Onde mais nesse mundo existe uma cidade de dois milhões de habitantes literalmente imersa em uma floresta tropical? Como um pontinho na imensidão verde, Manaus é uma das mais interessantes portas de entrada para a Amazônia. Mas está longe de ser só isso. Em meio a um certo caos urbano que pode intimidar à primeira vista, a cultura indígena encontra a Europa traduzida na herança dos tempos áureos do ciclo da borracha que, entre o final do século 19 e o começo do século 20, fez da capital do estado do Amazonas uma espécie de versão tropicalizada de Paris – guardadas as devidas proporções. Boa parte das pessoas dá uma passadinha na cidade antes de seguir viagem até algum hotel na floresta ou embarcar em uma expedição pelos rios Negro e Solimões. Mas vale muito a pena reservar pelo menos dois ou três dias para devorar, suar e amar Manaus. Eis os motivos pelos quais você vai se apaixonar:
1. O teatro mais lindo do Brasil
Inaugurado em 31 de dezembro de 1896, o Teatro Amazonas é a joia da coroa do legado e da riqueza que o ciclo da borracha trouxe a Manaus. Coroado com uma majestosa cúpula verde e amarela visível de boa parte da cidade, o edifício rosa em estilo renascentista está recheado com tudo o que havia de mais glamuroso na época — mármores de Carrara, lustres de Murano, peças de ferro esculpidas na Inglaterra, telhas francesas — e demandou a “importação” de arquitetos, pintores, escultores e outros artistas da Europa. O resultado é um teatro que não deve nada às grandes óperas do Velho Mundo e merece ser visto com calma durante uma das visitas guiadas (terça a sábado das 9h às 17h; domingo das 9h às 13h). Se a sua viagem coincidir com algum espetáculo em cartaz, vale aproveitar.
2. O Largo de São Sebastião
Endereço do Teatro Amazonas, a praça é o lugar mais preservado, policiado e bonito do Centro Histórico, cercada por vários restaurantes bacanas, o tradicionalíssimo Bar do Armando, hotéis boutique — como o Juma Ópera — e a GaleriAmazônia, que tem uma das melhores curadorias de arte amazônica da cidade. Ali perto, também vale ver o que rola no Casarão de Ideias, um centro cultural que tem café, cinema, espaço de leitura, espetáculos, galeria e um lindo jardim.
3. A riqueza dos mercados
Do Teatro Amazonas, uma boa forma de imersão no caos urbano de Manaus é caminhar pelo centrão até chegar ao Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Projetado em estilo art nouveau pelo francês Gustave Eiffel, o mesmo da torre de Paris, ele tem um sem-fim de artesanatos regionais (entre outros made in China). Não deixe de xeretar nas barracas que vendem peixes secos, como o pirarucu, e no setor onde ficam as vendedoras de produtos amazônicos de bem-estar (arnica, óleo de copaíba e afins), além de “poções” que prometem curar todos os males.
Ali pertinho, na beira do rio, a Feira Manaus Moderna é o mercadão “vida real” da cidade, interessantíssimo para quem gosta de garimpar ingredientes locais. Vale dar uma espiada na riqueza absurda que vem do rio visitando o mercado de peixes.
4. O Museu da Cidade de Manaus
Inaugurado em 2018, o museu ocupa o Paço da Liberdade, um belo edifício em estilo neoclássico que conta a história da capital amazonense e da cultura manauara de forma interativa. O acesso é gratuito e o magnífico salão que rende homenagem aos prefeitos da cidade é um dos pontos altos da visita.
5. A Praça Dom Pedro II
Com um coreto fofíssimo e o Museu da Cidade de Manaus de pano de fundo, a Praça Dom Pedro II é um dos lugares mais bonitinhos e acolhedores do Centro Histórico, ideal para fazer uma pausa ou almoçar na rua Bernardo Ramos, onde bonitos casarões coloniais abrigam restaurantes, cafés e o Centro Cultural Óscar Ramos. Repare, também, no estilo do edifício da Grande Loja Maçônica do Amazonas. Em uma das esquinas da praça, chama a atenção o Casarão da Inovação Cassina, um coworking cheio de estilo acesso grátis com agendamento obrigatório.
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6. As comidas e os drinks do Caxiri
O restaurante Caxiri, que já valeria a sua viagem a Manaus, é comandado pela chef Debora Shornik, braço direito de Paola Carosella até se apaixonar pela Amazônia e decidir ficar de vez. Com vista para o teatro, ela faz uma leitura própria da culinária indígena e regional. Uma das entradas imperdíveis é o ceviche de pirarucu. Depois, peça supreme de tambaqui com abacaxi e macaxeira recheada de queijo coalho. “Manaus todinha” é uma loucura de sobremesa: sorvete de açaí, creme de camaru, abacaxi e farofinha doce. Os drinks são um show à parte, assinados pelo barman Alê D’agostino — não dá para perder o mule amazônico e a caipirinha com cachaça de jambu.
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7. A cozinha indígena do Biatüwi
Em um dos casarões da rua Bernardo Ramos, um centro de medicina indígena — Bahserikowi — abriga, nos fundos, o Biatüwi, restaurante onde a chef Clarinda Ramos prepara receitas das etnias Sateré-Mawé e Tukano. Os caldos apimentados e a degustação de bebidas fermentadas rendem as experiências mais inéditas para quem nunca teve contato com essa cultura gastronômica. Peixes assados, como o glorioso tambaqui e o matrinxã, são deliciosos, servidos com farofa de formigas e fatias de beiju. Aberto em 2020, em meio à pandemia, o restaurante contou com o apoio e a consultoria da chef Débora Shornik.
8. O sushi amazônico do Shin Suzuran
Onde mais você conseguiria provar um sunomono de vitória-régia? Hiroya Takano faz cozinha japonesa com ingredientes amazônicos, em uma improvável combinação que dá certíssimo no Shin Suzuran. Em um salão austero, ele circula entre as mesas e explica suas criações, como sashimi de tucunaré, uramaki com vitória régia e tempurá de folha de urtiga. Também surpreende a simples e deliciosa salada de agrião com salmão e as ovas de pescada amazônica.
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9. Tambaqui de banda e x-caboquinho
Calma que tem mais comidas que valem a viagem. Uma delas é o tambaqui de banda, o peixe que é a “picanha do Amazonas”, assado, aberto, servido com farofa e vinagrete. O do restaurante Tambaqui de Banda, ao lado do teatro, é impecável. Outro hit local é o x-caboquinho: pão francês recheado com lascas de tucumã (um coquinho com uma “carne” amarelada, firme e deliciosa), banana-da-terra frita e queijo coalho.
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10. A selva no “quintal”
Não dá para não se impressionar com a proximidade entre o centro superurbano da cidade e a floresta, literalmente logo ali. Para quem não está prestes a zarpar em uma expedição ou partir para algum hotel na floresta, vale a pena fazer o passeio de barco que passa pelo famoso Encontro da Águas dos rios Negro e Solimões, interage com botos, visita uma aldeia indígena e leva até as vitórias-régias do Parque Janauari. Também há tours que passam por praias (na época em que a água do rio não está muito alta) e visitam o Museu do Seringal Vila Paraíso. Também vale ver o Musa, Museu da Amazônia.
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