Além-mar

Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, mais de dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu
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Decifrando o português de Portugal nos cardápios de restaurantes

Bitoque ou pica-pau? Jaquinzinhos ou pataniscas? Imperial ou vinho para acompanhar? Ah, prefere cerveja de garrafa... Peça para tirar a carica!

Por Rachel Verano
Atualizado em 10 jun 2022, 11h10 - Publicado em 31 Maio 2022, 19h39
Um prato com uma posta de bacalhau entre verduras e baratinhas
Bacalhau à lagareiro: na grelha, com azeite e batatinhas (Bruno Barata/Reprodução)

Esplanada (varanda, mesinhas do lado de fora) ou interior? Esta provavelmente vai ser a primeira pergunta que o empregado (garçom) vai fazer, antes de te encaminhar para a mesa com a ementa (o cardápio). Sente, se acomode e dê tempo ao tempo. Os restaurantes costumam ter o seu próprio timing e não adianta insistir ou ter pressa. 

Chegou a hora de pedir? Começando pelas bebidas: vinho a copo (em taça) ou em garrafa? Se preferir cerveja: uma imperial (chope) ou uma mini (garrafinha de 200ml)? Se preferir garrafa, peça para tirarem a carica (tampinha)! Para acompanhar, água fresca (gelada) ou natural (temperatura ambiente)? Quem preferir bebidas sem álcool, pode pedir um sumo (suco) – deixe claro se quer ou não palhinha (canudo)!

O jantar pode começar com entradas tradicionais como pica-pau (cubinhos de carne ou de atum, geralmente refogados), jaquinzinhos (peixinhos – carapaus – fritos), peixinhos da horta (feijão verde – vagem – empanado tipo tempura), gambas al ajillo (camarõezinhos fritos com alho) ou algo mais simples como rissóis (risoles) ou enchidos (embutidos).

Na hora de escolher os pratos, pergunte se são individuais ou para partilhar (dividir). Pode ser, ainda, que a ementa (menu) especifique dose ou ½ dose (uma porção ou ½). Ao que interessa: que tal um bitoque (o PF português, com arroz, bife, batata frita e molho)? As carnes, aliás, são um capítulo à parte. O corte mais nobre é o lombo (o equivalente ao nosso filé mignon), mas o bife da vazia não fica muito atrás. Costeleta, costeletão ou piano são as nossas costelas e costelinhas. Importante: não caia no conto da picanha em Portugal! Muitos restaurantes têm a opção no menu, mas é quase sempre um bife fino e duro! Sobre o modo de preparo, vale ter em mente o que é estufado (ensopado), salteado (refogado), panado (empanado) e fumado (defumado).

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Um restaurante com mesinhas do lado de fora sob toldos vermelhos, e, ao fundo, a cúpula do Panteão, em Lisboa
A linda esplanada do Zum-Zum, em Lisboa: localização privilegiada (Bruno Barata/Reprodução)

Outras boas apostas bem típicas são as açordas (um meio termo entre uma sopa e um creme, feitas com miolo de pão), os pratos com borrego (cordeiro) e, claro, o bacalhau – há mil e uma receitas do peixe, mas uma das mais saborosas é à lagareiro (termo que significa que foi feito no carvão e será servido com azeite e, geralmente, com batatas cozidas ou a murro – assadas e esmagadas). Também vale provar as pataniscas (lascas de bacalhau em uma massinha de farinha, esmagada e frita). O cozido à portuguesa é a versão portuguesa da nossa feijoada: servido em dias especiais da semana, costuma levar diferentes cortes de carne (de porco, de vaca e de galinha), embutidos, chouriço, feijão branco, cenoura, batata, nabo e – ufa – couves. 

De maneira geral, os acompanhamentos costumam ser migas (uma massinha geralmente feita à base de pão ou de batatas, com sabores variados), diferentes tipos de arroz – arroz de tomate, arroz de feijão, sempre misturados e bem molhadinhos -, esparregado (uma espécie de creme de hortaliças, tipo purê) e grelos (broto de couves e nabos). Mas, claro, sempre há de haver batatas, arroz branco, saladas e até ovos estrelados (fritos).

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Detalhe de uma mão segurando uma concha de marisco
As lapas, típicas da Madeira: conchinhas deliciosas (Bruno Barata/Reprodução)

As marisqueiras (restaurantes especializados em frutos do mar) são uma aventura à parte. Espere provar coisas que nunca viu ou ouviu falar antes: enguia, lampreia, lingueirão, percebes, bruxas, sapateira (um tipo de caranguejo), amêijoas, lapas e cadelinhas (conchinhas variadas e deliciosas). Peça sem medo de ser feliz. Curiosidade: é tradição pedir um prego (sanduíche de bife no pão, com alho e molho de mostarda à parte) nas marisqueiras, só não me pergunte porque – mas que é bom, é.

No quesito temperos, vale saber que caril é curry, piri-piri é um molho de pimenta e picante é pimenta (traz-me o picante, se faz favor Portugal: restaurante Ó Balcão vale a viagem até Santarém).

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Por fim, prepare a entonação. Deu desejo de um japa? Prepare-se para pedir um súshi. Vai a um restaurante francês? Peça um tártaro (tartar). E num italiano peça piza (embora se escreva pizza, a pronúncia é píza, sem o típico som do zz italiano).

A sobremesa pode ser gelado (sorvete), leite creme (crème brûlée) ou tartes (tortas) variadas. O dicionário dos doces portugueses é muito mais extenso e fica para um outro momento. Depois do café, que pode ser com cheirinho (uma bebida alcóolica), toda tasca que se preze pede um digestivo – pode ser um bagaço ou bagaceira (aguardente), um medronho (licor de medronho, uma fruta típica) ou uma amarguinha (licor de amêndoa amarga, o meu preferido!). Saúde!

Veja também como decifrar produtos e comidas no supermercado e um pequeno dicionário para reservar hospedagem e usar o transporte público em Portugal.

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