Passar a lua de mel em Veneza pode ser lindo. Ou não. O que pode estragar a viagem mais esperada da sua vida? Hotel fora de contexto, perrengues logísticos, mico na gôndola… A lista de empecilhos pode ser vasta, mas se dar mal não é inevitável. Investindo um pouco mais de dinheiro (é a sua viagem de lua de mel, certo?) e estando com as dicas certas na mão, Veneza é aquilo tudo que promete: a cidade mais romântica do mundo.
Chegue de táxi-barco
Eis um dinheiro extremamente bem gasto e a receita para uma chegada triunfal na cidade. As lanchinhas forradas de madeira, com bancos de couro, parecem coisa de filme do 007. Coloque a cabeça para fora do teto solar e mergulhe num universo onde as ruas são líquidas: “a mais inverossímil das cidades”, como escreveu Thomas Mann. Ver a Piazza San Marco se aproximando a partir do mar é um momento de glória.
Os táxis partem diretamente dos píers da estação de trem e do aeroporto, e desembarcam os passageiros em seus respectivos hotéis. Todos os hotelaços de Veneza têm os seus próprios pontos de atracagem. Como alternativa, você pode pegar um vaporetto lotado e, uma vez em terra firme, arrastar a sua mala até o seu hotel no meio da multidão (mas ninguém merece fazer isso na lua de mel, certo?). Compre o tíquete do táxi on-line. Quase sempre sai mais barato do que agendar através do hotel.
Escolha um hotel classicão
A acomodação na cidade consumirá a maior parte de seu orçamento. Mas hospedar-se num legítimo palacete veneziano é uma experiência de vida – deixe os hotéis modernos para outra ocasião. Estar numa suíte do todo-poderoso hotel Bauer, de camarote para a Santa Maria della Salute e o Grande Canal, foi o ponto mais crucial da minha última viagem.
O fato é que o frenesi das ruas cansam. Por isso, é um luxo poder contar com um refúgio a poucos passos da Piazza San Marco, que funcione como uma extensão da cidade em termos de ambiente e arquitetura. Sobretudo se, da janela do quarto ou de amplos terraços sobre o mar, for possível curtir Veneza sem a interferência da multidão.
O edifício do século 18 que abriga o Il Palazzo é um espetáculo. Por fora, as paredes de tijolos à vista são enfeitadas por lindas janelas arqueadas. O terraço do bar, iluminado com velas à noite, é o melhor lugar para contemplar a fachada (com um bellini em mãos, per favore). O interior é puro exagero veneziano: paredes forradas de seda, lustres de cristal de Murano, pisos de mosaico, mármore, antiguidades, espelhos (alguns naturalmente escurecidos pelo tempo), tapetes suntuosos, porcelanas chinesas. Em outras partes do mundo, a reunião de todos esses elementos num mesmo lugar seria arriscadíssima. Em Veneza, tudo é genuíno e faz sentido.
Os corredores que levam aos quartos são labirínticos, infinitos e misteriosos. Dentro das suítes enormes, seda, antiguidades e estampas venezianas voltam à cena. A minha tinha pelo menos 30 metros quadrados cobertos com carpete bem cuidado. Num ambiente apartado do dormitório (com cama king-size e cabeceira faustosa), havia sofás posicionados diante de enormes janelões. No banheiro, gigantesco e coberto de mármore, reinam as amenities naturais Santa Maria degli Angeli (delícia).
Também fiquei muito bem impressionada com o jantar no restaurante De Pisis, no andar térreo do hotel, voltado para o Grande Canal. Jamais vou esquecer o bacalhau ao estilo veneziano salpicado com ervas e os raviólis de lagosta com bisque apimentado.
Outras opções arrasadoras no estilo clássico em Veneza: Cipriani, Gritti Palace, Danieli e San Clemente Palace. Custa caro? Oh, yeah. Mas é a sua lua de mel. É Veneza. É tudo ou nada.
Reflita sobre a gôndola
Passear de gôndola pelo canais de Veneza é como andar de charrete no Central Park ou alugar uma limusine em Las Vegas. Como tudo que já ultrapassou a barreira do clichê, o programa pode ser muito legal ou muito ridículo, dependendo das expectativas e do senso de humor do casal. Anos atrás, escrevi uma espécie de manual da gôndola (usando amigos em lua de mel como cobaia) que você pode consultar clicando aqui.
Caso você prefira algo mais alternativo (recomendo entusiasticamente), é bom saber que para navegar em Veneza não é preciso ouvir Vooolaaaarreee. A ótima TopVenice, por exemplo, organiza vários tipos de roteiros de barco (entre outros programas fora do convencional). Testei a versão mais curta, de duas horas, do Be a Venetian, um giro pela “Veneza real”, fora dos canais mais caóticos e batidos. Ou seja, fora da rota das gôndolas e… no barco de um pescador! Nossa guia, simpática, jovem e fluente em inglês, foi a legítima veneziana Giordana Losi, que respondeu incansavelmente centenas perguntas sobre a cidade e explicou coisas interessantíssimas sobre a história e a vida cotidiana em Veneza.
Foi como entrar no backstage de uma ópera. Entre outros pontos insólitos, passamos pelo cemitério (sim, os venezianos também morrem), que fica numa ilha à parte, pela prisão e pelo estaleiro onde as gôndolas são construídas e consertadas. Não é incrível? O passeio terminou com chave de ouro no bar de vinhos Cantinone Già Schiavi, que descrevo com água na boca no post passado (clique aqui para ler). A TopVenice conta com guias brasileiros. Conheci pessoalmente (e recomendo) o Leandro Zaffalon. O gaúcho sabe muito sobre a cidade e pode ser de grande ajuda se você preferir o conforto de ter as explicações em português.
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