Desde que abriu as portas, cinco anos atrás, o Time Out Market é um fenômeno. Não demorou a se transformar numa das atrações mais concorridas de Lisboa e hoje recebe surpreendentes 11 mil pessoas todo dia – é só fazer as contas: são quase 4 milhões por ano. Para se ter uma ideia, o Brasil inteiro recebe cerca 5 milhões de turistas estrangeiros anualmente. E o mercado… bem, é um mer-ca-do.
É, aliás, um senhor mercado. Instalado numa área de cerca de 3 mil metros quadrados em um lindo edifício inaugurado no ano de 1882, na zona da Ribeira (a poucos passos do Tejo e do Cais do Sodré), nasceu de um conceito único. Tudo começou dentro da redação da revista Time Out. A ideia? Um espaço que reunisse o crème de la crème da gastronomia lisboeta, com curadoria feito pelos jornalistas da revista (que, aliás, é genial, das melhores edições de Time Outs que já tive a oportunidade de vasculhar pelo mundo – não deixe de comprar a sua quando estiver passeando por aqui!). O resultado não poderia ser diferente: virou febre.
Fui conhecer o Time Out Market dois anos depois da sua inauguração, em 2016, antes de me mudar de mala e cuia para Lisboa. Estava de férias e fiquei maravilhada. Estava ali reunido realmente tudo que me interessava: o melhor pastel de nata do planeta (da Manteigaria), ótimas casas servindo bacalhau (uma banca só de bolinho!), uma banca com presuntos e embutidos espetaculares, um astral incrível… um paraíso. Fiquei especialmente fascinada, naquela época, por dois fatores. O primeiro: a sacada genial de conseguir reunir, num ambiente de “fast food”, os melhores chefs da cidade, inclusive aqueles donos de estrelas Michelin. O segundo: o preço. Jamais vou me esquecer que com € 9 comi um belo bacalhau e tomei uma ótima taça de vinho. Sim: eu dei uma nota de € 10 e tive troco.
Essa é, hoje, a razão que mais me incomoda. Atualmente os preços praticados pelos 26 restaurantes e oito bares do Time Out Market praticamente dobraram. Sem exagero. É comum ver pratos a quase € 20. Resultado: eu deixei de frequentar com a assiduidade com que frequentava. Não porque o valor seja alto demais para uma refeição. A cidade está cada vez mais cara e a média em restaurantes medianos é mesmo essa. Mas, para mim, perdeu o propósito. Prefiro sentar num restaurante, apreciar um bom serviço, comer uma comidinha boa feita na hora, com todo o tempo necessário, a pagar o mesmo valor para ir buscar o prato e ficar em pé de bandeja na mão disputando lugar a tapa nas mesas comunitárias.
Mas, como se vê, eu sou minoria. É inegável que a fórmula é um sucesso. O que eu acho é que hoje em dia o Time Out Market virou programa de turista. Eu reconheço: um bom programa de turista. Mas, acima de tudo, virou um negócio da China. Na semana passada, foi inaugurada a primeira unidade fora de Portugal. O Time Out Market Miami abriu as portas em Miami Beach com o mesmo conceito português: todos os 18 restaurantes e três bares foram selecionados a dedo pelo time de jornalistas da revista local, resumindo o que acreditam ser o que há de melhor na cidade. Até o mobiliário é igual e foi importado de Portugal. Certeza que vai repetir a badalação.
Até outubro, outras quatro unidades de Time Out Market vão abrir as portas nas Américas: em Nova York, Boston e Chicago, nos Estados Unidos; e em Montreal, no Canadá. Num futuro próximo será a vez de Praga e Londres. Também há rumores de que Dubai ganhará o seu. O mais legal é que, para continuar fiel à proposta, os portugueses que inventaram o projeto acompanham tudo o que acontece lá fora, passo a passo.
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