Exposição em Berlim tem estátuas comunistas que foram enterradas

Até a escultura da cabeça de Lênin, que foi sepultada com o fim da Alemanha Oriental, pode ser vista; exposição também mostra símbolos da época do nazismo

Por Isadora Pamplona
Atualizado em 20 fev 2017, 17h22 - Publicado em 20 fev 2017, 12h00
Um busto enorme de pedra com feições detalhadas do revolucionário Lênin. Ao lado, uma mulher toca na escultura, que tem o dobro de seu tamanho.
Cabeça de Lênin na exposição "Enthüllt. Berlin und seine Denkmäler" (Sean Gallup/Getty Images/)
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Berlim, 2015. Nos confins da antiga capital da Alemanha Oriental, uma escavadeira ergue de uma cova descomunal uma carga de 3 toneladas e meia. Um frisson toma conta dos presentes – as feições esculpidas no granito vermelho são inconfundíveis.

Sim, desenterraram a cabeça de Lênin. O que mais parece cena de ficção científica ou uma espécie de revanche comunista pós-queda do Muro ocorreu de fato.

A explicação por trás do episódio está em uma exposição inaugurada em maio deste ano na Zitadelle Spandau, uma fortaleza medieval a oeste de Berlim.

Enthüllt. Berlin und seine Denkmäler (“Revelados. Berlim e seus Monumentos”, em tradução livre) é um dos eventos mais falados do momento.

A mostra reúne uma série de esculturas encomendadas por estadistas em diferentes períodos da história e que acabaram sendo arrancadas da paisagem urbana, algumas enterradas a sete palmos.

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Uma das peças mais polêmicas é a cabeça do líder soviético, cuja imortalidade hoje em dia talvez se deva mais à ficção. Quem viu o filme Adeus, Lênin deve lembrar da cena da escultura sobre-voando Berlim Oriental, suspensa por um helicóptero.

A cabeçorra de 1,70 metro que está exposta é na verdade só uma pecinha de um colosso de 19 metros de altura que ficava na antiga Praça Lênin, atual Nações Unidas.

Outro destaque são as 70 estátuas de personalidades germânicas que se enfileiravam em um bulevar do Parque Tiergarten. Elas foram comissionadas pelo último imperador alemão, Guilherme II, e décadas depois varridas da cidade no processo de desnazificação da Alemanha, uma política que buscava extirpar o ranço nacionalista do país então ocupado.

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Para os alemães, a exposição toca em feridas ainda abertas. Na sala dedicada à Guerra Fria, com estátuas que um dia ornaram a Berlim comunista, foi possível identificar entre os visitantes quem estava de que lado do muro: alguns, visivelmente emocionados, viam aquilo como um réquiem amargo, outros conseguiam até achar graça do delírio de uma época.

Isadora Pamplona, autora do texto
(Divulgação)

A exposição foi indicada por Isadora Pamplona, jornalista e defensora da ideia que monumentos devem ser expostos e discutidos publicamente

Texto publicado na edição 254 da revista Viagem e Turismo (dezembro/2016)

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