Você percebe que está desconectado da rotina quando a sua grande meta a curto prazo é ver um mabeco. Naquela tarde chuvosa de fevereiro, Barney havia recebido uma informação quente por rádio: uma alcateia desses cães-selvagens-africanos andava circulando pelas terras da Reserva &Beyond Ngala, adjacente ao Kruger National Park.
Ciente de que hoje é muito raro avistá-los (a espécie está seriamente ameaçada de extinção), o guia pediu o aval do nosso grupo e enfiou o pé no acelerador da Land Cruiser. Sob chuva torrencial, o rali pela savana durou uns 20 minutos até que, finalmente, fomos cercados por mais de 15 predadores em plena ação, dando um chega pra lá em uma hiena sorrateira.
Com muita habilidade, o ranger conseguiu nos posicionar de tal forma que foi possível sentir o cheiro e o hálito dos animais, ouvir suas respirações ofegantes e captar a tensão no ar – uma experiência insólita para quem cresceu tendo o Parque do Ibirapuera como expoente de fauna e flora.
Não é preciso ser um grande aventureiro para viver cenas assim na África do Sul. Com 19 parques nacionais (a começar pelo Kruger National Park, com 2 milhões de hectares), além de incontáveis reservas privadas, o país é o lugar mais acessível do continente para fazer safári, tanto do ponto de vista logístico como do econômico.
Mas não se trata apenas de observar a vida selvagem sem filtro. A Cidade do Cabo, com sua beleza sobrenatural, e a vibrante Johannesburgo formam o par de metrópoles mais interessante da África e, sozinhas, já justificariam a viagem.
Banhado pelo Atlântico e o Índico, o país tem 3 mil quilômetros de costa e 40 praias certificadas pelo Programa Bandeira Azul, sinônimo de infraestrutura de primeira e boas práticas ambientais. De quebra, você pode flanar por vales forrados de vinhedos, diante de paisagens que já bastariam para deixar o sujeito bêbado. Tudo isso a oito horas e meia de voo direto de São Paulo, mesma duração de um pulo a Miami.
Começando por Johannesburgo, ou simplesmente Jozi
É a amostra da complexidade cultural do país. Em bairros charmosos, bares incríveis e uma vida cultural turbinada. No Soweto, a história da luta contra o Apartheid
Com cerca 7 milhões de habitantes em sua área metropolitana, a porta de entrada da África do Sul desenvolveu-se em torno da mineração e, distante dos atributos naturais da Cidade do Cabo, se defende com bairros charmosos, hotéis e restaurantes de primeira linha.
Johannesburgo dá uma boa medida da riqueza e da complexidade cultural do país, que, para começo de conversa, tem 11 idiomas oficiais (entre eles inglês e africâner, as línguas comuns mais faladas) e dez prêmios Nobel, incluindo dois de Literatura: J.M. Coetzee e Nadine Gordimer, ótimas leituras pra embalar a viagem.
Nos últimos dez anos, Jozi (ou Josie) fez um belo progresso em termos de segurança e infraestrutura, está mais amigável aos turistas e moradores – por essas e outras, merece pelo menos 48 horas da sua atenção.
Ficou mais fácil deslocar-se com o trem urbano Gautrain, herança da Copa do Mundo de 2010, complementado recentemente com os corredores de ônibus Rea Vaya.
Seu arsenal cultural também foi reforçado pela inauguração, em 2012, do Wits Art Museum, de arte africana. A cena turbinada transborda pelas galerias e pelas paredes cobertas de street art de bairros como Maboneng, Rosebank e Braamfontein.
Para badalar, o melhor momento para estar na cidade é na primeira quinta-feira do mês, quando bares e centros culturais ficam abertos até tarde no evento First Thursdays, que acontece simultaneamente na Cidade do Cabo.
Em vez de se hospedar no Centro, que fica sinistrão e vazio à noite, prefira bairros simpáticos como Melville, uma versão tranquila da paulistana Vila Madalena, com ruas predominantemente residenciais ao redor da 7th Street, que concentra bares e restaurantes da moda.
Ou nos vizinhos Westcliff e Parktown, um dos pedaços mais glamourosos e verdes da cidade, nas imediações do Johannesburg Zoo. Horizontalizada, JoBurg (mais um apelido) tem atrações pulverizadas por uma imensa planície árida.
Por praticidade, muitos turistas sucumbem ao ônibus de dois andares, que permite descer e subir em cada ponto turístico. Mas o Uber também funciona bem no país para vencer grandes distâncias sem gastar muito.
Ao sul da cidade, o Apartheid Museum é um tapa na cara e esmiúça o regime de segregação que vigorou entre 1948 e 1994. Reserve pelo menos quatro horas para devorar o ótimo acervo multimídia, que servirá de base teórica para o trabalho de campo: a visita ao Soweto, a mais emblemática township.
Não é bem favela. A palavra designa os espartanos conjuntos habitacionais planejados na época do apartheid para abrigar a população negra – e que, de certa forma, acabaram perpetuando o caráter geográfico do abismo social ainda presente no país.
Hoje um bairro com 1,4 milhão de habitantes (99% negros), formado majoritariamente por casinhas simples e alguns bolsões de miséria (favelas propriamente ditas), o Soweto é o grande ícone da luta contra o apartheid.
O epicentro do lugar é a Rua Vilakazi, em que viveram o ex-presidente Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu, ambos laureados com o Nobel da Paz. O tour guiado pelo Mandela House Museum é um pouco superficial e não há objetos pessoais muito significativos do grande herói nacional por lá – além da pequena cama em que ele dormia com Winnie, sua polêmica viúva. Mas o jardim tem algo mágico: lá está a árvore sob a qual a família Mandela enterrou os cordões umbilicais de seus filhos, segundo a tradição do povo Xhosa.
A 600 metros dali, o Hector Pieterson Memorial rende homenagem ao menino morto pela polícia aos 13 anos, na manifestação estudantil de 16 de junho de 1976, que serviria de estopim para a chamada “revolução do Soweto”.
Mas nem tudo tem a ver com os dramas do passado. Com um pouco de sorte, você topará nas ruas com um grupo de dançarinos de pantsula, que está para JoBurg assim como a dança do passinho está para o Rio de Janeiro.
Passeios de bike, como os organizados pelo albergue Soweto Backpackers, passam por bares, postos de street food, lugares para curtir música ao vivo e até a casa de alguns moradores.
Também vale dar uma olhada na Oppenheimer Tower, que revela uma vista panorâmica do Soweto (e a sua real dimensão). E conferir a Orlando Towers, antiga central elétrica onde funciona um animado bar com churrascaria – porque os sul-africanos não vivem sem um braai –, embalado por muita cerveja e DJ. Para abrir o apetite, você até pode se atirar de um bungee jump.
Circular pela parte histórica do Soweto por conta própria é seguro. O perrengue é chegar lá em transporte público. Você precisa ser muito safo para se virar com o sistema de lotações – os motoristas e passageiros se entendem através de um indecifrável conjunto de sinais.
De Uber, a empreitada acaba saindo quase no mesmo preço de um tour. Por isso, preferi contratar um guia entrosado com os moradores – os hotéis podem indicar bons profissionais do gênero.
Com ele, pude visitar algumas partes menos turísticas do lugar, conversar com as pessoas, ouvir os muitos e diferentes sotaques (a profusão de línguas maternas africanas resulta em incontáveis nuances na hora de falar inglês). E, no final da pequena imersão, saber um pouco sobre a vida real no Soweto.
Tá bom pra nósVinte e três anos após o fim do apartheid, o berço de Mandela é regido por uma democracia consolidada e tem economia saudável para os padrões africanos (o S dos Brics, a patota dos países que, num passado recente, estava em pleno desenvolvimento). Mas escândalos de corrupção e solavancos na economia nos últimos anos cobraram fatura. A desvalorização do rand, com sutil recuperação desde 2016, jogou a nosso favor. Traduzindo para o turistês, a África do Sul ainda faz o dinheiro tupiniquim render que é uma beleza, em uma infraestrutura turística que, principalmente no Cabo Ocidental, se compara à de países europeus. |
Kruger National Park
Um gigante habitado por milhares de bichos, com acesso fácil por estradas asfaltadas e hospedagens para todos os bolsos. Com essa combinação perfeita, é a maior atração do país
No plano teórico, adentrar um território povoado por rinocerontes e hienas a bordo de um carro econômico pode parecer insensato. Mas dirigir de Johannesburgo até o Kruger National Park é muito simples – e você ainda pode aproveitar o possante para circular com liberdade por lá.
Basta pegar a Autopista 4 e seguir por uns 400 quilômetros de asfalto impecável. Não caia na tentação de usar atalhos e, sob nenhuma circunstância, corte caminho pela R36, onde caí por uma indicação micada do GPS.
Em vídeos hilários no YouTube, almas bem-humoradas aparecem nadando, tomando banho e até pescando nas crateras da pista, que fizeram com que eu demorasse uma hora para avançar 40 quilômetros. Como alternativa, é possível voar (50 minutos) aos aeroportos de Nelspruit ou Hoedspruit, as principais cidades ao redor do Kruger – mas as tarifas costumam ser salgadas.
Com 2 milhões de hectares, o Kruger é o maior parque nacional do país, ocupando o extremo leste da África do Sul e avançando sobre a fronteira com Moçambique. O colosso, habitado por 147 tipos de mamífero, 118 espécies de réptil e 517 variedades de pássaro, ainda é cercado por mais 150 mil hectares de reservas privadas, que, em geral, abrigam lodges de luxo.
O sul do parque tem a maior concentração de bichos e turistas e a melhor infraestrutura. A região mais indicada para se hospedar, portanto, costuma ser as proximidades dos portões Phabeni e Paul Kruger.
Mais tranquila e agradável que as cidades maiores, Hazyview (a 12 quilômetros do Phabeni) é uma ótima opção na região, com hotéis em várias faixas de preço e alguns bons restaurantes.
Busque hospedagens próximas ao Kruger National Park
Cortado por estradas asfaltadas, o parque é moleza para dirigir por conta própria (self-drive), modalidade mais barata de safári. Quem preferir pode embarcar nos game drives organizados pelo parque (a partir de 22 dólares; reserve com bastante antecedência) para grupos de umas 20 pessoas.
Com guias, as chances de avistar animais são maiores. Cada empreitada dura de três a cinco horas, ao amanhecer (antes das 6 da matina) ou no fim de tarde, quando os bichos estão mais ativos.
Quanto tempo?Em uma viagem de duas semanas, reserve dois dias para Johannesburgo. De lá, siga para a região do Kruger, onde valem pelo menos três dias. Na Cidade do Cabo, fique no mínimo cinco dias e acrescente mais dois para as Winelands e três para explorar a Rota Jardim. Mas lembre: o país tem “assunto” para uma bela viagem de um mês ou mais. |
Há vários tipos de acomodação dentro do parque, de camping a lodge de luxo. Fora do Kruger, existem opções mais variadas e com melhor preço. Mas calcule o tempo que você precisa para passear e sair antes do fechamento do parque. Os portões são distantes uns dos outros e, se forem trancados, você pode ficar na roubada e ser multado (não perdi a hora por um triz e tomei bronca de um guia).
As vantagens de optar pelas reservas privadas que cercam o Kruger começam pela menor quantidade de turistas. Além disso, durante os game drives, com grupos reduzidos, os 4×4 podem sair das trilhas demarcadas e mergulhar na savana, o que permite chegar mais perto dos animais e confere dose extra de adrenalina à experiência. É mais caro, mas compensa.
Quase todos os lodges de safári funcionam em um sistema-padrão. As diárias incluem acomodação, todas as refeições, dois game drives ao dia (um de manhã e outro à tarde). O ritmo é intenso: acordar lá pelas 5 da madrugada, passar cerca de oito horas por dia em um 4×4 e, entre um safári e outro, encontrar forças para aproveitar o hotel.
Os mais luxuosos têm piscina, academia, spa, biblioteca e refeições nababescas regadas a muito vinho. Em alguns hotéis, a experiência é coletiva, inclusive as refeições. Em outros, os hóspedes têm mais intimidade.
O que praticamente não muda é o fato do ranger ser o seu anfitrião: faz as vezes de despertador, é seu guia nos game drives, toma um drinque com os hóspedes no fim da tarde e, às vezes, até janta. Por isso, escolher um lodge que tenha boa reputação nesse quesito é crucial.
No self-drive ou nas reservas de luxo, fazer safári é lidar com a sorte e a incerteza. A beleza e a crueldade da natureza marcam presença em idênticas proporções. Tenha paciência e aceite o fato de que, em alguns momentos, a vida selvagem ao vivo é bem mais pacata que na tela do canal National Geographic.
Em outros, ela pode ferir a sua sensibilidade. Foi bastante impactante presenciar dois búfalos sendo devorados por leões, um deles ainda vivo, e ver uma girafa recém-ferida, provavelmente por um leopardo. Mas isso definitivamente faz parte da grandeza da experiência.
Carne, carneSe você acha que os brasileiros são apaixonados por churrasco, espere até chegar à África do Sul, em que o braai é uma religião. Todas as acomodações equipadas com cozinha têm churrasqueira e você também poderá assar o que for em áreas de piquenique de parques e praias. Não tem fogo? Então, eles vão de biltong (carne seca e curada de boi, caça ou avestruz) ou dröewors (linguiça seca), os snacks número 1. |
Rota panorâmica
Uma estrada cênica com mirantes para cachoeiras e vales – e um gran finale
Após quatro dias seguidos de safári, quando já estava prestes a achar monótono estar a poucos passos de leões e rinocerontes, notei que precisava dar um tempo da bicharada e do despertador tocando às 5 da madrugada.
Então, escapei até a simpática Graskop (pronuncia-se “grahrróp”, com o fundo da garganta), a 80 quilômetros do Paul Kruger Gate. Apoiada sobre um penhasco de 700 metros de altura com vista para o Lowveld (a região baixa em que se encontra o Kruger), a cidadezinha é a base de lançamento mais lógica para explorar o Blyde River Canyon – a parte mais cinematográfica da Cordilheira de Drakensberg, que se estende por mil quilômetros paralelamente à costa ocidental do país.
O cânion é grandioso – tem 50 quilômetros – e teria se formado milhões de anos atrás, quando a África supostamente “rachou”, se separando da Antártica e de Madagascar. Reserve um dia inteiro para o passeio e, a partir de Graskop, vá seguindo na direção norte pela R532.
Ao longo do caminho, não à toa conhecido como Rota Panorâmica, você vai encontrar vários pontos extremamente fotogênicos. Todos eles são muito bem sinalizados, cobram entradas baratinhas e têm estacionamento.
Primeiro, aparecerão as cachoeiras Berlin e Lisbon, que podem ser admiradas a partir de mirantes. Do outro lado da estrada, quase simultaneamente, você verá a indicação “God’s Window”, aonde se chega pegando uma alça, a R534.
Um posto de observacão em uma plataforma mostra o imenso vale e, lá adiante, as Lebombo Mountains, já na divisa com Moçambique. Um pouquinho adiante fica o parque que dá acesso aos Bourke’s Luck Potholes, em que o rio cavou insólitas formas arredondadas nas rochas.
Mas o gran finale da Rota Panorâmica é o Mirante dos Three Rondavels, que se abre para as formações rochosas que inspiraram o nome (rondavel é a típica casinha redonda e com o telhado pontudo que você verá o tempo todo em várias regiões do país). Eis um daqueles lugares para contemplar e até meditar. Chegue no fim de tarde, sente-se sobre uma pedra e simplesmente respire. Respire.
Cidade do Cabo
É a mais linda das metrópoles africanas. Praias perfeitas, parques nacionais, vistas deslumbrantes e uma cena urbanóide movimentada. Ali pertinho, estão vinícolas de outro mundo.
Ninguém está preparado para ver a Cidade do Cabo ao vivo. Por mais altas que sejam as expectativas, suas pernas tremerão ao constatar que a metrópole de 4 milhões de habitantes parece uma pequena maquete diante da imensidão da Table Mountain ou das ondulações rochosas dos Doze Apóstolos, que avançam como um tsunami sobre a praia de Camps Bay – Copacabana e Leblon, tremei.
Diante do cenário, não é de estranhar que, assim como os cariocas, os capetonians também sejam ávidos por viver ao ar livre, praticando esportes fervorosamente e curtindo mais o dia que a noite.
Precisar nem precisava. Mas a cidade também tem os seus achados urbanoides, como restaurantes de primeiríssima, mercadinhos modernos e uma agenda de eventos atribulada. E, em 2017, ganhou mais uma atração de peso, o Zeitz Mocaa, o maior museu de arte contemporânea do continente africano.
A duas horas e dez minutos de voo de Johannesburgo (ou três horas de Nelspruit), a cidade avança pela Península do Cabo e contorna a False Bay, espalhando-se por uma área de 2 400 quilômetros quadrados (o dobro da do Rio de Janeiro).
Há passeios peso pesados para fazer longe do Centro: praias perfeitas, parques nacionais, colônias de pinguins, estradas panorâmicas, vinícolas… Os ônibus MyCiti passam pelos principais pontos turísticos e quebram um bom galho para quem está a pé. Táxi e Uber também são baratíssimos e práticos – principalmente para sair à noite. Ainda assim, vale muito a pena alugar um carro. Estacionar é sempre fácil e o trânsito flui.
Os programas turísticos que entram na lista dos “obrigatórios” começam pelo lindo Porto V&A Waterfront, repleto de restaurantes, bares e lojas, de onde partem os barcos para Robben Island – compre com antecedência as entradas para visitar a ilha-presídio onde Nelson Mandela ficou preso por 18 anos!
Lição de casaDisponível no site da rede Al Jazeera, a série de documentários The South Africa Up Series é uma obra-prima, além de um prato cheio para entender a história do país e a sua complexa estrutura social. Desde 1992 (dois anos antes do fim do apartheid), o premiado diretor sul-africano Angus Gibson acompanha a vida de um grupo de jovens, repetindo as entrevistas a cada sete anos. |
Bater perna pelo Centro, passando pelo mercadinho do Greenmarket Square, pelo Parque The Company’s Garden e pela boêmia Long Street, também é parte do roteiro básico. E dá para combinar o rolê com uma empreitada fotográfica ao coloridíssimo Boo-Kaap, o bairro fundado por malaios muçulmanos no século 18.
No fim de tarde, todos os caminhos levam a subir a Table Mountain de bondinho (o lugar fecha quando venta muito, o que acontece com frequência; dá para monitar através do site).
Além dos dois dias que você vai precisar para fazer tudo isso, reserve um inteiro para ir ao Cape Point. Com praias lindas e selvagens, ele faz parte do parque nacional que inclui o vizinho Cabo da Boa Esperança. E outro para visitar os vestiários vitorianos da Muizenberg, parando no Jardim Botânico de Kirstenbosch. Depois desses cinco dias turistando, você concluirá que precisa ficar mais.
Foi justamente por isso que, ao voltar à Cidade do Cabo menos de dois anos após o amor à primeira vista, decidi ficar 20 dias. Com um apê alugado no Sea Point (o Green Point seria outra boa opção), e todas as obrigações turísticas já cumpridas, dediquei-me exclusivamente ao hedonismo que impera na cidade no verão.
Calor de mais de 30ºC? Momento certo para passar um dia inteiro, sem culpa, largada na badalada Clifton Beach ou na tranquila e belíssima Llandudno. E nada como fechar o dia caminhando aos pés da Lion’s Head Mountain ou com um piquenique no Signal Hill ao pôr do sol.
Sábado: toca para o mercadinho The Neighbourgood Market, que rola no Old Biscuit Mill, seguido dos vinhos brancos da Durbanville Hills, uma das melhores vistas para a Table Mountain.
Domingão? Ótimo dia para degustar tintos entre os vinhedos de Constantia, fazendo hora até começar o showzinho do Jardim Botânico de Kirstenbosch, um programaço de novembro a abril.
Um programa turístico para o qual sempre pedirei bis é o passeio de carro até Cape Point. Sem pressa, o melhor é passar pela gostosinha Fish Hoek e pela colônia de pinguins de Simon’s Town na ida; e depois voltar pelo lado da península onde ficam as lindas praias de Kommetjie e Noorhoek (picos de kitesurfe).
Em ambos os sentidos, não dá para desviar da Chapman’s Peak Drive, uma das estradas panorâmicas mais bonitas do mundo. Faria isso mil vezes.
O que definitivamente não repetiria é o meu vacilo épico com os temidos babuínos que habitam o Cape Point National Park – e muitas outras áreas do cone sul da África. Robustos e com dentes enormes, eles não são macaquinhos fofos ao qual você daria uma banana.
Uma vez que ele detecta comida, pode se tornar agressivo até conseguir o que quer – mas sem alimentos envolvidos, a tendência é que ignore a sua presença. Comer ao ar livre no parque, portanto, é absolutamente contraindicado, algo que não levamos a sério.
E o que era para ser um piquenique romântico em uma praia deserta acabou virando um duelo contra um primata faminto, com direito a arremesso de pedras, gritos e correria. O animal inexplicavelmente foi parar dentro do nosso carro, de onde saiu levando apenas cremes de aloe ferox (uma planta medicinal) recém-adquiridos, graças à chegada de um guarda-florestal. Todo sul-africano tem uma história para contar envolvendo um babuíno. Já me sinto mais local.
Carros
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Degustação visual
Outro ajuste que fiz na segunda viagem ao país foi dedicar mais tempo às Winelands. O território a leste da Cidade do Cabo produz os melhores vinhos do país em torno de cidadezinhas como Stellenbosch e Franschhoek, fundadas no século 17 por holandeses e franceses, respectivamente.
Mas se engana quem supõe que provar os famosos shiraz e pinotage sul-africanos é o único motivo para visitar a região. Mesmo que você já esteja com a barriga cheia de paisagem após alguns dias na Cidade do Cabo, vai ficar muito impressionado com o semblante de eletrocardiograma das montanhas que cercam os vinhedos do pedaço.
Alguns dos visuais mais deslumbrantes aparecem ao longo da estradinha R310, que vai de Franschhoek a Stellenbosch. Logo no começo do trajeto, pare na vinícola Boschendal, que tem um jardim espetacular, espaço para piquenique com pufes e afins, wine bar com mesinhas ao ar livre e restaurante.
Mais adiante, a estrada vai ganhando altura e as vistas para as Hottentots-Holland Mountains começam a ficar surreais. O clímax do passeio rola na vinícola Delaire Graff, o cúmulo do cool. Quase em frente, a Tokara também dá um show de design e, aos finais de semana, lota de gente jovem – é praticamente uma balada.
Uma vez em Stellenbosch, tome mais umas tacinhas na sala de degustação da Stark-Condé, que fica em uma ilhota no meio de um lago. O visual chega a dar tontura.
Também há vinícolas maravilhosas para visitar no Centro da pequenina Franschhoek, que ostenta o título de capital gastronômica do país. A Le Lude, famosa por seus espumantes, e a Grande Provence estão entre as mais elegantes. No quesito vista, ganha a informal Haute Cabrière. E a moderninha da vez é a Leopard’s Leap.
Por mais chiquérrimas que sejam, todas elas têm um sistema de degustação simples e barato. Em geral, pagam-se menos de 5 dólares para provar uns quatro ou cinco exemplares. Ou um pouco mais para combinar a experiência com queijos, comidinhas, chocolate e outros quitutes.
Como beber e dirigir está sempre fora de cogitação, uma boa pedida é apostar no Wine Tram. É um trenzinho estilo jardineira que funciona no sistema hop-on/hop-off (você sobe e desce nas paradas que quiser) e tem cinco linhas que passam por diferentes regiões e vinícolas, combinando alguns trechos com tram e ônibus.
Rota Jardim espichada
O trajeto tem parques nacionais com atividades infinitas, praias lindas, o bungee jump de ponte mais alto do mundo… E, mais adiante, ficam a surfista Jeffrey’s Bay e o fantástico Addo Elephant Park
A 385 quilômetros da Cidade do Cabo, o vilarejo de Mossel Bay marca o início da Rota Jardim. Uma das principais atrações da África do Sul, o trajeto se estende por cerca de 200 quilômetros pela costa na direção leste até Stormsrivier, já na região do Cabo Oriental.
Mas, uma vez que a maioria acaba saindo da Cidade do Cabo e devolvendo o carro em Port Elizabeth, onde existe um aeroporto, há bastante coisa para ver antes e depois desse pedacinho mais famoso.
Obcecada por praia e mar, tracei um roteiro mais longo, me desviando da N2 (o caminho mais lógico) para parar em Hermanus. O vilarejo tem lá o seu charme colonial, mas é famoso por ser um dos principais pontos de observação de baleias.
Fora da temporada dos grandes mamíferos marinhos (que vai de junho a outubro), não vi motivo suficiente para lançar âncora por lá. Então, toquei para o Cabo Agulhas, com a intenção de “dar uma olhada” no ponto que oficialmente divide o Índico do Atlântico.
Pelo mapa, nem parecia tão fora de mão. Mas, na prática, acabou sendo um desvio longo e monótono, sem nenhuma grande recompensa no fim. Releve. E, se quiser dar um primeiro oi ao Índico, invista o seu tempo na linda Da Hoop Nature Reserve.
O bônus dessa empreitada foi passar pelas fofíssimas Stanford, Arniston e Swellendam, três cidadezinhas coloniais pouquíssimo conhecidas e com vista para a montanha. Indo ainda mais para o interior, também acabei ficando uns dias na pequena e pacata Montagu, uma maravilha para explorar a Route 62, que segue paralela à N2, atravessando um mar de vinhedos. Um programaço para um pit stop antes de finalmente engrenar na célebre Rota Jardim.
Tudo o que eu havia lido me levava a crer que se tratava de uma versão sul-africana da Rio-Santos. Mas a estrada raramente passa tão rente à costa ao ponto de revelar grandes vistas (o que é ótimo para a conservação do litoral).
Além disso, por mais lindas que sejam as praias, o mar é perigossíssimo (além de gélido) e costuma ventar furiosamente. Em outras palavras, ficar estiradão na areia não é a pegada certa. Ajustadas as expectativas, eis um belo playground ao ar livre, com paisagens matadoras, parques nacionais repletos de animais e infinitas opções de atividades.
Dá pra explorar colônias de focas e pinguins, observar golfinhos e baleias, praticar esportes aquáticos (surfe, SUP, canoagem e mergulho), saltar de paraquedas e se jogar de bungee jump.
Minha primeira parada oficial foi em Knysna, muito popular com a terceira idade e com grupos de turistas orientais. A cidadezinha tem um portinho charmoso, com vários restaurantes e vistas espetaculares do Mirante de Eastern Knysna Head.
O melhor, no entanto, está nos arredores. O Wilderness National Park, por exemplo, fica a cerca de 40 quilômetros de distância. E as lindas praias de Buffalo Bay – ótima pedida se quiser passar a noite em um lugar mais roots – ficam a 20 minutos de carro.
Mas foi em Plettenberg Bay, 40 quilômetros adiante, que realmente comecei a gostar da coisa. Instalada na praia de Keurboomstrand, curti alguns dias de sossego absoluto. Apesar de a praia ser tranquilíssima, um dos restaurantes mais famosos da região ocupa o canto norte. Com reputação de servir os melhores peixes e frutos do mar das redondezas, o Enrico funciona num enorme terraço sobre o mar, que implora por um vinho branco pós-praia.
Cercada de muito verde, Plettenberg também pode ser o ponto de partida para explorar a Robberg Nature Reserve, um dos pontos altos da região, e a praia de Nature’s Valley. E, a quem possa interessar, o bungee jump comercial mais alto do mundo no quesito “pontes”, com 216 metros de altura e cheio de turistadas adrenalizados, fica na Bloukrans Bridge, a caminho de Stormsrivier.
O que tem depois?
O final da Rota Jardim é a base de lançamento para o Tsitsikamma National Park, forte candidato ao mais espetacular da região, com uma ponte suspensa sobre rochedos e um catálogo de atividades que inclui arvorismo, tubing, caiaque, mountain bike, entre outras.
Basta um pulinho de mais 100 quilômetros para chegar a Jeffrey’s Bay, a meca sul-africana do surfe, famosa por ter a direita mais longa do planeta. Fora da temporada de ondas grandes, de maio a setembro, o lugar tem pousadas ótimas e baratas e água consideravelmente mais quentinha que na Rota Jardim.
Serve, também, para um bate volta até o espetacular Addo Elephant Park. Você verá elefantes em muitos parques nacionais da África do Sul. Mas dificilmente encontrará tantos deles juntos.
São cerca de 500 bichões em uma área de 180 hectares de fácil acesso, a 110 quilômetros de J-Bay. Para fazer self-drive, basta retirar uma autorização na entrada do parque e correr para o abraço: as manadas costumam se concentrar ao redor de um açude facílimo de encontrar.
“Tome cuidado ao ver um macho solitário: os que vivem isolados da manada são naturalmente territorialistas e tendem a ser mais agressivos – caso note que a sua presença não agradou, saia de fininho”, recomendou o guia na entrada do parque.
Íamos em direção à saída quando uma manada numerosa saiu do mato e tomou a pista na frente do nosso carrinho – um micro-Toyota Athios. E nós ficamos ali, quietinhos, contemplando a potência da natureza e a pequenez das nossas existências.
É seguro ir?De forma geral, os turistas não costumam encontrar problemas. O perigo pode estar concentrado nas áreas mais carentes das cidades grandes, principalmente Johannesburgo, Cidade do Cabo e Durban, muito afastadas das zonas turísticas. Comporte-se como em qualquer metrópole brasileira, evitando ostentar objetos de valor e passar por zonas consideradas perigosas, e redobre os cuidados à noite. Atenção: no aeroporto de Johannesburgo, não aceite ajuda de pessoas que se fazem passar por funcionários do aeroporto, que costumam abordar turistas, de forma simpática mas ostensiva, antes mesmo da chegada ao balcão. Eles fazem parte de uma rede que aplica golpes muito bem elaborados para cobrar “taxas” indevidas. |
Guia VT
Prove
O bobotie, carne moída com curry, coberta por um creminho de ovos batidos com leite, ao forno
Compre
Produtos à base de aloe ferox (uma prima da aloe vera). Boa para dores musculares e para a pele
Fumacê no apê
Apartamentos turísticos para self-catering são a hospedagem mais comum no país. Não têm serviços, mas contam com cozinha e, quase sempre, churrasqueira. Cheque nos sites AirBnb e HomeAway.
Johannesburgo
Ficar
O Four Seasons Hotel The Westcliff é o hotel mais espetacular da cidade. Tem lindas vistas, spa, restaurantes badalados, duas piscinas. Fica entre os bairros de Parktown e Melville, onde também há pedidas boas e baratas, como a Melville Manor Guesthouse, com piscina e jardim, e o moderninho Motel Mi Pi Chi, com seis quartos minimalistas e ótimo café da manhã. Em Rosebank, o Clico Boutique Hotel, tem piscina e bom restaurante.
Comer
No The Local Grill, a experiência inclui tour nos bastidores e “aula” sobre cortes de carne. Outro bastião para carnívoros é o Wombles, cheio da pompa, com bela adega. Para provar cozinha contemporânea sul-africana, aposte no The Leopard, em Braamfontein, onde a famosa chef Andrea Burgener usa ingredientes da agricultura biológica. No hotel Four Seasons, o Flames é mais informal e harmoniza cervejas artesanais com carnes.
Agitar
O The Living Room é um lindo bar com jardins verticais, em Maboneng. Em Melville, o Hell’s Kitchen tem jeito underground.
Comprar
O estiloso 44 Stanley tem peças de designers africanos. Mercado cool, o Market On Main rola aos domingos no Maboneng.
Região Do Kruger
Ficar
Os acampamentos (rest camps) mais populares do Kruger National Park ficam no sul do parque. O maior é o Skukuza, próximo ao portão Paul Kruger, acessível a partir das cidades de Nelspruit e Hazyview. Tem mais de 30 tipos de acomodação. A área comum tem cozinha, churrasqueira e campo de golfe!
Para um upgrade dentro do Kruger, o recém-reformado Jock Safari Lodge tem quartos com deques e piscina privada. O preço inclui refeições e passeios. Há boas pedidas fora do parque, como o bonito e barato Bush Baby Glen, com apartamentos cercados pela mata e bela piscina. A 20 minutos de carro da entrada Numbi Gate, tem atendimento simpático.
Em uma excelente reserva privada, o &Beyond Ngala Safari Lodge tem bom custo/benefício para lodges de luxo, piscina de borda infinita e terraços nos bangalôs. Frequentado por celebridades, o Royal Malewane tem sete suítes majestosas e uma mansão familiar em reserva particular.
A famosa reserva Sabi Sabi abriga dois hotéis (entre eles o Earth, de alto design), e dois acampamentos de luxo. Nas três reservas, todas as refeições, bebidas e game drives estão incluídos nas diárias.
Cidade do Cabo
Ficar
Em pleno Victoria & Albert Waterfront, recheado de obras de arte, o novo The Silo ocupa os seis andares superiores do edifício onde será inaugurado, em setembro, o Zeitz Museum of Contemporary Art (Mocaa).
Guest house, a simpática Nine Flowers fica perto dos melhores restaurantes e bares, em Gardens; e o Loloho Lodge tem quartos modernos e compactos e piscininha, em localização excelente no Sea Point. Na mesma área, o Mojo é um albergue design: décor caprichada, preço amigo.
Comer
No Carne S.A. uma espécie de “sommelier de carnes” leva uma bandeja de cortes à mesa e dá uma aula de anatomia bovina. De entrada, peça massa artesanal (confie: o dono do restaurante é italiano). Outra instituição carnívora é o Nelsons Eye. Jeito rústico, lista enxuta de cortes de carne e vinhos sul-africanos.
Endereço badalado do Green Point, o El Burro tem comida mexicana com toques sul-africanos. O melhor japa da cidade, o Kyoto Garden tem poucas mesas, serviço perfeito e sushis idem. Reserve. Comidinha italiana é no Posticino.
Bom, barato, as melhores pizzas do Sea Point. Para upgrades, o The Test Kitchen é a casa do chef Luke Dale-Roberts, o melhor da África na lista da revista Restaurant. Reserve meses antes.
Agitar
A Devil’s Peak Brewing produz as próprias espumosas e tem vista para o majestoso Devil’s Peak. Nas primeiras quintas-feiras do mês, noites mais fervidas da cidade –, o La Parada é epicentro do agito da badalada Bree Street.
Os dois melhores lugares para um badalo pós-praia são o The Bungalow, onde pés descalços convivem com Louboutins; e o Cafe Caprice, na praia de Camps Bay.
Comprar
O Victoria Wharf é um shopping completo e fica no Waterfront, onde funciona o Watershed, mercado de moda e design. A Bree Street é boa para achados. O Greenmarket Square tem artesanato tradicional africano. No The Old Biscuit Mill, há lojas lindas e o melhor mercado de design da cidade, aos sábados.
Winelands
Ficar
O opulento La Residence é o hotel mais glamouroso de Franschhoek, que também tem o Leeu Estates. Elegante e acessível, a guest house Maison Chablis tem quartos enormes.
Em Stellenbosch, o Makeja House é um hotel design badalado, com bom restaurante. Bom e barato, o Stellenbosch Hotel está na ativa desde 1876.
Comer
Franschhoek é a capital gastronômica do país. Mais acessível, o Reubens tem cortes de carne impecáveis. No quesito vista, vá ao La Petit Ferme e ao Dieu Donne, na vinícola homônima. Em Stellenbosch, ao Fat Butcher para carnes e ao Mont Merie para alta cozinha. Para café da manhã, o visual do The Post Card é lindo.
Rota Jardim
Ficar
A Abalone Beach House é um achado a 50 metros da praia, em Plettenberg Bay. Fica em um casarão, com terraço incrível. Em Knysna, o Villa Afriakana tem vista imbatível dos quartos com terraço. De frente para o break Supertubes, em Jeffrey’s Bay, a ótima pousada Beach Music tem quartos e apartamentos – e churrasqueiras.
Comer
O East Head Cafe tem a melhor vista de Knysna e bons pratos de frutos do mar. Em Pletts, não deixe de almoçar no Enrico, também especialista em peixes frescos.
Prepara
Quando ir
A melhor época para visitar a Cidade do Cabo, as Winelands e a Rota Jardim é de novembro a abril, período mais quente e seco. No inverno, o clima é frio e chuvoso no Cabo Ocidental – o que é compensado com o show das baleias –, enquanto que, em Johannesburgo, a estação traz céu azul.
Nos arredores do Kruger, é mais vantajoso ir na época seca e fresca, de maio a agosto, quando a vegetação se torna mais rala e fica mais fácil avistar os animais. Dezembro e janeiro são os meses mais chuvosos no parque e em Jozi. Mas é possível fazer safári nos 365 dias do ano.
Dinheiro
O rand.
Língua
O país tem 11 línguas oficiais, entre elas o inglês, falado por praticamente toda a população – principalmente nas cidades grandes e com diferentes graus de desenvoltura. Mas isiZulu, isiXhosa e africâner são as primeiras línguas da maioria.
Fuso
+ 5h.
Documentos
Brasileiros não precisam de visto para permanência de até 90 dias. É necessário o certificado internacional de vacinação contra febre amarela.