Viajei sozinho em um barco pela Amazônia por 3 meses
Como foi a minha viagem de quase três meses a bordo de um barquinho, na companhia do deus das pequenas coisas, pelos confins da Floresta Amazônica
Em tempos de likes, selfies, memes e centenas de posts por minuto, preferi nadar contra a maré. Comprei um barquinho, comida para três meses, 2 mil litros de gasolina, rede de dormir, contratei um piloto e botei o pé na estrada.
Ou melhor, no Javari, rio que faz a fronteira natural entre o Brasil e o Peru, para uma viagem de 75 dias por uma das regiões mais inóspitas da América Latina. Sem eletricidade, telefone, Face ou notícias do mundo.
Eu acordava todos os dias às 4 horas e parava minutos antes do pôr do sol. Fora os poucos minutos diários em que ligávamos o gerador para acender uma lâmpada na hora de cozinhar, os momentos com eletricidade foram raros.
Depois do entusiasmo das primeiras semanas, em que tudo era novidade, a monotonia bateu, e a viagem se tornou mais difícil. Mas aos poucos passei a valorizar e a gostar de qualquer ínfima experiência: almoço com família que cultivava coca, jantar com pescadores, pelada com índios, sem contar as histórias que ouvi e que não são lidas por aí.
Quando não tinha nada pra fazer, comecei a enxergar grandes possibilidades de passar o tempo nas pequenas coisas que eu tinha: escrevi no diário de bordo, aprendi a pilotar o barco e descobri que ficar horas descascando batata e picando alho pode ser uma ótima terapia. Pela primeira vez na vida, lavar a roupa na mão se transformou num (quase) divertido passatempo.
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Para evitar os mosquitos transmissores da malária e da dengue, eu tomava banho na proa com o barco ainda em movimento, retirando a água do rio com uma panela.
À noite, deitado na rede e protegido pelo mosquiteiro reforçado, apelava para a minha única ligação com o mundo tecnológico e escutava meu MP3 player antes de dormir – uma ou duas músicas, para economizar bateria. Voltar à civilização não foi difícil. Difícil é me acostumar com o mimimi.