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Pegada de carbono: como o turismo gera impactos nas mudanças do clima

Com algumas medidas básicas, viajantes podem reduzir sua pegada de carbono e repensar impacto na sustentabilidade local

Por Valentina Bressan
Atualizado em 29 out 2024, 13h49 - Publicado em 29 out 2024, 12h00

A emissão de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso, é um fator determinante para as mudanças climáticas. O excesso desses gases na atmosfera gera aquecimento global – o aumento da temperatura média do mundo, que não significa apenas mais calor, mas também eventos extremos de modo geral, incluindo enchentes, furacões e períodos de estiagem severa.

O conceito de pegada de carbono é usado para quantificar o impacto de uma pessoa ou uma atividade na emissão de gases de efeito estufa, que ocorre por diversos processos, da atividade das indústrias à produção de alimentos, do uso de carros no dia a dia à queima de combustíveis para fazer um avião voar entre os continentes.

Para visualizar as consequências das nossas ações no meio ambiente, a ONU oferece uma calculadora online para estimar sua pegada de carbono: as horas passadas em cada meio de transporte, as preferências de dieta e as formas de descarte de lixo entram no cálculo.

Como o turismo entra nessa conta?

Estima-se que o turismo seja responsável por 8% do total de emissões de carbono no mundo. A Organização Mundial do Turismo, vinculada à ONU, afirma que o setor vai na contramão das metas climáticas: enquanto diversas indústrias tentam reduzir sua pegada de carbono, a previsão é que o CO2 emitido por atividades turísticas aumente em 25% até 2030.

Em matéria de turismo, o maior responsável pela pegada de carbono é o transporte. Aviões queimam grandes quantidades de combustíveis fósseis para percorrer longas distâncias. Um voo de Nova York para Tóquio, por exemplo, emite cerca de duas toneladas de dióxido de carbono por pessoa.

Mas não é apenas a forma de chegar até o destino que impacta a pegada de carbono. O consumo de bens materiais, a alimentação e o uso de energia também estão inseridos nessa conta.

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Por isso, o ecoturismo se tornou não apenas uma tendência, mas uma alternativa para conciliar viagens com preservação ambiental, ao priorizar a proteção da natureza e a minimização de impactos na visitação.

Bonito: exemplo de cidade carbono neutro

Além de atrair turistas pelos cenários de águas cristalinas e passeios em meio à natureza, Bonito, no Mato Grosso do Sul, se tornou o primeiro destino de ecoturismo a receber o selo de carbono neutro no mundo em agosto de 2023. O certificado é conferido a locais onde o ecossistema absorve mais carbono do que emite – ou seja, a pegada de carbono do local fica zerada ou mesmo negativa.

Referência em sustentabilidade há tempos, o destino adota medidas como o limite de visitantes em atrações naturais. Existem ainda os esforços individuais de cada ponto turístico ou comércio. A Estância Mimosa, por exemplo, pratica compostagem, trabalha na redução de resíduos sólidos e utiliza energia solar como fonte primária. Já o Hotel Paraíso das Águas, além de usar apenas energia solar, recebeu um certificado de lixo zero por reciclar quase tudo que é utilizado em sua propriedade e aderir aos produtos de higiene biodegradáveis.

Na conta para se tornar neutra em carbono, entraram também os “créditos de carbono” – forma como é chamado quando uma empresa ou entidade compensa suas emissões comprando “créditos” que mantém a conservação de ecossistemas em outras áreas. No final de 2022, a prefeitura de Bonito fez a compensação do saldo negativo restante comprando créditos de carbono de uma área protegida na Índia.

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Abismo Anhumas, Bonito, Mato Grosso do Sul
Abismo Anhumas, em Bonito (Caio Vilela/Wikimedia Commons)

Como turistas podem reduzir sua pegada de carbono?

Levar em conta o impacto das nossas ações individuais para as mudanças climáticas e tentar adotar práticas mais sustentáveis não quer dizer deixar de viajar para sempre. A ideia é planejar bem os roteiros e repensar a forma como interagimos com os destinos turísticos.

Confira algumas dicas para viajar deixando menos pegadas de carbono por aí:

Planeje bem as viagens
Como as viagens de avião são grandes responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa no setor turístico, uma boa ideia é pensar bem na duração e no roteiro da viagem. Prefira tirar uma temporada de férias mais longa do que várias curtas, por exemplo, e considere aproveitar para visitar destinos próximos ao invés de fazer um pinga-pinga entre cidades ou até mesmo países distantes entre si.

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Compense a sua pegada de carbono

A Gol lançou em 2021 o programa “Meu voo compensa”, que possibilita aos clientes compensarem voluntariamente a pegada de carbono individual deixada por cada viagem, o que pode ser feito no ato da compra do bilhete ou após a viagem através do site. No caso de Bonito, a própria Gol compensa a pegada de carbono de todos os voos da rota Congonhas – Bonito e o valor em reais é destinado a projetos de conservação da Floresta Amazônica.

Faça viagens curtas de trem ou ônibus
Mais do que buscar destinos próximos, vale optar por aqueles que possam ser alcançados em transportes coletivos, como trem e ônibus. Viajar de carro não é o ideal, mas pode valer a pena se ele for dividido entre vários passageiros. Um dado para ter em mente: em média, um veículo de passeio a gasolina emite cerca de 180 gramas de CO2 por quilômetro.

Prefira consumir produtos locais e sazonais
Plantar, transportar e processar alimentos são etapas que também geram gases de efeito estufa. Por isso, o mais indicado – seja viajando ou em casa – é consumir produtos sazonais e de elaboração local. Priorize a culinária local em vez de restaurantes de fast-food e ultraprocessados.

Cuidado com o consumismo
É fácil se empolgar frente a lojas gigantes com descontos imbatíveis, mas o consumo de bens materiais é um dos grandes responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa. Só a produção de plásticos gera cerca de 3% das emissões totais globalmente. Uma boa ideia na hora de fazer compras é escolher coisas significativas, que te lembrem do destino visitado e que vão ser usados (e não descartados) após a volta para casa.

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Explore a cidade caminhando ou pedalando
Caminhar ou andar de bicicleta são as duas formas de locomoção menos agressivas para o meio ambiente. Pesquise se o destino de viagem é amigável a pedestres e ciclistas e planeje um roteiro de acordo. De quebra, ir a pé ou de bicicleta dá uma dimensão mais humana do destino e pode revelar lugares que não seriam descobertos da janela de um carro.

Opte por pousadas
Grandes hotéis e resorts emitem mais gases de efeito estufa devido ao uso de energia e ao consumo de bens oferecidos lá dentro. Na hora de escolher a hospedagem, pousadas menores costumam ter um impacto menor na pegada de carbono.

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