Occupy a comunidade

A nova fronteira do turismo carioca são as festas, o jazz, as lajes das favelas pacificadas

Por Rachel Verano
Atualizado em 16 dez 2016, 08h04 - Publicado em 4 abr 2013, 16h26

Rio, sábado à noite. Já passava das 22 horas, e na fila da balada havia por baixo umas 200 pessoas. Cacifei uma mesa no restaurante japonês logo em frente e pedi uma saquerinha de kiwi enquanto aguardava a porta da festa abrir. Aquela cena, em pleno verão carioca, poderia estar acontecendo em uma das muitas esquinas de Ipanema ou do Leblon. Mas o cenário era um galpão que funciona como oficina mecânica de dia em pleno Morro do Vidigal.

Desde que as favelas começaram a ser pacificadas e ganharam a presença das UPPs, cariocas e turistas têm aproveitado cada vez mais os roteiros morro acima. O clima que testemunhei era amistoso e de integração com a comunidade, ainda que os locais sejam minoria. Chegar nem sempre é fácil. É raro encontrar um taxista que tope encarar as ladeiras. Sorte que os moradores de algumas favelas criaram um sistema de traslado com vans e mototáxis. A organização dos eventos também não costuma ser um primor. Naquela noite, no Vidigal, eram mais de 2 da madrugada e o cantor Otto ainda não havia subido ao palco, sendo que o show estava marcado para as 20 horas.

Nada disso, no entanto, desencoraja os entusiastas. Em outra ocasião, na entrada do hostel The Maze, na favela Tavares Bastos, famoso pelas noitadas de jazz e rock, ouvi do porteiro: “Seguinte: a cerveja tá quente, a água acabou, a fila do banheiro tá enorme, e o calor, insuportável! Querem entrar mesmo?” Siiim! Nós nos acotovelamos lá dentro até o fim da jam session, 4 da madrugada. E, embora tenhamos descido a pé os 2 quilômetros de ladeira até o Catete – havia uma multidão disputando os raríssimos e loucos mototaxistas –, o programa valeu as bolhas nos pés. Por falar nisso, neste mês está sendo lançado o Guia Gastronômico das Favelas do Rio (editora ArteEnsaio), com os endereços das melhores lajes. Não vejo a hora de voltar e provar o frango no bafo do Morro dos Prazeres. So long, asfalto.

→ *Rachel Verano gosta da vida como ela é. No morro e na Zona sul

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