Um tanto fora dos roteiros populares de Portugal está Ílhavo, uma sub-região de Aveiro. A cidadezinha, 250 quilômetros ao norte de Lisboa e a 82 quilômetros ao sul do Porto, encravada à beira-mar, está longe de ter o charme dos típicos vilarejos portugueses litorâneos como Ericeira, Peniche ou Nazaré. Mas há ali um tesouro que justifica uma parada de pelo menos dois dias inteiros: a fábrica e museu da Vista Alegre.
O tradicional endereço das porcelanas finas portuguesas foi inaugurada em 1824 e move a região até hoje. O complexo da empresa foi comprado pelo grupo Visabeira, em 2008, e ganhou um roteiro turístico dos mais interessantes, que compreende hotel 5 estrelas, gastronomia impecável, museu, capela, workshop de porcelana e outlets da marca. Fiquei hospedada no local e asseguro: vale a imersão! Principalmente se você já for um iniciado em Portugal ou, claro, se tiver uma queda por conhecer o processo de manufatura de objetos e utensílios que acabaram ganhando o estatuto de obras de arte.
O Hotel Montebelo Vista Alegre
A arquitetura moderna com decoração minimalista, que em nada lembra o estilo tradicional português, chamou minha a atenção logo na entrada. A fachada de linhas retas e de concreto aparente dá a dica de que a construção é atualíssima.
Da varanda de algumas das 72 suítes impecáveis, a piscina externa parece se conectar com o rio Boco, que corre atrás do hotel. Tudo muito moderno. Os quartos acarpetados, de cores neutras e metragens generosas, recebem um banho de luz natural pelos janelões, que também possuem eficiência acústica para que as noites de sono sejam no silêncio absoluto.
Porém, há um outro lado surpreendente. Toda essa parte novinha se conecta por uma escada caracol metálica à construção original da casa do fundador da fábrica. Um palácio de 1697 restaurado e também transformado em hotel, com muita madeira, ladrilhos hidráulicos fantásticos, capitonês e todo o artefato que dá a cara antiguinha às 10 suítes que ganharam decoração vintage.
Qual ala se hospedar? Vai depender do seu gosto. Eu me encantei pela ala moderna e sua decoração minimalista e tive uma ótima noite de sono! Mas teria sido muito feliz nas suítes confortabilíssimas à la século 19. Existe ainda uma nova ala em construção com novas unidades.
No restaurante do hotel, que tem vista para o Rio Boco, os pratos surpreendem pelo sabor e pela apresentação: todos, claro, são servidos em porcelana Vista Alegre. Louças de diversos tipos, como os pratos chapéu e os com divisórias internas, atestam a máxima de que a visão também é um sentido indispensável quando o assunto é gastronomia.
Por todo o Montebelo Vista Alegre, claro que a decoração não deixaria por menos: as paredes são enfeitadas com o melhor das porcelanas da casa. O hotel ainda conta com academia, duas piscinas internas aquecidas, sauna, hidromassagem, chuveirões e spa com massagens relaxantes. Ah, o acesso às piscinas só é permitido mediante o uso de touca de natação. Leve a sua e economize 5 euros, valor da que é vendida in loco.
O preço das diárias é bem razoável tendo em vista a alta qualidade do que se oferece. A partir de 140 euros é possível ficar nas suítes mais baratas de ambas as alas, com café da manhã incluso.
Capela de Nossa Senhora da Penha de França
A poucos metros do hotel está a construção de 1699 que, segundo relatos, teria encantado José Ferreira Pinto Basto, o fundador da Vista Alegre, e o feito crer que ali seria o local certo para implantação da fábrica de porcelanas.
O interior é marcado por azulejos seiscentistas, belíssimos afrescos e o túmulo do bispo D. Manuel de Moura Manuel, todo feito em pedra com riquíssimos detalhes – não deixe de ouvir a explicação minuciosa da guia sobre cada elemento dessa verdadeira obra de arte. A construção é Monumento Nacional e está aberta a visitação mesmo a quem não está hospedado no Montebelo.
Museu da Vista Alegre
Não tem como não perceber: a história da marca é absolutamente preservada e contada com orgulho pelos representantes em cada parte do complexo.
No museu, de cara somos atraídos para o interior pela visão gigantesca do primeiro forno de queima da porcelana. Nele, o processo durava até sete dias e operários carvoeiros se revezavam na alimentação do fogo – só para se ter uma ideia, atualmente os fornos modernos fazem a queima em até 8 horas. Nas 14 alas do museu, o acervo é formado por mais de 30 mil peças que mostram a evolução das porcelanas.
Mas a parte mais encantadora fica no piso superior, no ateliê onde se pode ver os artistas pintando os objetos à mão. Um trabalho impecável que arranca suspiros. E o melhor: dá para colocar a mão na massa! No museu, são oferecidos workshops de cerâmica, oficinas de pintura e olaria. Consulte a recepção do hotel para saber sobre a programação e fazer a inscrição.
Comprinhas, ora pois!
Quem se hospeda no hotel ganha um voucher de 10% desconto para as compras nas lojas da marca. Há três outlets: a Loja da Vista Alegre, A Loja da Fábrica e a Loja Bordallo Pinheiro, conhecida por seus objetos vitrificados. Não tem como não sair com pelo menos uma lembrancinha…
O que ninguém vê
É uma pena que a visita à fábrica não esteja aberta ao público. Eu pude participar de uma visita especial ao interior e fiquei ainda mais encantada com a experiência. Incrível como o trabalho manual ainda se faz tão presente, apesar de já haver algumas máquinas modernas que substituíram a mão de obra em várias etapas. Ainda assim, boa parte da produção é feita por funcionários habilidosos – cada asa de xícara é cuidadosamente trabalhada por mãos humanas!
E o controle de qualidade é de deixar qualquer amante de decoração de cabelos em pé: se a peça pronta tiver qualquer imperfeição mínima, é literalmente quebrada!
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