Panamá: pequeno notável

Compras, hotelões a bons preços e um Caribe encantador ainda por ser descoberto. O Panamá é muito mais do que seu famoso canal

Por Betina Neves
Atualizado em 16 dez 2016, 08h14 - Publicado em 13 dez 2012, 16h04

Embora não tenha o tamanho de Santa Catarina, o Panamá vive causando. Há 3 milhões de anos, a tripinha que emergiu das profundezas da Terra transformou um oceano em dois, uniu continentes e mudou para sempre o clima e a biodiversidade da região.

A faixinha de terra de 80 quilômetros em média, entre o Pacífico e o Mar do Caribe, tornou-se ao longo dos tempos um lugar disputado. Os espanhóis, no século 16, usaram-no como entreposto de distribuição para suas colônias do Pacífico, ainda que as montanhas e a floresta tropical não lhes dessem vida fácil. O Panamá se libertaria da Espanha no século 19, mas passaria a integrar a Colômbia até 1903, quando os americanos entraram em cena. De olho no controle do que viria a ser o Canal do Panamá, Tio Sam ajudou a minar a relação com a Colômbia. Em 1914, a ligação entre os oceanos foi inaugurada e os americanos mantiveram até 1999 uma longa soberania sobre o Canal.

Hoje o Panamá, com seus 3,5 milhões de habitantes (1,4 milhão na capital, Cidade do Panamá), vive um bom momento econômico. A ampliação do Canal, prevista para 2014, tem ajudado o país a manter uma taxa de emprego elevada e a diminuir a enorme desigualdade social, comparável à do Brasil. Hub natural do continente americano, tem facilidades para o turista, como um seguro de saúde gratuito válido por 30 dias e o uso sem cerimônia do dólar americano, a moeda oficiosa do país, aceita em qualquer situação. As atrações do país vão além do Canal, da Zona Livre de Colón (segunda maior área livre de impostos do mundo, depois de Hong Kong) e dos hotelões cinco-estrelas de bandeiras americanas com diárias desde US$ 150. O que vai além pode ser traduzido por uma palavra: Caribe.

Com os primeiros voos da Copa para o Brasil, em 2000, o Panamá passou a existir para nosotros. Hoje são 74 fequências semanais partindo de sete capitais brasileiras. Em 2011, cerca de 47 mil compatriotas visitaram o Panamá, número comparável ao de brasileiros em Cancún. “Está sendo ótimo. Com o que gastaríamos num resort na Bahia, vimos um país diferente, com direito a comprinhas”, disse-me a advogada Clara Martins, de São Carlos (SP), que passeava pelo shopping Albrook, na Cidade do Panamá, com o marido e os dois filhos (veja mais sobre compras no país na próxima página).

Miami com tapumes

Ao aterrissar na Cidade do Panamá, pensei que chegava a uma Miami sem muito glamour – e cheia de tapumes. Ao longo da Cinta Costeira, o calçadão que contorna a Baía do Panamá, há ruas interditadas para a construção de um metrô, previsto também para 2014. Para o ano que vem, deve ficar pronto o Biomuseu, o primeiro projeto na América Latina assinado pelo badalado arquiteto canadense Frank Gehry. O edifício terá oito galerias e um jardim botânico e deverá contar a história biológica do país.

A região central da Cidade do Panamá impressiona por seu skyline de metrópole moderna, cada vez mais adensada. Sobressaem The Panamera, o único Hotel Waldorf Astoria da América Latina, e o edifício em forma de vela de 70 andares que abriga o Trump Ocean Club, o primeiro hotel do magnata Donald Trump fora dos Estados Unidos. Eu me hospedei ali. No lobby, quem nos recepciona é uma senhora de proporções generosas, deitada languidamente de bruços. Não é o que você está pensando, mamas uma escultura do colombiano Fernando Botero, Donna Sdraita con Fruto. As 369 acomodações do hotel são pomposas, mas o que impressiona mesmo são as piscinas de borda infinita que parecem cair no mar daquele 13º andar. Admire dali a noite e as luzes da cidade e aproveite a brisa para se refescar do calor constante de 31 graus.

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O Panamá colônia, ou o que seria um Panamá planta baixa, está no lado oposto da baía, no Casco Antiguo, do século 17. Entre construções como o Convento de Santo Domingo e a Catedral Metropolitana estão casinhas coloniais que guardam restaurantes, bares, lojinhas de design, galerias de arte e alguns hotéis- butique. Os tapumes da cidade em transformação atrapalham o footing, e a iluminação deficiente à noite inibe a circulação. Vale, de toda forma, pegar uma mesa no Manolo Caracol, restaurante de um espanhol figura cujo propósito em vida deve ser emborrachar seus clientes com um vinho igualmente espanhol que serve como cortesia. A comida é muito recomendável. Optei pelo menu de nove pratos, com direito a lagosta macia e suculenta, que custou US$ 37. Ao sair de lá, uma cena inesperada: vi a rua ser invadida por mulheres usando vestidões rendados (as polleras) e que faziam um auê com tambores e também distribuíam colares de contas e mojitos para quem passava. Era uma promoção de um bar que aniversariava. A festinha colonial, mesmo que fake, me trouxe uma sensação de estar no lugar certo na hora certa. Ali estava o Panamá colorido, dançante e chévere (“maneiro”, para os locais) que eu ainda não havia descortinado na capital dos edifícios metálicos e imponentes.

Panamá: Um dia de ócio em San Blás

Um dia de ócio em San Blás – Foto: Alvaro Leiva/Keystone 

Vai dar praia

Os panamenhos, que jogam beisebol e são bons também no atletismo, têm uma reação meio clubística quando você lhes pergunta onde pegar uma praia. Surfistas que vão para o lado do Pacífico à parte, a questão tem cores exclusivamente caribenhas. Há os que morrem de amores por San Blás, e há os do time de Bocas del Toro.

San Blás, que figurou entre os 100 destinos mais bonitos do mundo da VT de outubro, é uma das sete regiões indígenas semiautônomas do país. O arquipélago é comandado por 50 mil índios kunas. Há 365 ilhas – e só 10% disso é habitado. Se você não é kuna, mas pretende abrir um negócio ali, a saída é se casar com alguém da tribo – aquilo que o antropólogo Darcy Ribeiro chamava de “cunhadismo” no Brasil.

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Para chegar a San Blás é preciso dirigir por três horas em uma estrada de curvas ingratas desde a capital. Aí, uma rápida travessia de barco leva a ilhas como Aguja e Perros. Mas há outras, muito mais distantes da costa, acessíveis por voos (da Air Panama, US$ 75). A principal ilha é El Porvenir. Se o Panamá está ainda por ser descoberto, San Blás está em um estágio anterior. Muitas das ilhas são ocupadas apenas por coqueiros. A cor da água, que varia entre o verdeclaro e o turquesa, hipnotiza e deixa ver recifes de corais em alguns pontos. Há hotéis, ou quase isso, com cabanas com banheiro nas quais ventilador de teto e água quente são quase uma extravagância. O tempo passa devagar, e a vida pode ser muy dulce quando se espera pelo peixe fesco com patacones (banana-daterra fita) em um quiosque pé na areia.

Contas e lenços

Os kunas, que podem parecer um tanto refatários no começo, acabam por se aproximar, especialmente quando querem vender ao turista um passeio de barco. E, apesar de os mais novos estarem de bermuda e portarem smartphones, a língua é preservada e as mulheres usam trajes típicos: contas coloridas nos tornozelos, lenços na cabeça e roupas com aplicações de camadas de tecidos, um estilo de artesanato chamado mola. Os kunas vendem painéis e pulseiras de mola, suvenires bacanas que você vai ver em lojas pelo país. Mas é mais recompensador comprar direto da fonte.

Bocas del Toro é outra história. O arquipélago, na fonteira com a Costa Rica, tem nove ilhas, 50 cayos (ilhas menores e geralmente não habitadas) e outras 200 ilhotas brilhando intensamente no Mar do Caribe. Cerca de 9 mil pessoas vivem ali, de índios a descendentes de jamaicanos e outros povos que chegaram no começo do século 20 para trabalhar em uma base da gigantesca empresa americana United Fruit Company. Hoje, em Bocas, é mais fácil ouvir inglês do que espanhol. Um voo de uma hora liga a Cidade do Panamá a Bocas Town, na Isla Colón, a principal.

Bocas Town é uma vila com poucas ruas e casinhas de madeira coloridas, muitas em palafitas sobre a água, onde eu vivi algumas sensações etéreas. Enquanto esperava ficar pronto o delicioso smoothie de banana do Café La Buguita, Juan Carlos, um velhinho magro e desdentado, leu a palma da minha mão. Viu “vida longa” e disse que eu teria dois filhos. No curto prazo, falou que eu teria “duas boas surpresas até o final de 2012”. “Não vou contar quais são”, tripudiou. Fiquem sem saber o que vem por aí, mas posso arriscar que Bocas contou como a primeira surpresa.

Pensei nisso ao ver o mar. A água é sempre transparente e cheia de peixinhos, não importa se você está em um cayo ou no píer bagunçado lá de Bocas Town. Na rua principal da cidade estão dezenas de pequenas agências que levam aos tours pelas ilhas. O destino mais pop é a Praia de Red Frog, na Ilha de Bastimentos, onde a profusão de iates e os bangalôs chiques recém-construídos mostram que o progresso tarda, mas não falha. Mas o feitio simples de Bocas Town, as paisagens preservadas com vegetação intensa e ilhas idílicas desabitadas fazem com que o arquipélago esteja muito longe de perder o jeitão de Los Roques de anteontem.

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Bocas é um destino para ficar, e não para fazer um bate e volta. Permita-se passar o dia em Boca del Drago, a praia top de Colón, e nadar entre as inúmeras estrelas-do-mar da Playa de las Estrellas; mergulhar entre os corais multicoloridos de Cayo Coral e pedalar no fim de tarde até a Playa Bluff para ver as ondas bravas quebrando na areia. Houve outros, mas elegi como meu grande momento a visita a Cayo Zapatilla, onde eu e mais meia dúzia de sortudos desmontamos na areia e ficamos horas brincando de contar os tons de azul da água.

Bocas serviu para inverter a máxima batida da primeira impressão que fica. De agora em diante eu vejo estrelas-domar e corais sem fim no Panamá.

Veja na próxima página dicas de compras no Panamá

País de grife Diesel, M.A.C. e outras marcas ao seu dispor

Se, assim como acontece comigo, seus olhos brilham e suas mãos tremem quando você encara as vitrines de Miami, no Panamá a sensação é parecida. Há menos variedade, mas os preços incríveis são similares. A primeira dúvida é se vale a pena ir até a Zona Libre de Colón, já que dá um trampo considerável: o lugar fica a 80 quilômetros da capital – a melhor saída é alugar um carro –, e você não pode, oficialmente, sair com as mercadorias de lá, direito restrito a comerciantes autorizados. Mas nada que algumas gambiarras não resolvam, como esconder as compras embaixo do banco do carro ou pedir para o lojista entregar no aeroporto. A zona é gigantesca, mas muito do que interessa se concentra na Calle 15. Se fuçar bem, dá, sim, para pechinchar perfumes, câmeras, tênis, relógios e óculos, mas meu veredicto é que, para quem tem pouco tempo, não vale o deslocamento nem o esforço. Prefira os shoppings da Cidade do Panamá, como o Albrook (Avenida Marginal, albrookmall.com), que tem mais de 500 lojas e quase tudo o que a gente ama: há Diesel (com jeans femininos desde US$ 139), Nike, Banana Republic, Armani, Calvin Klein, Nike, Swatch, Zara, GAP, M.A.C. (batons a US$ 16,50, quase o preço americano). Entre as pedidas locais, a Felix B. Maduro é a Macy’s panamenha, com bolsas Michael Kors desde US$ 138. A La Riviera, que também está no aeroporto e em diversos pontos da cidade, é a melhor para perfumes e cosméticos. Para uma megafarmácia, a Arrocha faz o estilo da Wallgreens americana. Já o Multiplaza (Via Israel, multiplaza.com) é o Iguatemi local, com Louis Vuitton, Chanel, Rolex, Tifany e Jimmy Choo, entre outras. Se as grifes não forem a sua praia, não se intimide: há algumas lojas repetidas do Albrook, como a M.A.C. e a L’Occitane, mais a única Victoria’s Secret do Panamá e duas ótimas lojas de eletrônicos: a Panafoto e a Audiofoto – o iPad 2 de 16 GB estava por US$ 519 (nos EUA sai por US$ 399). Fora dos shoppings, há um duty free no Amador Causeway, com bons achados como vodca Absolut desde US$ 13 e souvenirs como o autêntico chapéu panamá. Se você não vai sair do aeroporto, o duty free de lá é grande e tem até alguns eletrônicos, mas não os melhores preços. 

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