Como consegui ganhar o bilhete de primeira classe num voo nos EUA
O dia em que dei uma força para os brasileiros embarcarem em Detroit e fui premiada com um bilhete de primeira classe no voo de volta para o Brasil
Se você, como eu, só viaja em classe econômica, garanto que já sentiu uma invejinha quando fez o trajeto até a poltrona e, ao passar pelas espaçosas executiva e primeira classes, notou muitos assentos vazios.
Perguntei no Facebook da Viagem e Turismo se os leitores teriam dicas para conseguir um upgrade, e a maioria disse que o segredo era vestir-se bem, fazer o check-in cedo, ser cordial e sorridente. Pois bem, eu não me encaixava em nenhum dos itens anteriores e mesmo assim me dei bem.
Eu voltava do Alasca para o Brasil e já tinha encarado duas conexões: Seattle, Nova York e finalmente Detroit, de onde voaria para São Paulo. Eu estava mal-humorada, com olheiras e uma maldita dor nas costas.
Depois de correr com um skate longboard embaixo do braço pelos corredores do aeroporto de Detroit, cheguei à área de embarque a tempo de presenciar o alívio: o voo estava atrasado.
A situação começou a ficar caótica quando, depois de três horas, brasileiros daquele mesmo voo começaram a bradar suas reinvindicações em bom português, ao que o atendente da Delta respondeu: “I don’t speak Spanish”. Compadecida com a situação, passei a traduzir os casos mais importantes, como o de uma senhora que precisava de mais remédios para o coração.
Os problemas vieram em cascata, até que me peguei explicando que não, eu não era funcionária da companhia, mas foi difícil manter esse discurso quando a atendente Fay me colocou para anunciar no alto-falante: “Os cupons de US$ 12 para alimentação podem ser retirados aqui”.
Por fim, chamei as fileiras pela ordem, validando cada cartão de embarque (pois é, eu deveria ser contratada). Quando chegou a minha vez, recebi um novo cartão de embarque com meu novo assento, o 1A. Olhei desconfiada para Fay, que sorriu, agradeceu a minha ajuda e me desejou um ótimo voo – na primeira classe!
Fucei o nécessaire azul-marinho, babei no cardápio e aceitei uma taça de vinho para acompanhar a entrada de queijos e presunto cru. A salada veio em seguida, e no prato principal eu já estava pedindo arrego, mas provei o peixe e emendei a sobremesa.
Deitei minha poltrona até que ela se parecesse com a minha cama, me cobri, máscara nos olhos, e boa noite. Só acordei no Brasil, descansada e com uma convicção: primeira classe faz muito bem pra coluna.
Texto publicado na edição 220 da revista Viagem e Turismo (fevereiro/2014)