Colocar o despertador para tocar antes do dia clarear em viagem ocupa um dos mais altos postos na minha lista de sacrilégios abomináveis. Mas algumas raras (raríssimas!) vezes é preciso encarar. Foi assim no Camboja, para ver os primeiros raios de sol atravessarem Angkor Wat. Foi assim no Laos, para testemunhar a emocionante Ronda das Almas, a peregrinação dos monges budistas ainda de madrugada, na graciosa Luang Prabang. Foi assim num liveaboard nos confins da Tailândia, quase na fronteira com o Myanmar, para mergulhar com mantas de mais de 4 metros de envergadura. E é assim na Ilha da Madeira, para assistir o incrível espetáculo do sol nascendo acima das nuvens.
5:30 da manhã. Ainda é noite cerrada e o jipe já nos espera na porta do hotel. O destino é o Pico do Areeiro, o terceiro mais alto da ilha, a 1.818 metros de altitude. Os cerca de 20 quilômetros do Funchal até lá são percorridos em pouco mais de meia hora de subidas íngremes, curvas fechadas e passagem por todas as estações do ano (lá em cima, quase sempre, costuma ser alto inverno).
O programa é obrigatório por uma peculiaridade geográfica. As nuvens costumam se formar abaixo das montanhas mais altas da Madeira, o que faz com que o sol “nasça” acima delas.
A vantagem do Areeiro em relação a seus vizinhos mais altos (o Pico Ruivo, a 1.862 metros, e o Pico das Torres, a 1851 metros) é o acesso. Chega-se até lá facilmente de carro e, depois de estacionar, basta uma caminhada suave de menos de 10 minutos até o mirante. Uma vez lá, é se acomodar (tem até um banquinho!) e esperar, de camarote para o impressionante Maciço Central da ilha.
O mar de nuvens ganha diferentes formas e cores à medida que o sol vai subindo. Os picos despontando no meio delas deixa o cenário ainda mais surreal.
ANOTE AÍ: quem estiver de carro alugado consegue chegar facilmente até lá. Para quem preferir ir com uma agência, a Madeira True Spirit organiza o passeio em Land Rovers 4X4 com ótimos guias (as saídas particulares, com duração de 5h, custam desde € 220 para até 6 pessoas). Leve casaco independentemente da época do ano – as temperaturas podem baixar a menos de 10ºC. E muna-se de paciência. Se não der certo um dia, volte. As imagens que ilustram este post foram feitas numa segunda empreitada, depois de um dia de chuva e névoa que impediam de ver além de um palmo à frente do nariz (as condições climáticas na Madeira são sempre uma caixinha de surpresas, impossíveis de prever).
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