O ritual começa com a lavagem dos pés com ramos de alecrim. Segue com uma massagem suave à base de azeite e, com a pele já macia, prossegue com as pindas aquecidas a pressionar e aliviar os pontos de tensão. Ao mesmo tempo em que provocam um ligeiro atrito, as trouxinhas recém-feitas em tecido de algodão recheado com grãos e ervas liberam um aroma inebriante de mato, de verde, de natureza. Estamos no coração do Alentejo e todos os ingredientes usados na terapia são colhidos e produzidos logo ali, do outro lado da janela. No São Lourenço do Barrocal, a menos de 10 quilômetros da encantadora aldeia de Monsaraz, o conceito “farm to table” não se resume à table (mesa). Na verdade, não seria exagero batizá-lo de “farm to everywhere”. Aqui, reina a auto-sustentabilidade – há séculos.
Embora o hotel tenha aberto as portas em 2016, a aldeia agrícola de São Lourenço do Barrocal foi fundada em 1820 e, desde sempre, viveu em modo autossustentável. Ali sempre se produziu quase tudo o que se consumia. A ideologia continua a ditar as regras, muito embora haja espaço para uma curadoria do que se faz de melhor em Portugal (a loja é uma perdição). Mas aqui o mel é produzido in loco, o azeite é produzido in loco, a horta abastece a cozinha, as ervas dos canteiros vão parar até no spa e o vinho é da casa. Tudo certificado como biológico.
Sobre o vinho, cabem aqui alguns parênteses: os 16 hectares de vinhedos da herdade, plantados em solo de xisto e granito, produzem, em média, apenas 20% em comparação a um vinhedo tradicional, segundo o enólogo José Rogel. É que aqui o objetivo é chegar artesanalmente a um consumidor muito especial: os próprios hóspedes do hotel. Apenas o “excedente” vai para algumas poucas lojas e restaurantes do país. Toda a colheita é feita a mão e a escolha das uvas, diretamente no campo. A produção começou em 2010 e, à produção de brancos, tintos e rosés, este ano somou-se a produção de um belo espumante feito com a casta Aragonez, o qual eu tive o privilégio de tomar a garrafa número 1374 (de 1425). “Somos aventureiros e um pouco malucos”, diz o enólogo. “O resultado ficou bom, com muito potencial.”
Mais um motivo para escolher o Barrocal como pouso numa escapada “eu mereço” ao Alentejo. Ou você conhece algum outro hotel onde os hóspedes podem dizer que tomaram um vinho feito para eles?
Melhor ainda: aqui eles acompanham as receitas deliciosamente caseiras do chef Celestino Grave.
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