15 músicas africanas para embalar uma viagem ao continente
Escutar a África também é um jeito de conhecê-la
Texto: Lívia Aguiar
Quando você pensa em África pensa no quê? A imagem de um continente pobre, violento, corrupto e com fome é apenas um dos enquadramentos possíveis (o mais pessimista deles) e tem sido desafiada por diversos grupos culturais africanos, seja na música, no cinema, na moda, na fotografia, na literatura, na valorização de sua gastronomia, artesanato e história. Graças à internet, essas produções estão cada vez mais acessíveis para nós, basta procurar.
É impossível falar do continente africano como uma unidade. Assim como a América, Europa, Ásia e Oceania, o continente africano abriga diversos países com passados e presentes complexos, grupos étnicos e religiosos variados, histórias contadas por centenas de pontos de vista, natureza singular, gastronomia rica e inventiva e ritmos musicais únicos.
Um dos projetos que estão produzindo conteúdo diferente e de qualidade sobre a África é o Afreaka, dos brasileiros Flora Pereira da Silva e Nathan de Aquino Giuliano. Os dois já empreenderam diversas viagens à África e visitaram diversos países subsaarianos. Quando for planejar uma viagem ao continente, não deixe de consultar o site deles para ler sobre o que os guias tradicionais não contam!
Nesta matéria musical, procurei apresentar um pequeno enquadramento de uma pintura muito maior, com ajuda da Flora do Projeto Afreaka e também de amigos que já foram à África ouvir o que há de bom por lá. Este é um ponto inicial para você buscar mais do que melhor se ajustar aos seus ouvidos. Aumente o volume e aperte o play!
1. Costa do Marfim – Dobet Gnahoré – “Na Dré”
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Além de cantora, Gnahoré também é dançarina e percussionista. É hoje um dos nomes mais aclamados da música africana. Ganhou o Grammy de Melhor Apresentação de Música Urbana/Alternativa em 2010. Seu pai, um percussionista-mestre respeitado, foi um dos fundadores do Vilarejo Ki-Yi M’Bock”, uma comunidade criada para inspirar criatividade e colaboração artística. Foi neste ambiente efervescente e internacional que Dobet Gnahoré cresceu. Com o primeiro álbum lançado em 2004, a artista compõe em diversas línguas e incorpora variados ritmos em suas músicas, como afrobeat e pop africano.
2. Nigéria – Fela Kuti – “Yellow Fever”
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Considerado um dos mais importantes músicos nigerianos, Fela misturou o jazz, rock psicodélico, highlife nigeriano e cantos tradicionais africanos criando o afrobeat, que desde a década de 1970 influencia músicos de todo o mundo. Multiinstrumentista, o artista tocava principalmente saxofone e teclado, mas também trompete, guitarra e ocasionalmente solos de bateria. Sua imensa banda tinha também um grupo de dançarinas e as apresentações eram consideradas bárbaras e selvagens – in a good way.
3. Mali – Salif Keita – “Yamore”
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Apelidado de “a voz de ouro da África”, Keita condensa elementos tradicionais da musicalidade da África Ocidental com influências europeias e dos Estados Unidos, mantendo estilo de música islâmica. Por ser albino, sinal de azar na cultural Mandinka, foi levado ao ostracismo em sua cidade natal, Djoliba, e se mudou para Bamako em 1967. Lá, se juntou a diversas bandas e começou a ganhar fama internacional como músico, mas teve que fugir da instabilidade política para a Costa do Marfim. Mudou-se para Paris em 1984, onde continua compondo.
4. Serra Leoa – Janka Nabay & the Bubu Gang – “Feba”
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Ahmed Janka Nabay é um dos grandes nomes da música Bubu, ritmo islâmico tradicionalmente tocado por 20 músicos soprando diferentes tamanhos de gaitas de bambu. Gravou um CD em Freetown durante a Guerra Civil de Serra Leoa e então mudou-se para os Estados Unidos em 2003, onde continuou tocando o ritmo de sua terra. Em 2010, formou a Janka Nabay and the Bubu Gang, uma banda completa de bubu juntamente com artistas membros de quatro bandas indies do Brooklyn: Skeletons, Gang Gang Dance e Starring.
5. Camarões – Richard Bona – “Manyaka O Brazil”
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O baixista compõe jazz misturado com ritmos africanos de diversos países. Nascido no Camarões, Bona é atualmente professor de música na Universidade de Nova York e já fez parceria com o congolês Lokua Kanza, o antilhano Gerald Toto e também com o brasileiro Djavan, com quem gravou Manyaka O Brasil.
6. África do Sul – Die Antwoord – “Fatty Boom Boom”
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A banda sulafricana de rap-rave com raízes na cultura zef (da classe trabalhadora de sulafricanos brancos) é despachada, boca suja e sem medo de colocar o dedo nas feridas do país. Preste atenção no começo sensacional desse clipe, que mostra o “safari urbano” com o que os turistas acham que vão encontrar nas grandes cidades da África do Sul (tipo os gringos que acham que vão encontrar macacos, cobras e jacarés nas ruas de São Paulo).
7. Moçambique – Orquestra Marrabenta Star de Moçambique – “Elisa Gomara saia”
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A Marrabenta é um ritmo moçambicano tradicional do país que tem influência europeia. Seu nome vem de “arrebentar”, em referência às guitarras baratas usadas para tocar o ritmo que acabavam por ter suas cordas rompidas de tanto tocar.
Essa música é um clássico da marrabenta interpretado pela banda comandada pelo “Rei da Marrabenta” Fany Pfumo. ”Elisa Gomara Saia” quer dizer “Elisa vai engomar a saia”. Engoma a saia, Elisa, e vem dançar a marrabenta!
8. África do Sul – Miriam Makeba – “Pata pata”
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Também chamada de Mama África, além de cantora, Makeba foi uma grande ativista pelos direitos humanos e contra o apartheid. Nascida em 1932, começou sua carreira nos anos 50 cantando blues misturado com ritmos tradicionais sulafricanos e em 1960 teve lançamento internacional com o documentário antiapartheid Come Back, Africa. Foi ao Festival de Veneza naquele ano para apresentar o documentário e não voltou mais devido às duras condições de sua terra natal. Seus discos foram banidos pelo governo racista sulafricano em 1963, mas isso só alimentou o ativismo de Makeba. Em 1968 teve problemas nos EUA por ter se casado com Stokely Carmichael, um dos porta-vozes dos Panteras Negras, e o casal mudou-se para a Guiné. Com o fim do apartheid, Makeba voltou à África do Sul em 1990 e foi recebida pessoalmente pelo presidente Nelson Mandela.
9. Costa do Marfim – Fatoumata Diawara – “Bissa”
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Diawara combina Wassoulou, ritmo popular do sudoeste do Mali, com jazz e soul, criando uma sonoridade que é ao mesmo tempo familiar e reveladora para quem nunca escutou música africana. O estilo Wassoulou é praticado geralmente por mulheres, que cantam com vos forte acompanhadas de uma harpa. Diawara colaborou com diversos grupos africanos de renome internacional, como Orchestre Poly Rythmo de Cotonou, AfroCubism e Oumou Sangaré, até que gravou o proprio álbum, Fatou, em 2011. É também atriz e hoje vive na França.
10. Angola – Titica – “Chão”
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Titica é um ícone do kuduro, som eletrônico de Angola que mistura instrumentos eletrônicos com folclore nacional. O ritmo também é um estilo de dança de movimentos fortes que exige uma bunda dura (cu duro) para dançar bem – mas quem tem bunda mole também pode, tá? A cantora transexual começou sua carreira nas artes dançando balé e hoje usa o kuduro como ferramenta de conscientização sobre sexualidade e drogas. Chão, sua primeira canção, é a faixa mais tocada da história deste gênero musical!
11. Gana – Blitz The Ambassador – “Ghana Black Stars”
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O rapper ganense mistura batidas afro com o rap. Ele se mudou para os Estados Unidos aos 18 anos e hoje, 14 anos depois, produz música como resultado de tudo que viveu em rap engajado que fica entre a saudade de casa e a vida de imigrante numa nova terra. Com referência forte do afrobeat, Blitz já gravou com Seun Kuti, um dos filhos de Fela Kuti.
12. Marrocos – Hindi Zahra – “Beautiful Tango”
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A África a norte do deserto do Saara não poderia faltar nessa lista! Zahra mistura pegada cigana, vocais com referências ao blues e guitarras sutis que criam uma atmosfera mística. Nascida no Marrocos e residente na França, a maioria de suas canções são em inglês, mas algumas delas misturam a língua berbere.
13. Mali – Amadou e Mariam – “Beaux Dimanches”
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O casal de cegos poetas-músicos do Mali mistura sons tradicionais malineses com guitarras de rock, violinos e trompetes, uma combinação chamada de afro-blues. Ambos perderam a visão na infância/adolescência e se conheceram no Instituto de Bamako para Jovens Cegos, onde se apaixonaram e formaram a parceria amorosa e musical que faz sucesso até hoje. O casal também transforma sua música em veículo de sensibilização. Se tornaram embaixadores contra a fome do programa Africa Mon Afrique e contribuíram para o projeto Enough Project – Raise Hope for Congo, que arrecada fundos para proteção e empoderamento de mulheres congolesas.
14. Cabo Verde – Mayra Andrade – “Ilha de Santiago”
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Filha de pais cabo-verdianos e nascida em Cuba, Mayra Andrade cresceu entre Senegal, Angola, Alemanha e Cabo Verde, sendo que hoje vive na França. Essa mistura de referências se traduzem em uma nova interpretação da música morna, gênero musical tradicional de Cabo Verde cujos instrumentos principais são cavaquinho, clarineta, acordeão, violino, piano e guitarra. É natural da Ilha de Santiago. Esta ilha do arquipélago tem tradição muito mais rítmica (e africana, por assim dizer) que a de São Vicente, onde nasceu Cesária Évora, a cantora cabo-verdiana mais famosa fora do país e “Rainha da Morna”. Andrade chegou a dividir os palcos com Évora antes de seu falecimento em 2010 e é frequentemente comparada à diva.
15. República Democrática do Congo – Mbongwana Star – “Malukayi”
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Misturando ritmos tradicionais congoleses com pós-punk e eletrônico, a banda de Kinshasa busca traduzir a rudeza e complexidade da cidade onde vivem em música pra dançar. É formada por Coco Ngambali e Theo Nsituvuidi, ex-membros da banda Staff Benda Bilili (composta por 5 músicos paraplégicos que tocavam juntos nas ruas de Kinshasa desde 2007) em parceria com os três novos talentos congoleses Jean-Claude Kamina, Makana Kalambayi e Sage e o gringo Doctor L (irlandês radicado na França), que atua como produtor. Em busca de mágica a partir do lixo das favelas, a banda lançou seu álbum de estreia em 2015.
Você também pode ouvir todas essas músicas na Playlist que criamos no Spotify:
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