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Alta tensão: medo de voar

Histórias de gente que não entra em aviões e de gente que não entrava – mas que, com tratamento e persistência, mandou o medo para os ares

Por Laura Capanema
Atualizado em 13 jul 2021, 12h51 - Publicado em 25 jul 2013, 19h08
Avião
 (Hiljon/Pixabay)
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Que atire o primeiro pacotinho de amendoim quem nunca suou frio ao ouvir as turbinas roncarem mais forte. Ter medo de voar é normal, mas há gente que simplesmente não consegue colocar os pés em um avião. “Eu queria ir a Londres, mas só vou até Londrina”, brinca Roger Moreira, vocalista da banda Ultraje a Rigor, que parou de voar em 1995. No filme do espanhol Pedro Almodóvar, Os Amantes Passageiros, com participações de Penélope Cruz e Antonio Banderas, tripulação e passageiros vive uma situação que ninguém quer viver: a iminência de um acidente. Para não chegar perto disso, a ex-presidente Dilma, que odeia turbulências, obrigava o piloto do jatinho presidencial a evitá-las, nem que isso significasse aumento do tempo de voo. Em uma das raras pesquisas a respeito, do Ibope, em 2003, 42% dos entrevistados disseram ter medo de voar, índice que subiu para 74% em 2007, após as tragédias da Gol no Mato Grosso e da TAM em Congonhas.

Embora as estimativas mostrem que viajar de avião é muito seguro – no Brasil e nos países em desenvolvimento, o risco de morte é de 1 a cada 2 milhões de viagens –, “a pessoa acredita que o acidente vai acontecer justamente quando ela estiver voando”, diz a psicóloga Neuza Corassa, de Curitiba, que atende em seu consultório pacientes com fobia de avião, de direção e com medo de falar em público. “Voar vai contra o instinto natural do homem, que nasceu com os pés no chão. O medo é perfeitamente natural”, diz a psicóloga Elvira Gross, que desde 2008 ajuda pessoas a subir aos céus. Assim como com outras fobias, o medo de voar tem cura. E quem gosta de viajar não precisa passar por ele.

Nem hipnose salva

“Eu nunca gostei de avião, e tudo ficou pior depois de um perrengue num voo para Florianópolis. Na hora em que o serviço de bordo era servido, a nave despencou. Foram só alguns metros, mas o suficiente para que os pratos voassem longe. O piloto disse que tinha sido um procedimento forçado em razão de uma nuvem densa, mas depois disso não deu mais para relaxar. Em terra, uma equipe de TV me esperava para uma entrevista, mas, em estado de choque, não consegui falar. Após esse evento, às vésperas de um voo, passava as noites em claro. Em 1995, recebi um convite para fazer um show nos Estados Unidos. Joguei o cachê lá no alto… mas os caras aceitaram! Fui, voltei, mas decidi nunca mais voar. Não faço mais shows no Nordeste e, para os destinos mais próximos, vou de carro. Já fiz até hipnose para superar isso tudo, mas não adiantou.”

Roger Moreira, vocalista da banda Ultraje a Rigor

Pagando para não voar

“Trabalho em uma empresa de fertilizantes e atendo agricultores no Centro-Oeste. Sempre viajei a trabalho, mas traumatizei depois de um voo entre Campo Grande e Sonora, no Mato Grosso do Sul. Num aviãozinho Mustang, sentei ao lado do piloto, que queria bater papo e mostrar onde pescava. O voo de 45 minutos pareceu uma montanha-russa. Fiquei molhado de suor dos pés à cabeça. Ainda tive de escutar o controlador de voo dando bronca no piloto, falando que a altitude estava errada. Depois disso, voltei ao Mato Grosso do Sul três vezes, todas por terra. Quando tenho de viajar a trabalho, compro outra passagem de ônibus do meu bolso. Então chego à cidade, pego um táxi, sigo para o aeroporto e encontro o cliente. Fico constrangido em contar meu problema às pessoas. Elas vão dizer: ‘Poxa, um marmanjo desses com medo de voar!’”

Saulo Donizete Nazareth, administrador de empresas

Uma viagem para esquecer

“Em 2010, fui de Zurique, na Suíça, para Nice, na França, pela Swiss. Faltava pouco para aterrissarmos quando começou uma tempestade, e o piloto avisou que não daria para atravessá-la. Voamos em círculos por 20 minutos, quando ele tentou seguir. Não conseguiu. Depois de um tempo, com o combustível no fim, tentou de novo. O avião balançou tanto que as malas caíram dos compartimentos e até uma comissária gritou. Depois, eu nunca mais quis voar e só voltei ao Brasil porque meu intercâmbio havia acabado. Cogitei vir de navio, mas já estava com a passagem comprada. Foram 12 horas sem dormir, sem comer, sem conversar com ninguém. Cheguei com baixa de glicose, quase desmaiei e cancelei todos os voos que tinha marcado para as férias. Em 2012, resolvi fazer terapia em grupo. Já fiz três viagens rápidas. Eu sei que avião é seguro.”

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Ingrid Kristina Gouveia, consultora de desenvolvimento sustentável

Terror em Congonhas

“Sempre tive medo de avião e só fui voar aos 40 anos. Fui escalado para acompanhar um cliente que queria conhecer a fábrica da empresa em que eu trabalhava, em Pernambuco. Na hora do embarque, ele disse: ‘Ainda bem que eu vou com você, que já deve ter voado muito nesta vida’. Morri de vergonha de contar que eu debutava no métier. Ele foi segurando a minha mão durante as três horas de viagem! Ele só não imaginava que eu ia suar em bicas. Mas isso foi pouco. Em 2007, três dias depois do acidente da TAM, fui buscar meu filho em Vitória. O voo de volta a São Paulo foi terrível. O piloto tentou aterrissar, mas arremeteu por falta de visibilidade. Demos voltas e voltas sobre Congonhas. Logo Congonhas! No final, o piloto jogou o avião na pista numa manobra de risco. E eu lá, segurando a mão do meu filho, que não parava de chorar.”

Danilo Mendes da Silva Júnior, consultor comercial

Pronto para a próxima

“Tenho claustrofobia e por muitos anos não conseguia entrar nem em elevador. Avião, então, me dava calafrios, porque gosto de ter controle da situação. Só havia entrado no Fokker 100 do Museu da TAM, em São Carlos (SP). Mas nunca deixei de viajar, fui ao Chile, à Argentina e ao Uruguai… de moto! Cheguei a comprar uma passagem para Curitiba, fiz check-in e tudo, mas amarelei na hora do embarque. Também não consegui ir a Tóquio ver meu Corinthians se sagrar campeão mundial. Tinha guardado dinheiro, mas não consegui apertar o botão para comprar a passagem. Decidi então procurar auxílio terapêutico. Depois de nove sessões, voei para o Rio ao lado da psicóloga e vi a Baía de Guanabara lá de cima. Foi muito mais tranquilo do que imaginava. Acho que estou pronto para a próxima.”

Eduardo Silveira Majarão, advogado

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O amor venceu

“Quando uma conhecida morreu no acidente da TAM, em 2007, fiquei extremamente abalada e achei que poderia acontecer comigo também. Deixei de fazer um monte de coisas, fiquei sozinha em São Paulo num Réveillon porque não quis encarar um voo para o Nordeste. Foram cinco anos sem voar. No ano passado, meu namorado ganhou uma viagem para Madri e queria que eu o acompanhasse. Foi aí que me toquei e decidi fazer terapia. Foram várias sessões até a partida, mas só consegui embarcar porque tinha tomado um ansiolítico. Foi uma viagem tranquila. Depois, fiz alguns voos internos na Europa, sempre me forçando a encarar o desafio. Na volta para o Brasil, já estava tão relaxada que até dormi antes da decolagem! Agora procuro fazer de avião inclusive os trajetos curtos. Se tivesse perdido aquela viagem para a Europa, não teria me perdoado até hoje.”

Luiza Sahd Marques, jornalista

Uísque e boas energias

“Nunca consegui entender como algo tão pesado como um avião pudesse flutuar no ar. Eu via os desastres aéreos na TV e ficava desesperada. Tinha certeza de que seria a próxima a presenciar um. Depois, pesquisando sozinha, entendi que a maioria dos acidentes acontece na decolagem ou no pouso. Até que o avião da Air France caiu no ar! E foi um mês antes de um estágio que eu faria na Tunísia. Quase desisti de viajar. Tentei não dormir no dia anterior para ter mais sono. Não adiantou. No voo, busquei relaxar até tomando uísque, logo eu, que detesto uísque! Depois procurei uma mulher especialista em curar fobias. Ela disse para eu fechar os olhos e me concentrar em energias boas. Passei a fazer isso para não perder as viagens. Poxa, eu adoro viajar! Tem dado certo, mas é sempre difícil. Tento repetir isso e respirar fundo toda vez que entro numa sala de embarque.”

Mariana Resende, médica

Dicas para fazer um voo tranquilo

  • 1 Antes de voar, intensifique as atividades físicas. A endorfina, substância produzida durante o esforço, ajuda a neutralizar a ansiedade. Durante o voo, estique as pernas e atente para a respiração, puxando o ar pelo nariz, segurando no abdômen e soltando gentilmente pela boca.
  • 2 Procure dormir bem na véspera da viagem. “Há pessoas que não dormem de propósito para ter mais sono na hora do voo, mas isso atrapalha o relaxamento”, diz a psicóloga Elvira Gross.
  • 3 Nunca chegue em cima da hora para embarcar. O estresse e a pressa na fila do check-in deixam qualquer um mais nervoso.
  • 4 Prefira o corredor à janela. A paisagem pode ser exuberante, mas, se você não estiver seguro, ver o mundo lá do alto pode desencadear um processo de pânico.
  • 5 Quem tem pavor de turbulência deve escolher as poltronas que ficam entre as asas. É a região mais estável do avião. E, se você treme com o ronco do motor, evite sentar-se no fundo.
  • 6 Evite refrigerantes e café, que são estimulantes. Prefira chás de camomila e cidreira, calmantes naturais.
  • 7 Não se automedique. “Quem utiliza soníferos sem indicação pode dormir o tempo todo. E isso aumenta os riscos de desidratação e trombose”, diz o médico Marcos V. da Silva, do Instituto Emílio Ribas
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