Achados

Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Viajar com responsabilidade pode ser mais seguro do que vacilar em casa

Ficar em um hotel onde os novos protocolos de saúde são cumpridos pode ser menos perigoso do que encontrar amigos no bar da esquina ou ir a uma festa

Por Adriana Setti
Atualizado em 14 set 2020, 19h14 - Publicado em 14 set 2020, 13h01

Menorca, no arquipélago das Baleares, passou mais de três meses fechada para o turismo. O esforço deu resultado e a ilha conseguiu zerar os casos de coronavírus por 40 dias. Com o fim do estado de emergência na Espanha, no dia 23 de junho, a vizinha de Mallorca reabriu para espanhóis e europeus, voltando a receber pessoas de lugares onde a crise sanitária ainda não tinha sido totalmente domada. Só em julho, chegaram 120 mil visitantes (sendo que a população da ilha é de 96 mil pessoas) e, com eles, o medo que tivéssemos uma explosão de casos “importados”. Ao final de agosto, no entanto, um número surpreendeu a todos: 76% dos casos positivos* de Covid-19 eram de moradores da ilha e não de turistas. Do dia 23 de junho até hoje 355 pessoas foram diagnosticadas com a doença, sendo que no momento em publico este texto há apenas 105 casos ativos e 6 estão hospitalizados. Não houve mortes por Covid-19 em Menorca ao longo do verão.

É provável que muitas das pessoas com as quais cruzei por aqui estivessem fazendo sua primeira viagem após meses de lockdown em cidades como Madri e Milão, epicentros da pandemia na Europa. É provável, também, que elas tenham perdido pessoas próximas e que seus pais e avós ainda estejam trancados em casa com medo da pandemia. Por essas e outras, o que vi ao meu redor, ao longo de todo o verão, foram viajantes cuidadosos, circulando de máscara até quando o uso não era obrigatório, como por exemplo na praia, e tomando cuidado em manter o distanciamento e respeitando as medidas de higiene e segurança.

Já os moradores da ilha, que vinham de uma realidade menos drástica da pandemia (pouco mais de uma centena de casos), baixaram a guarda. Cansei de ver grupos enormes de jovens sem máscara fazendo festinha, reuniões familiares com meia centena de pessoas, inclusive idosas, e outras práticas insensatas para o momento. Ou seja, ainda que, muito provavelmente, o coronavírus tenha voltado à ilha com algum turista, os maiores responsáveis por fazê-lo circular foram os moradores. Não à toa, grande parte das novas restrições impostas pelo governo das ilhas Baleares esta semana dizem respeito aos hábitos locais e não afetam diretamente os turistas.

O que o caso de Menorca demonstra é que viajar de maneira responsável pode ser mais seguro do que adotar comportamentos temerários no quintal de casa. Cada um terá o seu tempo para voltar a pensar em viagem. Mas o fato é que uma pessoa que participa de uma festona sem máscara na casa de um amigo, mas tem medo de ficar em um hotel onde todos os novos protocolos de saúde são cumpridos, precisa rever suas escolhas.

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