O assunto desta semana por aqui é a recomendação do governo britânico para que seus cidadãos só viagem à Espanha por motivos essenciais – o que não inclui dourar seus corpos alvíssimos ao sol. O anúncio vem acompanhado da obrigatoriedade de fazer quarentena por 14 dias ao retornar de todo o território espanhol, medida que pegou de surpresa milhares de britânicos em férias no país. Em pleno verão, com o turismo se arrastando rumo a uma lenta recuperação, a notícia veio como um soco na cara do setor, que representa 14% do PIB do país ibérico. Grandes operadoras do Reino Unido já suspenderam suas operações na região e milhares de voos e viagens foram cancelados.
Como vocês devem estar acompanhando, a Espanha vem enfrentando novos focos de contágio. A região mais afetada é a Catalunha, que voltou a uma espécie de confinamento light desde a semana passada. Navarra e Aragão são outros estados com situações preocupantes. Faz sentido, portanto, que países como a Alemanha, a Bélgica e a França tenham recomendado a seus cidadãos que evitem essas zonas específicas. O caso do Reino Unido, no entanto, coloca toda a Espanha em um pacote só, excluindo do mapa de destinos seguros inclusive os arquipélagos das Baleares e das Canárias, extremamente dependentes do turismo britânico, onde não só a situação está totalmente sob controle, como é muito mais favorável que a do próprio Reino Unido (que, por sinal, foi um dos países europeus com gestão mais errática e criticada da pandemia). Aqui em Menorca, onde 40% dos turistas que visitam a ilha anualmente são britânicos, a notícia já está acarretando fechamento de hotéis (entre os poucos abertos) e demissões.
Na primeira onda da pandemia, onde a situação mundial era de descontrole total, restringir a circulação das pessoas e fechar fronteiras era essencial para frear o contágio – como estamos cansados de saber. Mas, nesta fase de recuperação, o “cancelamento” de um país como um todo pode ser muito nocivo. O precedente criado pelo o Reino Unido pode ser especialmente prejudicial a nações de dimensões continentais, como o Brasil, onde a pandemia cumpre ciclos extremamente desiguais entre os estados.
Em um futuro (esperamos que próximo e lindo), com o Brasil já tendo a epidemia de coronavírus controlada, é muito possível que certas regiões venham a ter recaídas, enquanto outras se mantenham como destinos seguros. Caso o método britânico ganhe força, no entanto, as fronteiras do mundo não só podem demorar muito mais tempo para se abrir aos brasileiros, como uma eventual situação de piora em São Paulo ou Minas Grais pode acabar bloqueando a retomada do turismo internacional na Amazônia ou no Pantanal.