Olha o mundo, filho!

Ana Claudia Crispim achou que Cinquenta Tons de Cinza definiria a segunda metade da sua vida, mas hoje tem na cabeceira um exemplar de Criando Meninos – o que não quer dizer que tenha desistido de encontrar um Christian Grey. Aqui, ela escreve cartas sobre os seus lugares favoritos do mundo para o pequeno Nando.
Continua após publicidade

Se tem músico de rua, a viagem já valeu a pena

Filho, eu nem saberia contar quantas vezes me emocionei ouvindo músicos de rua em vielas, metrôs, túneis e praças. Nunca foi tempo perdido

Por Ana Claudia Crispim
1 fev 2022, 23h06

Homem tocando violão cuja caixa está no chão, aos seus pés. Ao fundo parede com arquitetura gótica.
Um momento emocionante numa ruela no Bairro Gótico em Barcelona. ([Ana Crispim]/Arquivo pessoal)
Filho, não me lembro de ter visto uma cidade grande onde não tivesse artistas de rua, pintores, artesãos, caricaturistas, estátuas vivas. Aqui em 2022, estátuas vivas são pessoas que ficam imóveis encarnando todo tipo de personagem de maneira tão absurdamente realista que fica difícil acreditar que é gente de carne e osso. Elas se mexem muito vez ou outra, principalmente quando alguém joga uma graninha dentro de um chapéu ou do case de um violino. Eu admiro as estátuas vivas, filho. É um ato heroico ficar parado por tanto tempo, ainda que eu tenha medo delas. Mas se você puder, colabore sempre que vir uma, é uma arte. Artistas merecem reconhecimento e os boletos de todos chegam – meu Deus, você não vai saber o que são boletos, deve ter algo muito mais avançado aí no futuro!

Em primeiro plano um músico de costas toca um violoncelo. Ao fundo uma mulher toca violino. Pessoas descem a escada e três pessoas conversam paradas
Um clichê que não cansa: músicos em uma estação de metrô em Paris. ([Ana Crispim]/Arquivo pessoal)
Na minha cabeça existem os artistas – todos incríveis ao seu modo – e num mundo à parte existem os músicos. Eu tenho um fascínio pela música e você, agora com seis anos recém feitos, também. Nós dois, juntos, já dançamos no Little Italy em São Francisco ao som de blues e Let’s Stay Together, do Al Green (apesar que a minha versão favorita será sempre a da Tina Turner), interpretada por uma dupla que parecia uma banda inteira! Já corri atrás de você dançando e dando voltas em torno de uma banda na Argentina. Quero voltar pra Cuba só pra ver você pirando com aqueles músicos incríveis e, já que estaremos lá, vou tomar alguns muitos daiquiris frozen, claro.

Músicos tocam diversos instrumentos no contra luz do pôr do sol de um porto com barcos ancorados ao fundo
O dia em que fiquei horas ouvindo Los Made in Barcelona tocando na Barceloneta. ([Ana Crispim]/Arquivo pessoal)
Teve uma época que a playlist mais tocada nesta casa era do Playing for Change, um projeto que nasceu em 2002 e que une músicos de rua do mundo inteiro com imagens e sons captados em estúdios improvisados em plena rua. O pulo do gato é a edição que une captações de vários lugares do mundo, simultaneamente. Artistas famosos também participavam e você adorava particularmente Clandestino, cantada pelo Manu Chao e músicos do México, Marrocos, Hungria, Senegal, Índia, Argentina, Dominica, Cuba, Estados Unidos, Egito, Brasil, França, Sérvia e Nepal. Coisa linda, filho, a música e você pulando!

Eu poderia citar aqui muitas vezes que me emocionei ouvindo músicos de rua em vielas, metrôs, túneis, ruas de comércio e praças. Um dia te conto, um a um, com mais detalhes porque cada um deles merece um espaço único, exatamente como transformaram o meu momento de viagem em algo singular. Te amo, menino. Curta muita música de rua, seja na tua cidade ou em viagens, nunca é tempo perdido.

Continua após a publicidade

Assinado, mamãe.

[Leia mais sobre viagens y otras cositas da vida de uma mãe 360º no meu Instagram @rivotrip.oficial]

Publicidade
Publicidade