Como aproveitar o Rio de braços – e olhos – abertos
Para inspirar locais e forasteiros, como eu, a curtir a cidade da "beleza e do caos"
Quando recebi o convite da querida Ruth de Aquino para me mudar para o Rio, minha irmã – com todo o conhecimento da cidade de quem mora há 26 anos na Alemanha –, disse: Você está maluca? É como se eu assumisse um cargo em Cabul!
De fato, as coisas não estavam nada calmas no Rio em janeiro de 2018. Havia intervenção militar, guerra entre traficantes, fuzis para todo lado – inclusive aqueles que não cabem no carro dos policiais e andam com o bico pra fora, tomando um ar, como se nada fossem.
Mas, em novembro, quando o avião decolou me levando de volta para São Paulo, a decisão estava tomada. A entrevista de emprego, breve, me deixou com tempo para almoçar à beira-mar, no excelente Venga de Copacabana. Até registrei (e compartilho aqui com vocês a lembrança) aquele chopinho de início de mudança acompanhado de um peixe grelhado com legumes – que achei que combinaria com uma vida litorânea. Na volta para o Santos Dumont, o taxista corroborou a decisão se oferecendo para parar logo antes do Aterro do Flamengo. De frente para a Enseada de Botafogo, aqueles barcos, o Pão de Açúcar ao fundo… Uau (abafa as suspeitas de superfaturamento nessa corrida)!
Mesmo assim, cheguei a tempo de antecipar o voo para SP e levei um “esculacho” do atendente da companhia aérea: como assim você vai embora mais cedo do Rio nesse dia lindo? Cadê seu biquíni? Vai para a praia! Lição aprendida, moço. E reforçada pela vista daquelas montanhas tão conhecidas dos filmes, do céu, super azul e da água esverdeada brilhando ao sol. É, é clichê como um romance meloso, mas começou ali.
Minha relação com o Rio tem baixos, não minto. Especialmente quando chove (e nesse aspecto já me sinto muito carioca que não gosta de dias nublados) ou quando um moleque de bike decide tirar delicadamente o celular da minha mão às 10 para as 7h da manhã (ao que respondo a plenos pulmões e correria! Tá achando que sou mané?).
Mas fazemos as pazes quando vejo o horizonte (já parou para pensar se você consegue fazer isso onde mora?). E, isso, nem a pandemia impediu. Ou quando tem uma roda de samba numa esquina qualquer (ah, que saudade). Ou um bloco misterioso saindo de um ponto secreto (que, surpreendentemente, milhares de pessoas sabem qual é). Um edifício histórico perdido num quarteirão absolutamente normal. Ou um pôr do sol com chopinho (ainda que o garçom demore mais e o chope nem seja padrão-ouro-SP-de-qualidade).
Sempre soube que não gostaria de voltar para Limeira – sorry família e amantes do interior paulista. Dificilmente conseguiria ser jornalista por lá depois de fazer a faculdade na capital. Mas a vinda para o Rio foi uma grata surpresa. Daquelas que dão um frio na barriga antes de trazer muitas alegrias. É deste Rio que vou falar por aqui. Da cidade de braços abertos, do bixcoito, da música fácil, da História e da beleza. Espero que ajude a inspirar os cariocas a redescobrir o destino turístico dos outros, especialmente em meio à pandemia, e os brasileiros a entender por que os gringos amam essa terra. Não, o Rio não é Cabul!
p.s.: Bom explicar que o medo da minha irmã vinha não só da cobertura da imprensa sobre a violência carioca, mas também da péssima experiência de ser assaltada e ameaçada com uma faca em plena luz do dia nos Arcos da Lapa. E que, nesses três anos, ela conseguiu recuperar um pouco da fé nas belezas desta terra. Sempre com cuidado redobrado, como, de fato, é bom ter!
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