Com turismo abalado, elefantes da Tailândia correm risco

Animal-símbolo do país, os elefantes correm risco de passar fome ou de serem colocados para trabalhar em madeireiras ilegais

Por Bárbara Ligero
Atualizado em 12 jun 2023, 12h19 - Publicado em 27 mar 2020, 18h43
Elefante, Tailândia
Elefante e seu mahout, forma como são chamados os treinadores desses animais (Paula Bronstein/Getty Images)
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Desde o seu princípio, a pandemia de coronavírus está afetando fortemente a economia da Tailândia, país onde o turismo é responsável por 20% do PIB e quase 16% dos empregos. Isso porque, dos 40 milhões de viajantes que visitam o país asiático a cada ano, mais de um quarto vêm da China, onde o surto da doença começou.

O número total de turistas que visitaram o país em fevereiro de 2020 foi 44% menor do que o do mesmo mês do ano passado. Além disso, na quarta-feira (25) o governo tailandês anunciou que impedirá a maior parte dos estrangeiros a entrar no país, que já tem mais de mil casos confirmados de coronavírus.

Essa redução repentina do turismo levou ao fechamento de dezenas de parques e de outras atrações turísticas relacionadas aos elefantes, que são o animal-símbolo da Tailândia. Em entrevista ao New York Times, a gerente geral do Parque de Elefantes Maetaeng disse que 85 empresas desse tipo no norte do país suspenderam suas atividades devido à falta de visitantes.

Os locais, que costumavam receber até mil turistas por dia, estão contando nos dedos de uma mão a quantidade de visitas. O maior problema enfrentado por eles é como alimentar os animais, que geram um gasto com comida de até US$ 40 por dia. Para efeito de comparação, o valor é três vezes maior que o salário mínimo diário da Tailândia.

A situação levanta uma discussão antiga sobre a exploração dos elefantes no turismo. Há mais de quatro mil anos os animais são usados pela população local para trabalho, transporte e até guerra. Até 1989, os bichos eram usados para arrastar troncos em madeireiras.

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Quando a atividade foi proibida, os donos dos elefantes começaram a usá-los como forma de entretenimento ou andavam com eles pelas ruas de Bangkok pedindo esmolas. A segunda prática também se tornou ilegal, mas o uso dos elefantes em atrações turísticas continua acontecendo.

Agora, no contexto de paralisação da indústria do turismo, o medo é que os animais passem fome ou sejam colocados para arrastar troncos de forma ilegal na fronteira com o Mianmar e o Laos. Segundo Soraida Salwala, da Fundação Amigos do Elefante Asiático, ali ainda existem minas terrestres remanescentes dos conflitos da região e os elefantes podem acabar pisando nelas.

Por que não soltam os elefantes na floresta?

Estima-se que, atualmente, existem 2 500 elefantes livres e 3 500 em cativeiro – desses, 75% foram retirados da natureza. Ainda assim, soltar os elefantes domesticados na floresta não é uma opção. Além de não saberem mais buscar alimentos sozinhos, eles estariam competindo com os elefantes selvagens.

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Como ver os elefantes de forma ética?

Mesmo que estejam em cativeiro, os elefantes continuam sendo animais selvagens. Durante seu treinamento, os elefantes são amarrados, ameaçados com chicotes e varas e passam fome e sede.

A World Animal Foundation estima que há mais de 1 300 elefantes vivendo sob condições terríveis, que incluem dormir em estradas, ficar acorrentados a maior parte do dia, viver sozinhos, trabalhar longas horas carregando gente nas costas e não ter acesso a comida adequada ou a cuidados veterinários.

Por isso, o ideal é que os turistas só entrem em contato com os animais em refúgios e evitem qualquer atividade que envolva montar neles.

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