Beto Carrero World: tamanho-família

Parque de diversões é apaixonante. O Beto Carrero não é diferente

Por Paulo Vieira
Atualizado em 3 ago 2017, 20h53 - Publicado em 27 jun 2012, 20h38

Tá na hora de brincar: todos os destinos para viajar com crianças desta reportagem

Este ano não escapa. Fernanda, minha mulher, fez toda a via-sacra, e os vistos já saíram para ela e minhas filhas. Ela quer, até mais do que Vitória e Dudu, ir a Orlando em setembro ou outubro. Eu falo: “Pra que ir tão longe?”

Falo e mostro a cobra, ou melhor, o Beto Carrero World (betocarrero.com.br; de R$ 44 a R$ 75), em Penha (SC). Foi nossa primeira vez no melhor parque temático do Prêmio VT 2011/2012. Não voamos com o Harry Potter nem tomamos café da manhã com as princesas, mas foi bom demais.

Parque de diversões é apaixonante. Tem de mudar, estrear shows e atrações, do contrário o visitante não volta; e há todo um trabalho para seduzir quem nunca foi. O Beto faz bem esse trabalho. Vem trazendo atrações de peso, como a FireWhip, a montanha-russa que deixa a gente de cabeça para baixo cinco vezes. Tem também um show de malabarismo de carros e motos, o Extreme Show, que muda neste ano para capitalizar com a fanquia Velozes e Furiosos (o looping a 20 metros de altura deve continuar). Tem animais, brinquedos aquáticos e carrosséis clássicos. Tem Ferrari e outros carrões que você pode dirigir nas estradas que dão acesso ao parque e até passeios de helicóptero com quedas e movimentos bruscos para dar uma adrenalina de montanha-russa.

Entramos no parque sem planos. A ideia era se deixar guiar pela Vitória e pela Dudu, de 7 e 3 anos, respectivamente. Poucos passos, e embarcamos num carrossel com elefantinhos, o Baby Elefante. Descobrir que podíamos controlar a altura do elefantinho por meio de uma alavanca na nossa fente foi o máximo. Descíamos e subíamos toda hora, como se perseguíssemos uns aos outros. No fim, a Dudu, com a voz maravilhosa da sua idade, falou: “De novo, de novo…”

Ali mesmo já vimos as xícaras giratórias, que, não sei por quê, são o brinquedo que, para mim, traduz a Disney. Elas rodam por toda a área da atração, parecem que vão bater no bule, as crianças adoram. Mas saí de lá com uma tontura medonha. Só eu.

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Beto Carrero World: tamanho-família Beto Carrero World

Pega-pega no Baby Elefante – Foto: Ricardo Ribas

Embora eu andasse com um mapa, era difícil orientar o passeio. Entramos no teleférico que atravessa o parque. Deu pra ver que, internamente, o bondinho está bem velho e precisa de um lifing. A viagem é bonita, mas dispensável. Em seguida, Fernanda foi andar de pedalinho com a Dudu, enquanto eu e Vitória fomos conhecer a Caverna dos Piratas, uma espécie de trem-fantasma sem trem em que bonecos ensanguentados, grandes aranhas e coisas que caem dão sustos. Vitória pediu para não contar, mas ela ficou com medo e quis sair logo de lá. Também ficaria com medo da Monga, a mulher que vira macaco, se a tivesse visto. Contamos como era essa velha atração, e ela se recusou a ir.

Não fez falta. Porque havia muita coisa para curtir. Fomos diversas vezes ao bonito e inocente carrossel que fica dentro da praça de alimentação. “De novo, de novo.” Vitória deu nome a seus cavalos (Bob e Rebeca); Dudu, também. O tempo passava, e andávamos meio a esmo. Agora era o Faísca, o cavalo branco de verdade que ficou órfão de seu famoso montador, que acariciávamos. Um menino disse: “Ele tá triste desde que o Beto morreu”.

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Victor Hugo Loth, diretor de mídia e criação do parque, me disse depois que Faísca ficou triste mesmo. Está com 16 anos e só sai para fazer exercícios. No show O Sonho do Cowboy, tributo a Beto, morto em 2008, os três cavalos protagonistas são brancos como o Faísca, têm o porte e o tamanho do Faísca. Além deles, são mais 38 atores e bailarinos, que, segundo Loth, foram escolhidos depois de 2 mil audições pelo Brasil. Loth também falou que a ideia do parque é sempre crescer mantendo seu mix de atrações para toda a família. Tradução: a cada atração radical nova, há um show para os vovôs e um carrossel para os pequenos. Para logo, grandes planos: vem aí uma área temática do Shrek com montanha-russa, simulador, show ao vivo; depois, em médio prazo, um parque aquático. “Ocupamos 15% de nosso terreno. Podemos e vamos expandir. Nosso modelo é Orlando, onde as pessoas passam um segundo dia, um terceiro dia, um quarto dia na cidade para conhecer todos os parques.” Por isso, hotéis dentro do complexo também devem surgir.

Conheço as expressões de felicidade das minhas filhas. As produzidas no Beto Carrero e as que serão em Orlando não diferem daquelas de situações triviais em casa, na escola, no carro. Mas não tinha muita intimidade com a expressão de orgulho delas (e da Fernanda também) em me ver tomar o rumo da fila do FireWhip, a tal montanha-russa invertida, o suprassumo da radicalidade do parque. À medida que a fila de cerca de meia hora ia encurtando, capturava flashs de fisson das meninas mandando vibrações quando me viam. Vitória, em sua dramaticidade peculiar, até achou que eu pudesse morrer. Não morri e, se quiser saber, não senti a tal adrenalina de que falam. Preocupava-me com minha calça, que escorregava um pouco na cadeira, mas calculava que o risco de queda era insignificante. Não soltei os braços, não sei se isso faz diferença. Para mim, o melhor foi sentir que minha “hora” chegava, ainda na fila. Algo como a sensação gostosa da tarde do 31 de dezembro, do almoço de um dia de jogo decisivo, quando o melhor vai chegar – mas não tão logo.

Há muito mais no Beto Carrero, e estas páginas dificilmente conseguirão dar conta de todas as sensações lindas, felizes e normais daquele dia. Mas não será difícil guardar na memória por muitos e muitos anos a imagem, na hora de ir embora, da Vitória atacando o algodão-doce e a Dudu, o saco de pipoca. Para finalmente usar com propriedade o slogan publicitário, isso não tem preço.

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