Qual banda/músico(a) representa mais a cidade de São Paulo? Mutantes? Rita Lee solo? Adoniran Barbosa? Premeditando o Breque? Ira!? Ultraje a Rigor? Racionais? Sabotage?
Acho que todos esses, e eu até incluiria nessa Inocentes e Tutti Frutti.
Só que não há caricatura musical mais fiel da Pauliceia do que a intitulada Demônios da Garoa. Ok, bellôôô, sou suspeito, eles são meus conterrâneos da Mooca, começaram em 1943 na Rua dos Trilhos, na garagem da casa dos pais dos irmãos Arnaldo e Cláudio Rosa, que era mezzo estúdio, mezzo fábrica de sapatos do babbo deles.
Minha avó Aurora, que morava na Rua dos Campineiros, a paralela, acompanhou isso de perto, sem imaginar que os Demônios perdurariam até hoje. Estão até no Guinness Book desde 1994 como a banda mais antiga da América Latina. Claro, hoje sem Arnaldo e Cláudio, mas com a dinastia presente nos gogós e nas mãos gaiatas de Sérgio e Ricardinho Rosa, filho e neto de Arnaldo, respectivamente.
Para inaugurar este blog, cujo nome é um tributo ao paisssxx, paisssxx, paisssxx, paisssxx, paisssxx, paisssxx, pascalingunduns, pascalingunduns, pascalingunduns, nada mais justo do que ler sobre os bairros cantados pelos Demônios – há composições que não são deles, como Praça Clóvis, de Paulo Vanzolini – e fazer turismo neles: para cada canto paulistano citado, o blog indica um programa.
ABRIGO DE VAGABUNDOS (MOOCA)
Eu arranjei o meu dinheiro,
Trabalhando o ano inteiro,
Numa cerâmica,
Fabricando pote,
E lá no alto da Mooca,
Eu comprei um lindo lote,
Dez de frente, dez de fundos,
Construí minha maloca,
Me disseram que sem planta, não se pode construir,
Mas quem trabalha, tudo pode conseguir,
João Saracura,
Que é Fiscal da Prefeitura,
Foi um grande amigo,
Arranjou todo pra mim!
Por onde andará?
O Jóca e Mato Grosso,
Aqueles dois amigos,
Que não quis me acompanhar,
Andarão jogados,
Na Avenida São João?
Ou vendo o sol quadrado,
Na detenção?
Minha maloca,
A mais linda que eu já vi!
Hoje está legalizada,
Ninguém pode demolir!
Minha maloca,
A mais linda desse mundo,
Ofereço aos vagabundos,
Que não tem onde dormir!
Por onde andará?
O Joca e Mato Grosso,
Aqueles dois amigos,
Que não quis me acompanhar,
Andarão jogados,
Na Avenida São João?
Ou vendo o sol quadrado,
Na detenção?
Minha maloca,
A mais linda que eu já vi!
Hoje está legalizada,
Ninguém pode demolir!
Minha maloca,
A mais linda desse mundo,
Ofereço aos vagabundos,
Que não tem onde dormir!
O programa: CADILLAC BURGER
Na hamburgueria do Tatá, famoso no bairro por sua coleção de possantes lowrider, aposte no kick ass: 180 gramas de carne, picles, creme de gorgonzola, bacon e anéis de cebola empanados. (Rua Juventus, 296, Mooca, 2069-9982)
UM SAMBA NO BIXIGA
Domingo nós fumo num samba no bexiga
Na rua major, na casa do nicola
A mesa não deu conta
Saiu uma baita duma briga
Era só pizza que avuava junto com as braxola
Nóis era estranho no lugar
E não quisemo se meter
Não fumos lá pra briga, nós fumo lá pra come
Na hora “h” se enfiemo de baixo da mesa
Fiquemo ali, que beleza vendo a nicola briga
Dali a pouco escutemo a patrulha chegá
E o sargento oliveira falá
Num tem importância
Foi chamada as ambulância
Carma pessoal,
A situação aqui está muito cínica
Os mais pior vai pras clínica
O programa: C… QUE SABE!
Com a família siciliana Stippe desde 1931, é uma cantina de verdade, com direito a músicos passando de mesa em mesa atendendo a pedidos (Io Che Amo Solo Te, de Sergio Endrigo, é uma das mais requisitadas). Aviso aos cardíacos: panelas caem no chão e dão susto na gente, clássico divertimento de quem mangia primores como o nhoque all’arrabbiata. (Rua Rui Barbosa, 192, cantinacquesabe.com.br)
PRAÇA CLÓVIS (CENTRO)
Na praça Clóvis
Minha carteira foi batida,
Tinha vinte e cinco cruzeiro e seu retrato,
Vinte e cinco, francamente, achei barato
Pra me livrarem do meu atraso de vida.
Eu já devia ter rasgado e não podia
Esse retrato
Cujo olhar me maltratava e perseguia
Um dia veio o lanceiro,
Naquele aperto da praça,
Vinte e cinco, francamente, foi de graça!
O programa: SATÉLITE
A escultura Satélite é de autoria do austro-brasileiro Francisco Stockinger (1919-2009), e está lá desde 1974. (Praça Clóvis)
ADEUS CANTAREIRA (BRÁS, JAÇANÃ E SERRA DA CANTAREIRA)
Vai, vai, vai, vai, vai, vai, vai,
Pascalim, pascalim, calingundum,
Vai, vai, vai, vai, vai, vai, vai,
Pascalim, pascalim, calingundum.
Adeus cantareira adeus,
Nunca mais ouvirei o apito teu,
Acabaram com a tua tradição,
O Engenheiro diz que é,
O progresso da nação…
Tive que mudar de Jaçanã,
Já não existe o trem das onze,
Nem as sete da manhã,
Agora minha mãe já vai dormir em paz,
Nós mudemos pro bairro do Brás,
Não precisa esperá.
Vai, vai, vai, vai, vai, vai, vai,
Pascalim, pascalim, calingundum,
Vai, vai, vai, vai, vai, vai, vai,
Pascalim, pascalim, calingundum.
Adeus cantareira adeus,
Nunca mais ouvirei o apito teu,
Acabaram com a tua tradição,
O Engenheiro diz que é,
O progresso da nação…
Tive que mudar de Jaçanã,
Já não existe o trem das onze,
Nem as sete da manhã,
Agora minha mãe já vai dormir em paz,
Nós mudemos pro bairro do Brás,
Não precisa esperá.
Vai, vai…
O programa: CASTELÕES
Primeira pizzaria da capital é uma viagem a 1924, ano de fundação. Peça a pizza que leva o nome da casa, feita com mussarela, linguiça caseira curada, um leve toque de erva-doce e borda de parmesão tostado. Não aceita cartão. (Rua Jairo Góis, 126, Brás, casteloes.com.br)
O programa: MIOLO PADARIA ORGÂNICA
Sim, o Parque Estadual da Cantareira e suas trilhas são fantásticos, obrigatórios na região, mas, além de novos, os pães daqui são fermentados no esquema au levain, ou seja, por um processo de fermentação natural. O salão tem só duas mesas e diliças como o pão de centeio com nozes. (Avenida Senador Ermirio de Moraes, 1400, Serra da Cantareira, 11/2267-6274)
O programa: LA FLORESTA
Leitor, serei sincero: o Jaçanã carece de atrações que valham a viagem, então não vá até lá. Agora, se você estiver no pedaço, rola de provar sorvetes e docinhos. (Avenida Guapira, 1984, docerialafloresta.com.br)