Temple Bar, em Dublin: óbvio, turístico e… legal pra caramba
Esses lugares obviamente turísticos lotados de bares e restaurantes costumam ser o maior mico: caros, fakes, cheios demais, entupidos de famílias barulhentas e bêbados, sem alma. Encaixam-se nessa categoria:
O abominável Puerto Madero de Buenos Aires
O horrendo Puerto Olímpico de Barcelona
O insuportável Pelourinho de Salvador
As terríveis Docas de Lisboa
… e muitos outros lugares feitos para serem supostamente cool.
A VT deste mês traz uma reportagem sobre Londres, São Paulo e outras cidades vibrantes do globo terrestre. Entre elas, Dublin. Pois acertou em cheio. A capital irlandesa ferve. E, no verão, pega fogo, ainda que os termômetros se recusem terminantemente a passar de 20 graus centígrados e que o guarda-chuva seja um acessório indispensável.
Morando em Barcelona, estou acostumadíssima a ver ruas lotadas e bares entupidos de gente de domingo a domingo. Ainda assim, fiquei boba com a fúria baladística dos dubliners. A começar pelo horário em que as “atividades” são iniciadas no final de semana. Mal soaram as doze badaladas do meio-dia na linda catedral de Saint Patrick e centenas de pints de Guinness já estão a postos. Não à toa, muitos pubs servem café da manhã. É unir o útil ao agradável.
O rio Liffey divide a cidade em duas partes. Ao sul, ficam praticamente todas as principais atrações do turismo “lerê” da cidade, como diria o mestre Ric Freire. A listinha das paradas obrigatórias desta região inclui o Trinity College e sua triunfal biblioteca, o lindo parque de Saint Stephens Green e a fábrica da Guiness. Já ao norte do Liffey, as construções são mais modestas, a cidade assume um certo ar decadente e os turistas quase desaparecem.
Segundo muitos “entendidos”, a verdadeira alma irlandesa está ao norte. E pode até ser. Mas depois de cinco minutos na cinzenta margem norte do rio, já sentia saudades de Temple Bar. Por mais turística que seja essa região de ruazinhas estreitas de paralelepípedos , ela tem um astral bom demais.
Músicos de rua vindos principalmente do Leste Europeu (a Irlanda foi um dos países mais receptivos aos novos países-membros da UE depois da ampliação de 2004) dão shows incríveis, uma gente bonita e alegre entorta o caneco 24 horas por dia, os PUBs são bonitos (o mais bacana é o que se chama Temple Bar mesmo), confortáveis e bem atendidos, a gastronomia é cosmopolita, mercadinhos de design e outras cositas más colorem as ruas… enfim, AMEI!
Em certo momento, um senhor irlandês que ia passando pela rua se juntou a um cantor de rua e deu uma canja fenomenal numa típica cantiga irlandesa. Fiquei tão encantada que fui dar os parabéns. “Se eu tivesse 40 anos a menos, estaria apaixonado por você”, disse ele me dando um beijinho na bochecha. Vale ou não a viagem? Dar o braço a torcer em favor do óbvio de vez em quando não faz mal a ninguém.