Acordar às 4 e meia da manhã só não é a pior coisa na vida de um ser humano quando a causa é nobre – ou bem mais do que isso. O ritual mais fascinante da Capadócia se repete a cada madrugada. Pontualmente às 5 horas, as vans passam pelos hotéis recolhendo os turistas que embarcarão em um dos 70 globos que levantam voo, em média, 300 dias por ano.
Poucos lugares do mundo oferecem condições climáticas tão propícias e regulares para o balonismo. E talvez nenhum outro ofereça um cenário mais estarrecedoramente mágico e desconcertante para isso.
O ritual começa com um café da manhã nos arredores de Göreme, em volta da fogueira, com bolo, torradinhas e bebidas quentes para espantar o frio intenso da noite (como a região é semi-desértica, a temperatura cai bastante depois do pôr do sol). Ali ao lado, as pick ups descarregam o equipamento: a cesta, o globo, os ventiladores gigantes. Começa o processo de montagem (que aos meus olhos leigos pareceu ser uma coisa dificílima para ser feita todo santo dia). E quando o sol começa a nascer, destacando o contorno das pedras em formatos absurdos em contraste com o céu progressivamente azul, cada grupo de neobalonistas vai tomando o seu rumo.
A caminho do nosso campo de decolagem, outra vez a bordo da van, a ficha começa a cair. “Meu deus, vou ficar a 500 metros do chão dentro de uma cesta sustentada por uma bexiga gigante”. Começo a ficar muito nervosa com a ideia. Mas os primeiros balões começam a sair do chão, lá longe, numa tranqüilidade que faz baixar os meus batimentos cardíacos… até ficar frente a frente com o nosso balão: o único, de toda a Capadócia, que aparentemente estava enfrentando uma certa dificuldade.
“ALI, GET THIS FUCKING ROOOOPE!” (“Ali, segura essa maldita cordaaaaa!”), urrava um troglodita com sotaque britânico para um pobre cidadão que corria e saltava, tentando alcançar uma corda rebelde, enquanto o balão ameaçava levantar voo sozinho. “Blody monkey!”, continuava o ogro, enquanto deferia algumas bofetadas na cabeça do desafortunado Ali. “Meu deus, vou voar com esse monstro”, pensei aterrorizada.
Quando finalmente a situação foi resolvida, tivemos aproximadamente um segundo e meio para pular dentro da cesta, uma vez que o vento estava forte e a equipe, liderada pelo monstro do lago Ness, estava tendo dificuldades em manter a geringonça no chão. Depois que o último passageiro (éramos 20) se acomodou, o nosso capitão-caverna (Andy, um inglês nada meigo que voa há 24 anos) iniciou um breve treinamento para a posição de pouso e decolagem, algo com grau de dificuldade zero.
Então tiramos os pés do chão e fomos imersos em uma outra realidade fantástica, onde tudo é silêncio, suavidade e beleza.
Voamos. E a lua cheia, danada, ainda estava ali.
Veja as fotos abaixo, porque uma imagem vale mais…
No próximo post, as questões práticas dos voos de balão na Capadócia.
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