Antes da tempestade

Quando uma viagem quase dá muito, muito errado

Por Gabriela Aguerre
Atualizado em 23 nov 2017, 11h39 - Publicado em 6 ago 2012, 20h29
O templo de Shwedagon, em Yangon, cinco anos atrás
O templo de Shwedagon, em Yangon, cinco anos atrás (Gabriela Aguerre/)
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A fotografia que você vê acima está um pouco torta, mas não me importo. Eu estava descendo essas escadas correndo – tinha um carro esperando para me levar de volta ao Hotel Savoy, cujo restaurante, aliás, se chamava Kipling, o nome do viajante que mais contou de Mianmar para o Ocidente.

Naquele momento, eu havia pedido ao guia e já amigo, que se chama Tin Htay, mas preferia ser chamado de Michael, um tempo sozinha para fotografar à vontade as últimas cenas de minha viagem por Mianmar.

Molhei nove vezes o altar do meu dia da semana, como Michael tinha me ensinado. Tirei os sapatos, cobri Buda com finíssimas folhas de ouro. Vi a moça de costas perfeitas em pose de oração. Vi o tempo mudar abruptamente — em geral é assim que o tempo muda.

Essas nuvens que você vê na foto dali a segundos desabariam sobre minha cabeça. Isso foi em agosto de 2007, dias antes de a tempestade cair sobre a cabeça de todos eles. Pois uma semana depois de eu ter voltado, ainda com as sensações frescas da viagem, Mianmar aparece, para meu espanto, não só no meu jornal como no noticiário mundial.

Estando lá, eu vi a junta militar anunciar um aumento de 500% no preço dos combustíveis. Estando lá, soube de uma passeata silenciosa de 2 mil monges em Mandalay. Estando lá, senti o clima de terror das pessoas comuns que não podiam expressar livremente o que pensavam. E a coisa piorou.

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Os jornais voltavam a falar do meu Mianmar, que nenhum dos meus amigos conhecia até então, salvo o Mauro Chwarts, que viaja não só por prazer, mas por ofício, e de quem, aliás, comprei o pacote que me levou segura até lá (e me trouxe de volta).

O mundo viu: o fotógrafo caído no chão, baleado no peito, registrando antes de morrer o quebra-pau de militares em cima de civis num ato pró-democracia no mercado que eu havia pisado alguns dias antes. Eu não sabia, mas sofria por Mianmar. Não mais agora.

Pausa da hora do almoço em Mianmar Pausa da hora do almoço em Mianmar

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Pausa da hora do almoço – Foto: Gabriela Aguerre

Gabriela Aguerre no mar de templos do começo desta matéria Gabriela Aguerre no mar de templos do começo desta matéria

Eu no mar de templos do começo desta matéria – Foto: Gabriela Aguerre

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