Fuxicando com lupa atrás de acomodação boa e barata em Byron Bay, a praia mais “quero ficar aqui pra sempre” da Austrália, topei com um dos maiores achados da viagem no AirBnb. Vejam que ideia genial. A simpaticíssima El, fã de badulaques vintage, se apaixonou perdidamente por um trailer (que os australianos chamam de caravan) dos anos 60 que avistou estacionado numa fazenda. Comprou, arrastou a “caixinha” até um terreno de 800 metros quadrados numa colina ventilada, restaurou lataria e piso, pintou e incrementou o interior com almofadas coloridas, edredon fofinho e mesinha de perna palito. Para completar, agregou uma cozinha ao ar livre super simples e funcional e um banheiro/lavanderia. No fim das contas, nada poderia ter combinado mais com o espírito de Byron Bay do que esse cafofinho pseudohippie-retrô (clique aqui para ver os detalhes).
Depois de quase duas semanas viajando por praias pacaaaatas, eu estava clinicamente precisando de um pouco de boemia – devo confessar que o excesso de vida saudável e tranquila dos australianos me provoca reações adversas. Que alegria chegar ao pub Railway Friendly Bar. Foi quase como entrar num túnel do tempo e voltar para a Maresias dos anos 80-90 (tem algum ancião aí na audiência que, assim como eu, frequentou o Shaolim?), só que melhorado. No palco, alguns dinossauros goteavam suor sobre suas guitarras. Enquanto isso, uma quantidade impressionante de gente bronzeada e feliz de todas as idades dançava enlouquecidamente. E dá-lhe calcanhar encardido, chinelão, cabelos lindamente embaraçados, corpos esculturais, vestidinhos made in India.
E por que todos amam Byron Bay? Em primeiros lugar, porque o lugar é lindo. A Costa Leste da Austrália, entre Queensland e Nova Gales do Sul, é um festival de praias matadoras. Mas ali a natureza foi ainda mais gente boa. A areia é mais fina e branca, o litoral é mais recortado, a água é mais cristalina, os morros são mais verdes. A ocupação da região também faz toda a diferença. Muita gente realmente mora ali porque optou por um estilo de vida alternativo, inclusive uma animada comunidade internacional. A praia está longe de ser um balneário de verão que mingua no inverno. A quantidade de restaurantes e cafés charmosos é um plus – e praticamente todos optaram por não ter internet wi-fi para que as pessoas não sejam engolidas pelos seus celulares.
Pela fama e pelo hype, achei que Byron Bay já tivesse hippie-chicado e muvucado além da conta. Mas não. Pense bem: a Austrália tem 20 milhões de habitantes e está longe de praticamente tudo. Além do mais, é um país-referência quando o assunto é sustentabilidade: não há construções sem noção avançando sobre a praia ou roendo as encostas. Ou seja, ainda que Byron seja a provavelmente a praia mais bombada da Austrália (fora da Gold Coast e das grandes cidades), é quase um retiro de meditação para quem está acostumado com os lugares da moda no Brasil. Sinto inveja de quem andou por aquelas areias de biquíni de crochê e flor no cabelo nos anos 70. Mas, de alguma forma, o espírito “alma livre” do lugar ainda vive. Yoga, surfe, muito suco verde, muita quinua e muita chia. Mas as calçadas estão cheias de músicos e artistas e os bares fervilham. Também é praxe que um bando de loucos dance na praia numa festa à base de fones de ouvido conectados por bluetooth a um DJ que pira dentro de uma Kombi. Deu pra entender?
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