Arraial do Cabo e Cabo Frio: praias, passeios e até museus

Coladas a Búzios, Cabo Frio e Arraial do Cabo têm passeios de barco, museus, um dos melhores pontos de mergulho do Brasil e um mar de só se ver no Caribe

Por Gustavo Simon
Atualizado em 8 dez 2020, 11h59 - Publicado em 13 set 2011, 20h36
Arraial do Cabo: ser chamada de "Caribe brasileiro" não é exagero algum (Eduardo Azeredo/Getty Images)
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Antes de Búzios, houve Arraial do Cabo. E, antes de Arraial, Cabo Frio. Explicando: as três cidades mais importantes da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, já foram uma só. Arraial e Búzios eram distritos de Cabo Frio que se emanciparam em 1985 e 1995, respectivamente. Talvez por isso nessas duas cidades parte da população tenha um olho torto para o balneário que caiu nas graças de Brigitte Bardot, Luiza Brunet e tantos outros, e que virou sinônimo de badalação upscale. Não foram só uma ou duas vezes que ouvi de hoteleiros, recepcionistas, barqueiros e donos de restaurantes reclamações sobre a vizinha famosa. “O pessoal de Búzios vende os pacotes de turismo no exterior usando imagens das praias de Arraial”, diziam uns. “Eles trazem os turistas de Búzios em dezenas de vans, fazem só o passeio de barco e voltam para lá”, apontavam outros.

No estado do Rio, Búzios só perde para a capital carioca em número de visitantes, e suas 24 praias há tempos são visitadas por argentinos, uruguaios, franceses e americanos dispostos a pagar preços nem sempre razoáveis em pousadas e restaurantes. Mas, a menos de 40 quilômetros dali, Cabo Frio e Arraial têm diferenciais únicos: menos trânsito na alta temporada, preços mais baixos e mar incrivelmente azul.

Cabo Frio talvez seja o melhor exemplo. Tem menos glamour e um turismo mais popular que Búzios, mas vem recebendo receitas importantes da extração do petróleo, e isso vem melhorando a cidade. O aeroporto recebe voos de capitais como São Paulo, Rio e Belo Horizonte. A Praia do Forte, na região central, ostenta um belo calçadão que acompanha toda a orla e que funciona de muro de contenção nos dias em que a maré sobe muito. O vaivém de gente correndo e caminhando, jovens de bicicleta e skate, grupos de amigos batendo papo nos bancos lembra, vá lá, um calçadão carioca – com as lanchonetes e os bares da esquina com a Avenida Nilo Peçanha se passando, com alguma boa vontade, pelo Posto 9 de Ipanema.

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Mas o movimento está longe de se restringir à avenida que segue paralela ao mar. Cabo Frio é toda recortada de morros e canais – a vista panorâmica no Mirante do Morro da Guia ajuda a entender sua geografia -, e as margens desses canais também concentram um tanto de agito, como é o caso da Rua Marechal Deodoro, mais conhecida como Boulevard Canal. Ali há restaurantes, bares, agências de passeios e até um pequeno museu, com obras do pintor modernista Carlos Scliar.

Outro que adotou Cabo Frio foi o pintor gaúcho Carlos Scliar, morto em 2001, que manteve seu ateliê à beira do canal. São várias as obras em que o artista eternizou a paisagem local. O imóvel do século 19 que ele comprou, reformou e ocupou por 40 anos abriga hoje a Casa-Ateliê Carlos Scliar, um dos passeios mais legais da cidade. A prancheta, os pincéis, a paleta, as tintas e os óculos estão do jeito que ele deixou, no 2º andar do sobrado. Ali estão obras de artistas amigos dele, como Bonadei, Di Cavalcanti, Cildo Meirelles e de outros, menos famosos, que conviviam com o pintor. “Quem vem visitar a casa do Scliar diz sentir a presença dele aqui”, me contou Cristina Ventura, administradora do espaço.

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Outro lugar que rende uma visita bacana é o Museu do Surfe. Telmo Moraes, o idealizador do lugar e falecido em 2018 era, claro, um surfista. Até 1995, ele trabalhava como gerente de uma surfe shop e, de maneira despretensiosa, começou uma coleção de pranchas. Ele foi comprando umas, ganhando outras e hoje o lugar abriga o maior acervo da América Latina.

Arraial do Cabo: me belisca

Se em Cabo Frio você pode dividir o tempo entre a praia e os programas urbanos, na vizinha Arraial do Cabo, a 15 quilômetros, quem dita a programação é o mar – e não é qualquer mar. Na estrada que dá acesso à cidade, na curva que contorna a orla da Prainha, basta olhar para a esquerda. Eu mesmo mal acreditei quando vi, a dezenas de metros de distância, o fundo de areia branquinha. E só pude ver porque a água é transparente. Há uma explicação para a nitidez: a localização. “A região fica em uma esquina do continente, e por isso recebe influências de correntes marítimas vindas de todos os lugares”, me explicou o mergulhador Paulo Lopes, que tem uma escola de mergulho na cidade. “A todo momento chegam as correntes frias vindas do sul, que sobem próximo à superfície justamente aqui.” Resultado: o mar está ora num tom azul-caribe, ora levemente mais turvo, mas repleto de vida marinha. Essas correntes têm muito material orgânico, o que atrai uma fauna inigualável. O slogan “capital do mergulho” de Arraial do Cabo não é, definitivamente, oportunista.

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Mesmo quem não está em busca de águas tão privilegiadas se dá bem em Arraial. Uma das atividades mais procuradas são os passeios de barco. Todos os dias as escunas partem do píer na Praia dos Anjos. Barqueiros batem ponto na Praça Daniel Barreto, logo atrás, reunindo os grupos que chegam, a maioria em van, provenientes de Búzios e cidades vizinhas. Eu até temi pelo cancelamento do passeio quando preenchi a lista de passageiros na agência, com só mais dois nomes além do meu. Mas, pouco antes da hora marcada do embarque, foram chegando ônibus e mais ônibus lotados de argentinos. Zarpamos. Foram três horas e meia de música alta, caipirinha à vontade, um guia simpático que caprichava no portunhol e um fotógrafo que insistia para os casais a bordo forçar no romantismo (“Senta no colo dele”, “Beija na boca”…). No píer da Praia dos Anjos há barcos menores para passeios mais tranquilos. Se você conseguir reunir um grupo de pelo menos seis pessoas, acaba valendo a pena.

A cor do mar ao longo do percurso, de um azul-caribe impressionante, compensou o clima formatura em Cancún. A escuna seguiu direto até a Gruta Azul, uma fenda na rocha em que se entra com barco e tudo (as embarcações menores, não a minha escuna). Na sequência, paramos na praia da Ilha do Farol. Se você assistiu ao filme À Deriva, de Heitor Dhalia, vai se lembrar da linda cena final, em que pai e filha brincam no mar, rodada ali. A história é sobre o primeiro amor de Filipa, uma adolescente que passa as férias em Búzios. O diretor apostou nas cores da água de Arraial para conseguir o efeito cinematográfico desejado, como disse à VT. “A região de Arraial tem o mar mais azul que o de Búzios, que na verdade é mais esverdeado”, disse. “As duas geografias são igualmente lindas. Arraial entrou com o tom paradisíaco, quase onírico.”

Não poderia concordar mais com Heitor. Mas como o trecho de areia na Praia do Farol não é dos maiores, e o lugar é parada de todos os barcos de passeio, precisei abstrair da muvuca e da algazarra ao redor para conseguir sentir o tal clima onírico. Não foi difícil. Sem Filipa, mas com um snorkel que aluguei a bordo, saí a mergulhar naquele azul impressionante. A última parada antes de voltarmos à Praia dos Anjos foi no Pontal do Atalaia, essa sim um pouco mais vazia que a do Farol, mas com o mesmo mar azul impressionante. Fui embora da Região dos Lagos com a sensação de que aquele tom azul não deixa tão cedo a minha retina.

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