A passos silenciosos, duas dezenas de elefantes se aproximam do açude. Entre eles, há dois bebês transbordando fofura. Enquanto a família mata a sede, outro grupo de paquidermes se aproxima. Pacientemente, os recém-chegados param a alguns metros da fonte de água, esperando a vez de molhar a tromba. De camarote para o espetáculo de cortesia entre as manadas, eu também me refresco do calor da savana, imersa na piscina de borda infinita da minha suíte, munida de um espumante. Presenciar tudo isso de perto não foi uma questão de sorte. Todo santo fim de tarde é assim no novo Four Seasons Safari Lodge – e só lá.
O LUGAR
Localizado na região central do Serengeti (pertinho da pista de pouso de Seronera, a mais “movimentada” do parque), o Four Seasons não é o único hotel de luxo da região. Seu mérito consiste em ser o primeiro resort arrasa-quarteirão. A diferença está no tamanho e na complexidade de sua infraestrutura. No universo dos lodges de safári de alto padrão, o número de quartos não costuma passar de 20. Já o Four Seasons conta com 77 acomodações – entre elas 12 suítes e três villas com piscinas privadas. Para entreter toda essa gente, a área social também é, para os parâmetros do Serengeti, um colosso. De uma ponta a outra, o hotel mede quase um quilômetro, repartido em várias alas conectadas por bonitas plataformas de madeira em meio à vegetação.
A INFRA
A piscina de borda infinita, cercada de espreguiçadeiras esparsas, praticamente se funde com o açude onde os elefantes se esbaldam. O edifício central do hotel, de três andares, abriga o lobby, dois restaurantes, sala de degustação e adega de rótulos sul-africanos, biblioteca, academia, um kids club equipadíssimo e salões grandiosos. Também é digno de nota o Discovery Center, um mini-museu que tem uma exposição extremamente bem feita e interativa sobre a natureza e a história da região e recebe palestras de cientistas, fotógrafos e ambientalistas. Ainda que a tentação de passar o dia escarrapachada na piscina fosse grande, assisti a uma palestra interessantíssima do fotógrafo de natureza Nick Garbutt – justamente sobre como fotografar melhor durante um safari. A sala estava cheia e os hóspedes participaram entusiasmadamente com perguntas e comentários.
GASTRONOMIA
O café da manhã é fartíssimo, com um bufê infinito e pratos quentes preparados na hora. Menção honrosa aos pães, certamente os melhores que provei durante a temporada na África. O mais aconchegante dos restaurantes é o Boma Grill, que fica destacado do edifício principal e imita a praça central de uma típica aldeia africana (“boma” em várias línguas africanas). Ali, a cozinha prepara grelhados corretos e receitas locais como costela de porco com cardamomo e chutney de pêssego. O tchans é a ambientação, com uma fogueira ao redor da qual acontece um simpático espetáculo de dança da lendária tribo Massai. Um detalhe peculiar: jovens massai foram recrutados na época da construção do hotel, para proteger os operários dos animais (você já pensou em como é complicado construir algo assim no meio da savana repleta de leões?). O resort ficou pronto e o grupo acabou sendo contratado. Hoje em dia, eles tanto fazem um pouco de figuração, vestidos em trajes típicos, como protagonizam o show e acompanham os hóspedes pelas passarelas de madeira que levam da área social aos quartos, onde vira e mexe pode pintar um animal. São bons de papo e extremamente elegantes, com seus mantos xadrez e penteados incríveis. Todas as refeições e bebidas estão incluídas no preço da diária.
DETALHES QUE FAZEM A DIFERENÇA
O staff consegue a façanha de chamar cada hóspede pelo nome. O chefe dos garçons, Almas, tinha uma história de vida interessantíssima e rendeu conversas inesquecíveis – além de ser um verdadeiro lorde. Jantares românticos podem ser organizados em lugares como a ilhota no meio da piscina ou o terraço da suíte.
O SPA
O spa se divide em seis bangalôs espaçosos e com vista para a savana. O cardápio tem tratamentos tradicionais e outros para surpreender até quem já rodou os spas do mundo. O suprassumo é a massagem Kifaa, onde os nódulos de tensão são esmagados por um rungu, o bastão típico do povo massai (de madeira, com uma bolota na ponta), usado para caçar.
OS QUARTOS
Há duas categorias de quartos, ambos de 55 metros quadrados. Os do andar superior têm terraço maior e uma vista mais ampla para o Serengeti. Já as suítes, contam com uma sala anexa com lavabo, sofás e chaises, e um terraço dos sonhos com infinity pool e sofás. O resort ainda tem três tipos de villas nababescas, com vários quartos, piscina e staff. Uma delas tem até academia privê – uma coisa de louco. Tanto nas villas quanto nas suítes, a grande sacada são as paredes de vidro que se abrem (elas praticamente desaparecem!), permitindo uma real integração com a natureza – se você bobear, um babuíno pode aparecer para “recolher” as frutas deixadas como cortesia. A decoração é sóbria, com muita madeira, couro e peças de arte e artesanato africano. Todas as catedorias estão equipadas com TVs de LED e wi-fi (pago à parte).
O ESQUEMA
Four Seasons funciona de uma maneira um pouco diferente dos lodges de safári – e eis aqui mais um motivo pelo qual ele é, de fato, um resort. Os hóspedes podem incluir os game-drives (safáris de 4X4) na diária, ou pagá-los à parte. Isso porque muita gente (pelo que pude observar) está lá mais para curtir o hotel do que para fazer safári o tempo todo. Os rangers (guias de safári) não assumem o papel de anfitriões – eles mal entram no hotel, aliás. Você convive com eles apenas na hora do passeio.
O SAFÁRI
Estar no Serengeti é a crème de la crème da experiência de safári. Em apenas um game drive pelos arredores do hotel, vimos incontáveis hipopótamos, leopardos pousando para fotos, leões trepados em árvores, elefantes, mares de zebras, búfalos… É definitivamente algo que se pode chamar de “experiência” – o que pode ser ainda mais matador se a sua viagem coincidir com a migração dos gnus, no meio do ano. Sair da propriedade em que o hotel se encontra e entrar no parque nacional do Serengeti, onde os animais se concentram, demora meia hora. Para que a empreitada valha a pena, os game-drives são mais longos do que o normal (5 ou 6 horas ao invés de 3 ou 4), o que pode ser um pouco cansativo. Ou seja, não é viável fazer mais do que um por dia, como acontece na maioria dos lodges.
Indicado para: Quem gosta de grandes espaços, de um ambiente sociável e da praticidade de estar num grande resort. Para quem viaja com crianças de mais de 6 anos de idade, que contam com programação especial.
Contra indicado para: Quem prefere o clima intimista e a dinâmica de um lodge de safári clássico.
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