Triste fim da cachorrada feroz que habita as ruas de Bucareste, na Romênia
(Faço uma pausa rapidinha nos posts sobre o norte da Espanha para comentar uma notícia surreal que acabo de ler)
A caminho do hotel em Bucareste, o simpático motorista do transfer que eu havia contratado (pegar um táxi no aeroporto é a mais clássica das roubadas romenas) me deu várias dicas. Uma delas foi bizarra: “olha, melhor evitar esse parque aqui, porque é um dos lugares da cidade onde matilhas de cães ferozes atacam as pessoas”. O parque em questão ficava justamente ao lado do meu hotel e em frente ao edifício do parlamento, uma das principais atrações turísticas da cidade. E, até aquele momento, eu julgava que pegar um atalho por ali seria a melhor maneira a chegar ao centro antigo. “Diz a prefeitura que deu uma limpada na área, mas de qualquer forma é bom não bobear”, completou ele.
Tem tudo para ser lenda urbana. Mas não é. O parlamento romeno acaba de aprovar uma medida que permitirá que a prefeitura de Bucareste inicie uma caça sistemática aos vira-latas da cidade, para seu extermínio. A ideia é um horror, e vem gerando uma polêmica sem fim. Mas é, também, uma solução desesperada.
Uma alternativa bem mais dócil não funcionou: a adoção de cães sem dono já é extensamente praticada na cidade (dizem que até o presidente romeno tem alguns ex-moradores de rua). Mas não há amor pelos animais que dê conta do recado. PASME: são 65 mil cachorros vagando pela metrópole de 2 milhões de habitantes, responsáveis por 16 mil ataques ao ano (uma média de 43 ao dia!). Recentemente, um menino de 4 anos foi morto, o que acabou levando à aprovação da medida drástica.
A cachorrada fora do controle é mais um efeito colateral surreal do comunismo. Quando o regime foi instaurado, teve início a desapropriação de casas para a construção dos famigerados blocos de edifícios comunitários (que hoje em dia se putrefazem nos bairros menos centrais da cidade). Obrigadas a se mudar a esses apartamentinhos, muitas famílias tiveram que deixar pra trás os seus cães. A vida na rua foi fazendo que, de geração em geração, os animais fossem retomando os seus instintos selvagens – e ferozes. E deu no que deu.
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