O casamento dos sonhos no Vale do Loire
No lugar de um bufê, um cenário de filme. Na lista de convidados, só os íntimos. A viagem mais importante na história de um casal, narrada pela noiva
“Dentro desta caixa de madeira tem um vinho da região de Bordeaux, onde nasci, e que produz os melhores rótulos da França. Junto coloquei as respostas que me deram contando os motivos pelos quais vocês decidiram se casar. Quero que daqui a cinco anos apreciem este tinto, pensem neste dia especial e releiam o que escreveram.” Foi assim que a cerimonialista Jean Sait finalizou a minha cerimônia de casamento com o Álex debaixo de uma fondosa árvore nos jardins do Château d’Artigny, em Montbazon, na região do Vale do Loire.
Eu e Álex morávamos juntos havia cinco anos, mas, toda vez que ele tocava no assunto casamento, eu desconversava. Meu argumento favorito era: prefiro viajar a subir ao altar! Até que, dois anos atrás, programamos nossas férias: San Francisco, Napa Valley, Los Angeles e Las Vegas. Ele logo me disse que estava preparando uma grande surpresa. Um show incrível? Um vinho com meu nome? Quando comentei no trabalho, minhas amigas disseram: ‘Certeza que ele está preparando um casamentosurpresa!’ Mas não. Foi apenas um passeio de balão. Vendo minha decepção, ele propôs trocarmos alianças em Vegas. Até checamos os preços da Little White Chapel – o pacote mais barato custava US$ 229 –, mas não me animei.
Ao completarmos nove anos de namoro, tomamos a decisão. Álex tinha estado em uma cerimônia em Reims, na região de Champagne, e brincava que íamos nos casar lá. Ele sabia para quem estava falando. Eu adoro a França, sou uma romântica incorrigível, suspiro vendo filmes e sempre adorei histórias com casamentos em que famílias e amigos viajam para a festa, como no impagável O Melhor Amigo da Noiva.
Pela internet procuramos por uma wedding planner. Caso você não saiba, essa é uma figura muito conhecida das noivas, que sugere locais para a cerimônia, indica serviços, ajuda a decidir detalhes e contrata os fornecedores. Nossa escolhida foi Caroline Berthe-Altimani, da empresa Chateau and Villa Weddings. Por recomendação dela, optamos pelo Vale do Loire, que recebe turistas do mundo todo para se casar e cujos hotéis já têm a infaestrutura necessária.
Foram cinco meses de preparativos, que passaram voando. Logo às 8 horas daquele almejado 19 de agosto eu estava no spa daquele castelo de 1919 transformado em hotel de luxo. Era ali que eu ia me arrumar, casar e começar uma nova vida. Nós e nossos 21 convidados, entre pais, irmãs, cunhados, sobrinhos, tios e avós, estávamos distribuídos por 12 quartos. Para a preparação das meninas, acionamos cabeleireiras e maquiadoras fancesas. Mesmo enviando fotos de penteados com semanas de antecedência, elas não conseguiam arrumar meu cabelo do jeito que eu queria. Foram três tentativas até que eu desistisse e optasse por uma simples trança embutida. Do pouco que entendi (eu não falo bem fancês), elas alegavam não ter a “técnica” para fazer o que eu estava pedindo. Isso não tirou o meu bom humor. O único problema foi um atraso de duas horas. Mas, pardon, eu era a noiva.
Terminei de me arrumar no quarto dos meus pais, no terceiro andar, de onde tínhamos uma bela vista para o Vale do Indre – bem atrás do castelo passa o rio de mesmo nome. Enquanto minha irmã mais nova, Marília, fechava meu vestido, um pedaço da renda descosturou. Uma camareira portuguesa muito simpática consertou o detalhe com a peça já no meu corpo. Álex se preparou no nosso quarto, no segundo andar.
Vida em cor de rosa
Logo ao descer as escadas daquele palacete, eu me emocionei. As lágrimas vieram com os primeiros acordes de La Vie en Rose, música que escolhi para minha chegada. Toda a decoração foi feita em tons de lavanda e roxo, com rosas, hortênsias e lisiantos.
A cerimônia foi realizada em inglês, e minha irmã do meio, Gabriela, serviu de intérprete. Minhas avós, Anna e Alice, levaram as alianças. A Débora, amiga que nos apresentou, relembrou como nos conhecemos e leu um texto da mineira Adélia Prado sobre o amor. Meus pais, Claudio e Gláucia, caíram no choro. Apesar do dia de sol, um vento agradável não deixava o calor incomodar. Nada de nuvens no céu. Hóspedes e funcionários pararam para ver a celebração e bateram palmas. Ao som de All We Need Is Love, Álex e eu recebemos uma chuva de pétalas de rosas e saímos caminhando pelo gramado com nossos familiares vindo atrás, dançando. Na França, chuva de arroz é proibida, mas nem fez falta.
Na lateral do castelo, brindamos com espumante de uma vinícola de 1893 que havíamos conhecido no dia anterior, a Marc Brédif. No coquetel, foram servidos alguns aperitivos deliciosos, como mini-hambúrgueres de foie gras, infusão de melão com melancia, gazpacho com camarões e pedacinhos de abacate. Seguimos então para um dos salões do château para o almoço. Fizemos uma bela entrada, dançando Cheek to Cheek. Assim como nos filmes que mostram o cotidiano da realeza, eu tinha pedido à Caroline uma única mesa para acomodar todos os 21 convidados. Estávamos mesmo dentro de um filme.
No menu, lagostim com molho de cenoura e gengibre, filé mignon com foie gras e minilegumes, prato de queijo Sainte Maure, tortinha de morango com espuma de limão e petits-fours. Fiz uma surpresa para o meu noivo e levei bem-casados da Dona Conceição, famosos em São Paulo. Chorei de rir quando vi o pessoal do hotel trazendo o bolo em um carrinho. Eles tinham espalhado metade dos bem-casados, desembrulhados, por cima do bolo. Corri para explicar que não era bem assim e coloquei os restantes embrulhados nas laterais. Na França, a tradição nem é a do bolo. Eles fazem um cone coberto por profiteroles espetados com palitos que os noivos vão retirando enquanto posam para fotos. Neste caso, o chef do château abriu uma exceção e se predispôs a criá-lo. Não era lá grandes coisas: um grande pudim de chocolate e damascos, mole, que logo começou a entortar. O único ponto negativo de uma recepção adorável.
Das coisas simpáticas: os músicos que contratamos amavam o Brasil e pediram para tocar bossa nova cantando em português. Toda a família caiu na dança. Decidi lançar o buquê com o Vale do Indre ao fundo. O fotógrafo Jacques Mateos, cujas fotos ilustram esta reportagem, alertou-me para não jogar com força. “No último casamento que cliquei aqui, a noiva jogou com muita vontade, e as flores foram parar lá embaixo!”
Meu único tio presente, o Silvanei, estava animadíssimo. “Esse casamento de princesa tem de virar tradição de família. Suas irmãs precisam fazer igualzinho!”, dizia, palpitando sobre os próximos destinos, “Grécia ou Caribe”. Terminada a festa, parte da turma trocou de roupa, seguiu para a piscina e aproveitou o finalzinho da tarde.
Na ponta do lápis
Você pode achar que tudo isso foi caríssimo. Não foi. Casar em um castelo do Vale do Loire, com passagens aéreas, hotéis e passeios, saiu mais em conta do que se fizéssemos a festa em um bufê de São Paulo. Até o cachê da Caroline, nossa wedding planner, saiu por um terço do valor cobrado aqui. A maior dificuldade foi ajustar o número de convidados – de 100 para pouco mais de 20. Só os muito íntimos mesmo. O melhor de tudo talvez tenha sido a duração da festa: cinco dias! Caroline fechou um ônibus para nos levar a todos os cantos, sugeriu passeios e até contratou uma guia que falava português. Assim, o nosso pequeno grupo de excursão conheceu o Château de Chenonceau, dentre outros pontos obrigatórios. No La Cave, em Montlouis-sur-Loire, emendamos o pôr do sol em um jantar delicioso com direito a bolo de aniversário da minha mãe e do Rafael, namorado da minha irmã Gabriela.
E, como boa parte da família não conhecia Paris, ficamos três dias. Fizemos o tradicional: Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Louvre, Sacre Coeur, compras na Champs Elysées. Na Pont des Arts, Álex e eu nos rendemos à tradição – oficialmente proibida, confessamos – e prendemos nosso cadeado. No La Crémaillère, em Montmartre, nossas sobrinhas pularam o escargot e passaram o jantar à base de pão. No cruzeiro pelo Sena, minha cunhada tirou o pai para dançar, animando os demais turistas. Minhas avós e minha sogra visitaram a Igreja da Medalha Milagrosa.
Paris teve um momento só para nós dois: a sessão de fotos. Além do vestido de noiva, eu tinha levado outros dois modelos bem românticos. O mesmo fotógrafo da cerimônia nos conduziu para locações perfeitas. As pessoas passavam por nós, desejavam felicidades, sorriam com cumplicidade e pediam para fazer fotos. Até abraços eu ganhei. Algumas amigas acharam a ideia cafona, mas o resultado ficou incrível. Você não acha?
Destino: o casamento por Marina Valle
A tendência do destination wedding, ou casamento em um certo destino, chegou ao país há pouco tempo e vem conquistando os brasileiros, que têm ido cada vez mais longe para trocar as alianças – a um castelo na Europa, a uma ilha particular no Caribe, a um navio de cruzeiro pelo Atlântico, ou até mesmo às irreverentes wedding chapels de Las Vegas.
Viagem em grupo
Nessa modalidade, o casal tem a chance de levar consigo seus convidados, geralmente amigos e familiares mais próximos, proporcionando também a eles uma experiência especial. “Como casamentos do tipo demandam maior planejamento e esforço por parte dos convidados, o ideal é avisá-los com a antecedência de dez meses a um ano”, recomenda Jacqueline Mikahil, autora do livro Destination Wedding – O Casamento Como Destino (M Luz Editora) e diretora da Be Happy Viagens. Assim os convidados têm tempo suficiente para organizar não só a agenda de férias, como também o orçamento – uma vez que não é sempre que os noivos arcam com os custos da viagem de todos. “Para muitos convidados, a cerimônia se torna um pretexto para uma escapada gostosa”, diz ela.
No meio do caminho
Para quem se casa com estrangeiros, eis uma saída esperta. Esses casais acabam aderindo ao destination wedding por questões práticas: escolhem um destino como ponto de encontro para celebrar. Foi o que fizeram Marília Dinamarco, de São Paulo, e David Gross, de Londres, que se casaram em israel por motivos religiosos e também para facilitar a ida das famílias e amigos para lá. “Temos parentes em todos os cantos. Escolher israel foi a opção mais fácil de agregar todos eles”, conta Marília.
A festa é nossa
Em alguns casos, o destination wedding é uma solução para fugir dos compromissos sociais, ou seja, da festa tradicional para centenas de convidados. Casamentos em cruzeiros marítimos, resorts no Caribe e em cidades turísticas nos Estados Unidos estão entre as opções mais econômicas, com oferta de pacotes que agregam todos os serviços em um só local, o que torna o preço final do evento mais atraente.
Cerimonial: aqui e lá
Algumas assessorias de eventos no Brasil realizam casamentos em outros países, entre elas a Wedding & Co. (11/3078-4043, weddingco.com.br), a Boutique de Três (11/3525-7570, boutique detres.com.br) e a Moceppas (11/8191-9909, moceppas.com.br). Inicialmente a distância, elas coordenam todos os detalhes da cerimônia e da recepção. E ainda podem se encarregar de tratar com uma agência de viagens para solicitar as reservas e as passagens aéreas para noivos e convidados. O orçamento varia conforme o caso, mas o preço dessa mãozinha na roda costuma girar entre R$ 20 000 e R$ 40 000.
Como funcionam os sites de lista de lua de mel?
Eles simulam uma boa e velha lista de casamento tradicional, mas, em vez de presentes, entregam aos noivos todo o valor arrecadado – uma maneira elegante de receber dinheiro. Como? O casal cria uma página customizada em um dos sites, nos quais é possível escolher entre dar uma parcela do valor do pacote da viagem, das passagens ou da estada no hotel; ou presenteá-los com experiências como valejantar romântico ou spa day.
Como funcionam as cotas de lua de mel das operadoras?
Os noivos podem comprar a viagem antes (a melhor estratégia para garantir as reservas), abrir a lista para os convidados e receber os depósitos como reembolso; ou deixar para definir a viagem perto do casamento, dependendo do dinheiro arrecadado. A questão é que, aqui, é bem provável ter menos roteiros disponíveis, já que muitos convidados fazem o depósito na última hora.
Love, love, love ##– Destinos de lua de mel na reportagem da Viagem e Turismo