Pertenço ao time que gosta de conhecer os lugares – especialmente os centros históricos – caminhando bastante. As cores e formas das construções, o jeito de andar do povo, as figuraças que você topa pelas ruas, o cheiro: tudo fica mais nítido. Há o risco de ser assaltado? Sim, sempre, mas a gente vive para correr riscos, né!
Toda essa introdução para dizer que o assunto desse post é uma caminhadinha básica por um lugar que gosto muito e sempre me falam para não marcar bobeira: o Recife Antigo, na região central da “Veneza Brasileira” (um dos apelidos mais nada a ver que existem, só para deixar registrado).
Sede do porto de Recife, o bairro passa por uma lenta revitalização que deixa a sensação de não ter fim. Todo o desenvolvimento feito pelos holandeses e portugueses foi por água abaixo com a chegada do Porto de Suape, nos anos 80, transferindo grande parte da economia para outro canto da costa pernambucana.
O turismo acaba agradecendo, afinal, os palacetes e sobrados viraram centros culturais, os armazéns transformaram-se em lojas e museus. Isso posto, bora caminhar? Pode ficar tranquilo, tudo é muito próximo, não deve dar nem um quilômetro de andança. Também não vale a pena fazer o roteiro às segundas-feiras, quando várias atrações fecham.
Não há nome mais sugestivo para começar senão o Marco Zero. Oficialmente chamado de Praça Barão do Rio Branco, é um calçadão frente-mar com um enorme painel colorido no chão, sinalizando uma rosa dos ventos.
De lá se avista o dique onde está o Parque de Esculturas Francisco Brennand, com 90 esculturas do visionário artista plástico. Se quiser ver as obras mais de perto, barqueiros levam até lá cobrando R$ 5 pela travessia.
Literalmente ao lado do Marco Zero, o Centro do Artesanato de Pernambuco ocupa um dos antigos armazéns do porto. A organização é impecável, todo setorizado, com monitores a te auxiliar nas compras. Tem de tudo por lá: a banda de pífanos, as galinhas d’angola que são símbolo de Porto de Galinhas, rendas, bordados, arte sacra…
Atravessando a Avenida Alfredo Lisboa, sempre há boas exposições na Caixa Cultural Recife, num palacete de 1912.
Falemos a verdade, não caminhou nada até agora, né! Siga para a Rua Bom Jesus, primeira paralela da Alfredo Lisboa. O logradouro mais charmoso do Recife Antigo tem sobrados coloridos e calçamento de paralelepípedos com o antigo trilho dos bondes. Domingo à tarde ainda rola uma concorrida feirinha de artesanato.
Na Rua do Bom Jesus, ficam a mais antiga sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel (fechada às segundas e sábados e no domingo funciona somente à tarde) e a Embaixada dos Bonecos Gigantes que guarda os personagens principais do carnaval olindense – apesar do rico acervo, devido ao espaço, apenas 60 peças são expostas.
Numa altura dessas do passeio, a fome já deve ter dado algum sinal. Se for num dia de semana, siga até a Praça do Arsenal da Marinha, ali do ladinho.
Seu endereço é As Galerias, uma lanchonete tombada como Patrimônio Cultural, Gastronômico e Imaterial de Recife. Tudo por causa de uma vigorosa bebida criada no local, o maltado, feita com sorvete de creme, leite maltado e malte de cacau batidos.
Para acompanhar, sandubas ou o bolinho cubano, de trigo e coberto com malte de cacau, castanha e amendoim.
Nos fins de semana e se a fome for maior, tem que se deslocar um pouco mais, até o Shopping Paço Alfândega, com praça de alimentação e o restaurante La Douane, de pegada mediterrânea.
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Deixamos o período vespertino para as duas joias da coroa do Recife Antigo. Quem provou o maltado em As Galerias, basta atravessar a rua para chegar ao Paço do Frevo, um espaço cultural que irá sanar todas as suas dúvidas sobre o ritmo.
No térreo, uma inusitada linha do tempo é apresentada através de livros pendurados, contado a evolução de frevo ano a ano com uma riqueza de detalhes que até cansa.
Porém, o melhor está no último e panorâmico andar, onde, no anfiteatro, há shows e se vê o Rio Capibaribe e o mar através dos vidros, que ainda exibem as letras dos frevos mais famosos.
Para fechar com chave de ouro – e tem que ser por volta das 15h30, 16h – uma grande homenagem ao povo e à cultura do sertão. Curiosamente à beira-mar.
Instalado em um antigo armazém portuário, o Cais do Sertão surfa nessa onda de museu interativo, apresentando muitos audiovisuais e bela cenografia.
Claro que, se o assunto é a vida do sertanejo, o Rio São Francisco e Luiz Gonzaga não podem ficar de fora. No segundo andar, há cabines individuais de karaokê – pode ficar sossegado que ninguém vai te ouvir desafinar os clássicos do forró.