Cheguei no quarto depois do jantar e, junto com a abertura da cama, as mil almofadas brancas e colchas bordadas, uma sacola em cima da mesinha de centro chamou a atenção. Dentro, dois casacos novos e quentinhos e um bilhete que informava que, a despeito de estarmos praticamente no verão, as temperaturas podiam se aproximar do zero na manhã seguinte.
O programa era um dos que eu mais ansiava: o nascer do sol no Pico do Areeiro. Um Land Rover nos aguardaria na recepção antes das 6h da manhã e, pouco mais de meia hora depois, estaríamos a mais de 1800 metros de altitude para ver os primeiros raios acima das nuvens. Depois, um piquenique seria montado num cenário de sonhos com direito a mordomo, champagne, croissants.
Choveu, nublou e o sol não deu as caras. O piquenique quase foi arrasado pelo vendaval, a neblina tomou conta de tudo e a Polaroid que seria a melhor lembrança daquele momento ficou cinza e sem contornos. Mas isso foi só um detalhe. No Reid’s Palace, mesmo quando dá muito errado dá certo. E aquele dia que começou com a fúria da natureza ainda teve um chá da tarde delicioso de frente para o mar (com sol!), um jantar com lindas vistas do Funchal e um delicado vinho Madeira para fechar o dia nas espreguiçadeiras do quarto.
Idealizado pelo fazendeiro escocês William Reid no final do século 19, o Reid’s Palace abriu as portas em 1891. Antes de pertencer à rede Belmond, a mesma do Copacabana Palace, que desde 2019 é do grupo LVMH (que detém, entre outras marcas, a Louis Vuitton), o icônico palacete rosa erguido no alto do promontório já foi propriedade da família Blandy (a mesma por trás da vinícola mais emblemática da ilha). Em seus salões de baile, o escritor irlandês George Bernard Shaw aprendeu a dançar tango. Em suas suítes, Winston Churchill, ex-primeiro ministro inglês, escreveu, pintou e se divertiu. Tudo isso hoje decora as paredes do hotel.
Cercado por seu próprio jardim botânico, plantado mais de um século atrás com espécies subtropicais dos quatro cantos do mundo, o Reid’s desce o penhasco desenhando lounges de espreguiçadeiras que funcionam como belos mirantes até encontrar o mar de cor azul petróleo lá embaixo. Para entrar no mar, dá para escolher: uma escada ou um trampolim?
O dia começa devagar à beira-mar. O café da manhã pode ser servido no quarto ou na piscina. Depois, poucos programas superam o mergulho na piscina ao ar livre, aquecida na medida. A lista do que fazer sem se afastar do icônico casarão rosa inclui massagens e tratamentos no spa, partidas de tênis, caminhadas pelo jardim. Fora dele, experiências desenhadas nos mínimos detalhes – como o nascer do sol com piquenique, um passeio de iate, um jantar sobre as rochas.
Esculpido à medida dos tempos idos, o Reid’s é um clássico que se faz de classiquices. No check-in, um elegante cartão assinado pelo general manager, bien sûr, convida para um coquetel no bar. O chá da tarde poderia ser na Inglaterra. E os quartos, decorados com temas floridos (alguns papéis de parede são pintados à mão) e em tons pastel, nos embalam em uma viagem no tempo.
A gastronomia é papo sério no hotel. Não bastasse o famoso Cipriani, italiano que é marca registrada da rede Belmond (o atum em crosta de pistache com pêras ao vinho é delicioso), o William, capitaneado pelo chef Luís Pestana, com supervisão de Joachim Koerper, do Eleven de Lisboa, é dono de uma estrela Michelin e tem luz própria (infelizmente – e literalmente – apagada durante a minha visita, quando estava de portas fechadas por causa da pandemia).
Até os animais de estimação têm vez no mundo gourmet do hotel – a brochura temática descreve que, por uma diária de 35 euros, os lulus recebem uma caminha, potes de água e três refeições diárias preparadas pelo chef executivo.
Anote aí: as diárias custam desde € 260, com café da manhã. Faça a sua reserva aqui.
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