Mercado de Sant Antoni: a novidade do ano em Barcelona
Depois de nove anos de reformas, ele será reinaugurado no dia 23 de maio
Demorou, mas o Mercat de Sant Antoni chegou. A obra sofreu tantos atrasos e reviravoltas que já começava a ser comparada à Sagrada Família, em construção desde 1882. Foram nove anos de trabalho turbinado com um orçamento intergaláctico que acabou ultrapassando €80 milhões. Deu até tempo do bairro ao redor hypar, gentrificar e se tornar uma das zonas mais cool da cidade.
Por que tanto auê? Em primeiro lugar, porque o barcelonês venera os seus mercados. Em pleno século 21, dá gosto de ver como eles ainda são instituições importantíssimas de seus respectivos bairros, onde os moradores enchem seus carrinhos de feira com produtos frescos e de qualidade. Em segundo lugar, porque este é o mais espetacular da cidade em termos de estrutura. Construído em 1882 em forma de cruz, e lindamente adornado em estilo modernista, ocupa uma quadra inteira do pedacinho do Eixample que ficou conhecido pelo próprio nome do mercado.
Com a reforma, o Sant Antoni foi incrementado estacionamentos subterrâneos, ar condicionado e uma praça espetacular ao seu redor, que permite um recuo para contemplar toda a beleza da estrutura. A recauchutagem se estendeu por várias ruas adjacentes, que foram fechadas para o trânsito e ganharam calçadas mais amplas e ajardinadas.
A nova versão do mercado terá 235 estabelecimentos, dos quais 52 serão dedicados a produtos frescos, 105 para as lojinhas de roupa e 78 à feira de livros dominical. Ainda não se sabe ao certo o que será feito com a sala da qual se vê as escavações da antiga muralha do século 17, descoberta durante as obras. Mas parte do subsolo foi alugada a uma rede de supermercados e outra a uma academia low cost.
As discussões sobre gourmetizar ou não o Sant Antoni (com bares e restaurantes ao estilo dos mercados de San Antón, em Madri) foram intermináveis. Em uma época que a cidade questiona fervorosamente os efeitos do turismo de massa, prevaleceu a opinião dos que preferem mantê-lo como um serviço para a população – em outras palavras, que continue sendo o mercadão do bairro. Por isso, haverá apenas três bares e seis postos de comida com espaço para degustação, esses últimos sem lugar para sentar.
Ainda assim, temerosos de que o lugar tenha o mesmo destino do Mercado de la Boquería, onde a quantidade de turistas acabou por espantar a clientela de toda la vida, os vendedores estão trabalhando em um folheto que instruirá os visitantes desavisados para que não se amontoem nos corredores ou dificultem a tarefa comercial das bancas de alimentos.
Se você esperava mais badalação, pense por outro lado. A opção de não sucumbir ao turismo beneficia o visitante que preza a autenticidade. Ainda que a ideia dos mercados gourmetizados seja bacana, tenho a impressão de que a fórmula está cansando. Na semana passada, visitei um novo representante do gênero em Tel Aviv e, mesmo por lá, tive uma baita sensação de dejá vù: quase nada a acrescentar em relação ao que vi em Sevilha, em Madri, em Los Angeles e em Lisboa e tantas outras cidades nos últimos anos.
Para ser incrível, basta que o mercado de Sant Antoni seja ele mesmo, com sua esplêndida arquitetura modernista, seus vendedores e sua gente de sempre. Para tomar drinque no pote de vidro sentado no sofá de pallet, há 379 bares hipster em um raio de cinco quarteirões.
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