Atualizado em fevereiro de 2019
“Tosse, bronquite ou rouquidão…Campos do Jordão”. A paródia do anúncio de um xarope contra a tuberculose mostra o que era a Campos do Jordão antes dos anos 1950. Hotéis? Só para os acompanhantes de enfermos que procuravam o clima serrano para se tratar nos sanatórios. Tal cenário é retratado no romance Floradas na Serra, de Dinah Silveira de Queiroz.
Com o fim da necessidade de subir a Mantiqueira para se curar da doença, começou a se formar a Campos do Jordão turística tal qual conhecemos hoje. Aquela que disputa com a gaúcha Gramado pelo título de maior destino de inverno brasileiro. A que duela com Nova Friburgo pela alcunha de “Suíça Brasileira” (na boa, ao menos a cidade fluminense foi colonizada por suíços).
Quando a termômetro começa a abaixar, casais e famílias superlotam a boa rede hoteleira da cidade, restaurantes ficam entupidos e o trânsito dá um nó. Só visite Campos durante o mês de julho se o seu objetivo for mesmo assistir aos concertos do Festival Internacional de Inverno, curtir o intenso frio ou se você gosta de estar onde tudo acontece – nessa época as diárias atingem valores astronômicos. No verão, a temperatura é amena (mas faz frio à noite) e os preços bem mais camaradas.
Dia 1
Com temperaturas que raramente passam dos 10ºC no inverno e uma boa companhia ao lado, o despertar em Campos do Jordão torna-se uma tarefa hercúlea. Para o difícil ato se concretizar, vale a pena abrir o vidro do quarto (só o vidro, o frio ainda é intenso) e se animar com o relevo montanhoso e as construções alpinas ao alcance da vista.
Tome um reforçado desjejum e carregue alguns itens em uma mochila ou sacola – eles serão requisitados durante o passeio matinal. Para facilitar o deslocamento pela cidade – reforçando que na alta temporada e em feriados prolongados, o trânsito é pesado, vamos deixar para o primeiro dia as atrações mais próximas da Vila Capivari – o epicentro turístico, reservando o segundo para o melhor da região da Abernéssia.
Apenas se o dia estiver bem claro e quanto mais cedo melhor. Dirija-se ao Pico do Itapeva para, do alto dos 2035 metros, contemplar a vista de várias cidades do Vale do Paraíba (a Basílica de Nossa Senhora de Aparecida é observada facilmente) e da Serra da Bocaina.
Atravesse a Vila Capivari inteira e siga pela Avenida Pedro Paulo até seu final, justamente na portaria do Horto Florestal. Inaugurado em 1941, o parque estadual é um dos grandes clássicos da cidade. Em nenhum lugar de Campos do Jordão as araucárias dão o ar da graça com tanta exuberância. Quatro trilhas de diferentes dificuldades estão abertas ao público – a criançada adora a que passa por pontes pênseis. Quem preferir pode percorrê-las a bordo de uma magrela – o parque aluga bicicletas. Ao final do passeio, os gramados convidam a um agradável piquenique. Excelente hora para matar aquele restinho do desjejum.
No caminho da volta, o Borboletário Flores que Voam convida a uma experiência interessante. Após assistir um vídeo daqueles “tudo que você queria saber sobre borboletas mas tinha medo de perguntar”, o visitante segue o voo de 35 espécies dos simpáticos insetos que desfilam pela área verde do local. Importante: o passeio só é realizado em dias ensolarados.
Depois de uma manhã cheia de atividades, um almoço tardio na companhia de embutidos artesanais é sempre uma boa pedida. Ainda na Avenida Pedro Paulo, o Harry Pisek traz um combinado de salsichas e clássicos da cozinha alemã. Ao final, quase todo mundo acaba levando para casa um dos 30 embutidos produzidos lá, além de uma excelente mostarda com mel.
Estômago cheio com calorias ingeridas sem compaixão. Para rebater a pesada sensação, outro programa clássico de Campos: o footing pelas ruas do centrinho da Vila Capivari, com providenciais paradas em malharias e chocolaterias. Basta a temperatura diminuir para repórteres de televisão escolherem a praça do Capivari como cenário de seus links. Geralmente a tarde termina com o tradicional passeio de teleférico até o alto do Morro do Elefante para curtir a vista do bairro. Como tem pessoas que tremem apenas com a simples menção da palavra teleférico, existe a possibilidade de chegar de carro ao local.
Uma hora dessas e já deu para perceber que Campos do Jordão é repleta de programas tradicionais. Para um jantar no primeiro dia, não há nada mais corriqueiro do que deliciar-se com uma fondue. No burburinho da Vila Capivari, o Matterhorn, o Só Queijo e o Ludwig (esse um pouco mais afastado da praça central) preparam a receita com competência. Mas é no Toribinha, restaurante anexo ao decano Hotel Toriba, a quase 10 km da Vila Capivari, que é servida a fondue mais famosa de Campos do Jordão. O Toribinha abre apenas das 20h às 23h e só funciona sob reserva.
Dia 2
Para garantir que há uma Campos do Jordão além da Vila Capivari e dos arredores, o segundo dia será quase todo dedicado a locais em outros ares da cidade – à noite não tem jeito, vá para o burburinho e ponto final.
Abernéssia é o centro oficial e comercial da cidade. Reserve a manhã para as atrações ao lado esquerdo do bairro e a tarde para o lado oposto.
Araucárias e hortênsias dominam a vegetação da cidade. Entretanto, no Amantikir, árvores e plantas de todo o canto do planeta estão espalhadas em 17 jardins temáticos. A criançada adora entrar no labirinto inglês, chegar ao centro e depois se desdobrar para achar a saída. Um mirante no Alto do Lajeado permite contemplar uma vasta vista da Serra da Mantiqueira.
Até meados dos anos 2000, o Centro de Lazer Tarundu era apenas um local para passear de cavalo e levava o nome de Hípica Tarundu. As cavalgadas continuam a ser a atividade mãe, mas o local soube como poucos buscar novos públicos – no caso toda a família – e incorporou atrações como o arvorismo, a tirolesa e o orbit ball, onde o corajoso encara a descida em um gramadão dentro de uma bola inflável. Claro que um lugar com essas características tem um restaurante e aproveite para almoçar por aí.
Revigorado para o período vespertino, atravesse a Abernéssia e rume para o Alto da Boa Vista, endereço da construção mais famosa da cidade: o Palácio da Boa Vista, que remete a um palácio medieval e é nada mais nada menos do que a residência de inverno do governador do estado – que, diga-se de passagem quase nunca dá as caras por lá. Mas quando está ou hospeda alguém, a visita é parcial. Embarque no tour guiado e admire o mobiliário dos séculos 17 e 18 com obras assinada pelos modernistas tupiniquins mais famosos – Tarsila, Brecheret, Di Cavalcanti e Portinari sujaram suas mãos para enfeitar o Boa Vista.
Um pouco mais a frente o Auditório Cláudio Santoro é a casa principal do Festival Internacional de Inverno, em julho. Uma grande área verde na entrada abriga as dramáticas esculturas da polonesa Felícia Leirner, além do melhor mirante para contemplação do símbolo-mor da Serra da Mantiqueira, a Pedra do Baú – que na verdade fica no município vizinho de São Bento do Sapucaí.
A essas horas, a vontade de tomar um suco natural é similar a de continuar namorando a Pedra do Baú. Sem problema, basta seguir para a Fazenda Baronesa von Leithner. Dentro da propriedade pioneira na plantação de framboesa no país, ótimos sucos e geléias são vendidos no Empório, com produtos caseiros e de produção artesanal.
O Complexo Pedra do Baú, formado pelas pedras do Bauzinho, Baú e Ana Chata, é uma das atrações mais procuradas de São Bento do Sapucaí (SP)
À noite começa na praça do Capivari. Chegando cedo ainda é possível um lugar numa das mesinhas a céu aberto (bem ladeadas por aquecedores) do bar Baden Baden. Mesmo com a boa cerveja artesanal e os petiscos com verve alemã, a oportunidade de ver e ser visto fala mais alto. Não é difícil deparar-se com um artista global, uma modelo deslumbrante ou um empresário de sucesso passeando pela calçada da praça.
O movimento está grande e a espera por um lugar no bar levará horas?? O que não falta são bons restaurantes no bairro: o variado Araucária e a pizzaria Arte da Pizza, ambos dentro do Grande Hotel Campos do Jordão; e o argentino Libertango, pequeno salão instalado dentro de uma galeria com a parrilla a vista dos clientes e cortes pra lá de suculentos.
Se o intuito for esticar a noite, saiba que a balada de Campos do Jordão é fortíssima, mas restrita aos meses de junho e julho. Renomadas casas noturnas paulistanas costumam abrir na temporada de inverno. Para saber qual a boa da noite é só esperar pelos promotores que invadem a pracinha do Capivari no início da noite.
Para quem tem mais dias em Campos do Jordão:
– Faça o passeio de trem até Santo Antônio do Pinhal, com passagem pelo ponto ferroviário mais alto do país, o Alto do Lajeado (1743 m). Na estação de Santo Antônio do Pinhal, prove o bolinho de bacalhau vendido na lanchonete.
– Para quem curte atividades radicais, dirija-se ao Bosque do Silêncio ou ao Aventura no Rancho. Aventureiros ainda mais radicais podem encarar a subida da Pedra do Baú através de grampos presos na rocha.
– Na Casa da Xilogravura aprenda tudo sobre a técnica chinesa que utiliza madeira e papel.
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