Confissões de… Um comissário de voo internacional

O dia a dia de um comissário de voo internacional

Por Camilla Veras Mota (editor)
Atualizado em 14 dez 2016, 12h00 - Publicado em 15 set 2011, 14h22

Brasileiros e japoneses são passageiros semelhantes. Ambos costumam ficar quietinhos na poltrona e só levantam quando aterrissamos. É por isso que Brasil e Japão são destinos concorridos entre os comissários. Os irlandeses também são ótimos! Em compensação, voos para Tel-Aviv e para algumas capitais da Europa são um aborrecimento: os passageiros ficam zanzando pelo corredor o tempo inteiro, são inquietos e reclamam de tudo.

Quando fazemos voos intercontinentais, sempre nos hospedamos em hotéis quatro e cinco-estrelas, onde somos mimados com serviço de lavanderia e internet. Acho que é a parte mais glamourosa do trabalho – já que, viajando por conta própria, dificilmente teríamos condições de bancar um Hyatt, por exemplo. Meu favorito é o Intercontinental de Amã, na Jordânia.

Somos conhecidos pelo comportamento festeiro. Já ouviu aquele ditado que diz: “O que acontece em Vegas fica em Vegas?” Ele é meio que nosso lema, mas vale para qualquer lugar onde desembarcamos. Exploramos os hotéis mais que qualquer hóspede: vamos à academia, usamos a piscina, a sauna e, claro, o bar. É ali que nos reunimos à noite para tomar drinques, conversar, beber mais um pouco, entortar mais uns copos…

Se a noite render, podemos subir acompanhados de alguém que conhecemos naquele “tour” oportuno pela academia e pela sauna. Aliás, há em algumas cidades gente que “caça” comissários! Na maioria das vezes nos contentamos com uma boa balada, mas existe quem dê uma de rock star e saia causando pelo hotel. Conheço um grupo de funcionários de outra companhia que foi do bar à sala de computadores do hotel e quebraram tudo o que havia lá dentro.

Acho que os comissários ainda figuram entre as fantasias sexuais de um monte de gente, mas bem menos do que há 20 anos. Hoje não existem tantos pré-requisitos físicos para ingressar em nossa profissão: a antiga Pan Am só contratava mulheres e estipulava idade, peso e altura de suas funcionárias. Você acredita que as comissárias tinham de se pesar antes de embarcar? Hoje não é mais assim. Uma de nossas colegas, por exemplo, tem 80 anos de idade.

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Sexo no avião é cada vez mais raro. Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, por questão de segurança, não podemos mais deixar duas pessoas ir ao banheiro juntas. Lembro-me de um voo, há 15 anos, quando comecei, em que dois belos desconhecidos se sentaram lado a lado e embalaram uma conversa animada. Meus colegas logo disseram que eles iam “acabar no banheiro”, mas não botei muita fé. Meia hora depois, os assentos estavam vazios. Então pegamos uma garrafa de champanhe, esperamos em fila até que a porta do banheiro abrisse e, assim que eles saíram ainda ajeitando a roupa, gritamos em coro: “Welcome to Mile High Club*!”

* Mile High Club é uma expressão americana que identifica pessoas que fazem “aquilo” no avião

Nosso comissário secreto é americano e trabalha há 17 anos em uma grande companhia aérea de seu país

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