A menos que eu troque o café com leite por uma vodka com Red Bull, ir a um desses beach clubs onde as pessoas já estão dançando com o dedinho pra cima antes das doze badaladas do meio dia é uma experiência traumática. Samba, suor e cerveja à luz do dia, para mim, só no carnaval. E o carnaval, como todo mundo sabe, é uma licença poética. No resto do ano, quanto mais longe as bundas, espinhas e odores alheios estiverem de mim, mais chances uma praia tem de ser classificada como paraíso.
Mas todo blogueiro deve ir aonde o povo está. Então, armei-me de valentia e fui ver o que rola no Mamitas de Playa del Carmen.
Primeira cena: uma garota mais ou menos gostosa estirada em uma daquelas camas enormes protegidas por cortinas brancas esvoaçantes (como se alguém NÃO quisesse ser visto ali). Ao lado dela, uma bolsa Louis Vuitton enorme, um prato de sushi e um cara mais ou menos malhado.
Num paraíso perdido na Polinésia Francesa, uma cama dessas faria todo o sentido, não? Especialmente se estivesse a mais de vinte metros de distância, separada por um deserto de areia branca e fofa, de outra similar. No meio da praia lotada, a cama parecia uma ilha em meio a um mar de isopores lotados de latinhas de cerveja, gordinhas tomando sol na toalha do Mickey e muchachos barrigudos sugando bebida forte de copos de plástico.
Mas e aquelas sílfides envoltas em micro saias que tinha visto desfilar pela quinta avenida na noite anterior? Por onde andariam aqueles deuses mayas que vira entrando em uma festa fechada da Calvin Klein naquele mesmo lugar, 24 horas antes? Eles TINHAM que estar ali, sob uma aura de glamour e bebendo champanhe.
Rodei por alguns instantes e desisti quando, por um descuido, esbarrei em um fortão que exibia orgulhoso as suas costas castigadas por uma indócil micose. Aquela aventura estava ficando perigosa demais.
Dizem as boas línguas que, como em muitos outros lugares do mundo, o glamour reina quando a altíssima temporada dá um respiro. Mas temo que não oferecerei a outra face.
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