Imagem Blog Achados Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas

Como é ser anfitriã do Airbnb na pandemia

Um depoimento sobre reservas canceladas, boas surpresas e novos perfis de viajantes da plataforma de aluguel de casas

Por Adriana Setti
Atualizado em 31 jul 2020, 11h27 - Publicado em 31 jul 2020, 10h40
A pandemia tornou a experiência de ser anfitrião no Airbnb bem mais emocionante (Pixabay/Reprodução)
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Sou anfitriã do Airbnb desde que a plataforma era só mato, sempre alugando minha casa inteira para viajantes enquanto não estou lá. Adoraria ter histórias bizarras para contar aqui mas, tirando haver encontrado uma cueca da gaveta de talheres, a experiência nunca me rendeu grandes emoções, graças a deus. Muito pelo contrário. No geral, fico muito bem impressionada em como a grande maioria das pessoas é cuidadosa, gentil e empática. Tirando um pé na parede aqui e uma mancha obscura no lençol ali, quase sempre a presença das pessoas não deixa rastros definitivos na casa. Lavou, tá nova.

Com a pandemia, no entanto, a brincadeira ficou um pouco mais emocionante. Quando o coronavírus entrou em nossas vidas aqui no ocidente, o Airbnb foi rápido em implementar uma politica de cancelamento por “força maior”, permitindo que todos os viajantes e anfitriões cancelassem reservas sem custo ou penalidade (para o anfitrião, fazer isso em tempos normais implica várias punições). Àquelas alturas, no distante mês de março (não parece que faz séculos?), já não tinham mais vagas para o verão na minha casinha em Menorca e eu nutria a esperança de que até junho, quando a temporada tomasse força, as coisas estivessem nos eixos. Tolinha.

Entre abril e maio, praticamente todas as reservas que tinha para o verão foram canceladas. Inicialmente, o Airbnb implementou um plano de ajudas para compensar os anfitriões por uma parte do prejuízo. No meu caso, fui beneficiada com 60 euros por uma reserva de uma semana que tinha para abril. Foi pouco, mas valeu a intenção (outras plataformas, como a VRBO, não moveram um dedo), ainda mais vendo que a própria empresa teve que demitir 25% de sua folha de pagamento mundial.

Além de perder reservas pelas questões da “política de força maior”, também venho devolvendo, por iniciativa própria, o dinheiro de alguns viajantes que não se enquadram diretamente no caso, mas que têm um bom argumento. Foi o caso, por exemplo, de um grupo de idosos, ou de uma família que incluía uma pessoa asmática e decidiu não viajar este ano.

Por outro lado, tenho ficado indignada com a falta de ética de alguns que, de última hora, mudam de ideia e tentam colocar na conta do coronavírus. Ontem mesmo, uma francesinha (que reservou em fevereiro e atravessou toda a pandemia sem se manifestar) disse que o voo dela tinha sido alterado. Com isso, ela perderia um dia de férias e, portanto, preferia não vir a Menorca. Para ela, um dia de viagem a menos. Para mim, 25% de tudo que esperava ganhar nesta temporada. Um pouco mais de empatia, s’il vous plaît!

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Grande parte das reservas que estão “vingando” foram feitas em junho, quando a Europa começou a ser desconfinada: baixamos um pouco o preço e voltamos a receber uma enxurrada de novas solicitações. Mas são pessoas com um perfil diferente ao qual estávamos acostumados. Se antes o nosso público era formado por famílias de franceses, italianos e ingleses, este ano predominam os jovens espanhóis, confirmando as tendências atuais de viagem: destinos nacionais, com os destemidos xóvens viajando mais do que os seus pais e avós. Devido à necessidade, também aceitei pessoas sem referências de outros anfitriões, viajando com Airbnb pela primeira vez, coisa que nunca tinha feito.

Ontem, pela primeira vez na nossa história de anfitriões, estivemos prestes a expulsar um grupinho de moleques mal educados da nossa casa. Perfil: vinte e poucos anos e novatos na plataforma. Reservaram para quatro, vieram em seis (na surdina), passaram a primeira noite berrando, ouvindo música alta a azucrinando os vizinhos. Não atendiam telefone, me bloquearam no whatsapp e detonaram algumas coisas da casa. Ter que lidar com esse tipo de coisa é o menor dos problemas diante de tudo que está acontecendo no mundo (e, do jeito que a coisa vai, é melhor isso do que nada, mesmo tendo que pintar uma parede depois). Mas, certamente, não vou mais aceitar pessoas sem referências. Outra lição que levo da pandemia.

Menos mal que, no lado belo da força, também há pessoas que, mesmo podendo cancelar, transferiram a viagem para o ano que vem, mantendo a reserva como uma forma de mostrar apoio. Quase todos que tiveram esta iniciativa são ingleses e sou extremamente grata.

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Nesse experimento de ser anfitriã na pandemia, o fator que tem me deixado realmente impressionada é a total falta de preocupação dos hóspedes com a questão da desinfecção – e isso em todas as faixas etárias. Ninguém me perguntou se eu havia implantado novos protocolos de limpeza, quais produtos venho usando e coisas do tipo. Fora chegar pra fazer o check-in de máscara (o que é obrigatório), paranoia zero. Eu é que tomei a iniciativa de informá-los sobre todos os cuidados que venho fazendo, quase sempre recebendo respostas desinteressadas: “ah, tá…”. Tenho deixado luvas, desinfetante e álcool gel para os viajantes. Quase ninguém usa. Novo normal? Cada vez mais, nesta reabertura pós-quarentena, o ser humano demonstra que quer mais é fazer aquilo que sempre fez.

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