburgo, o parque Tiergarten, os blocos de concreto do Memorial do Holocausto e o Reichstag, prédio histórico do Parlamento. Para mergulhar mais na história do Muro, siga até o bairro de Wedding, onde está o Memorial do Muro. Outros clássicos são o Museum Haus am Checkpoint Charlie e o Topographie des Terrors, que documentam as atrocidades nazistas.
Na famosa Potsdamer Platz, não perca o complexo Sony Center, e, na Ilha dos Museus, o gigantão Pergamon, e o Bode-Museum, com peças bizantinas.
Outra galeria imperdível é a Sammlung Hoffmann. Para mais arte contemporânea, visite a imponente East Side Gallery, galeria a céu aberto com 1 300 metros de grafites. Aos domingos há um mercado de pulgas divertido no Mauerpark, bom para conjugar com uma visita ao Zoologischer Garten, o zoo com a maior coleção de espécies do mundo. E, no final, para se recompor da turistagem e curar a ressaca, as terapias do spa Liquidrom caem como uma luva.
Agitar
Pra começar a noite em um ambiente sofisticado, vá ao Amano Bar. Nas margens do Rio Spree, vale conhecer o Sage Restaurant, que tem música e comida boa à beira d’água. Para uma noite-fetiche, se jogue no KitKat Club vestido com uma fantasia sexual. No mais, o Watergate é para os chiques e o Berghain, para a galera da música eletrônica.
Comprar
A Do You Read Me?! é uma livraria incrível com publicações de mais de 20 países. Mas, se o seu negócio é loja, siga para Charlotternburg, que tem a famosa KaDeWe, que vende de tudo, o shopping-tendência Bikini Berlin e o gigante Europa Center.
Documento
O passaporte é necessário mas dispensa de visto, por até 90 dias.
Saúde
Nenhuma vacina específica é necessária para entrada no país.
Língua
Alemão.
Moeda
Euro.
Por Ana Claudia Crispim