Era um sábado sem muitas pretensões até que, em meio a uma conversa, recebo a seguinte proposta: “Quer vir com a gente até o Paraguai de Vespa?” “A gente” eram Márcio Fidelis e Walter Mariano, ambos da Scooteria Paulista. E, tanto quanto inesperada foi a pergunta, também foi a resposta: “Vamos!”
Assim começou a aventura de rodar para um destino pouco provável, para um encontro de Vespas em Encarnación, com pessoas que eu pouco conhecia. O percurso de 3 500 quilômetros por três países (Brasil, Paraguai e Argentina) foi divertido e tranquilo. Aí a diferença de rodar de moto estradeira e de Vespa, avançando a uns 80 quilômetros por hora, curtindo as paisagens em detalhes. As pessoas no caminho são uma atração à parte: curiosas, sorridentes, prontas para te cumprimentar.
Os personagens que encontrávamos na estrada são casos à parte. Como o de um conterrâneo argentino que, depois de ter dirigido até São Paulo em seu carro dos anos 60, fazia o caminho de volta com uma jovialidade inesperada aos 73 anos.
Ou da senhora de 60 anos que morava sozinha, cultivando plantas próximo à estrada; o segurança de um posto de gasolina paraguaio que fez questão de posar com sua escopeta para uma foto; as crianças que vendiam chipa, o pão de queijo argentino, e ofereceram os melhores descontos para que comprássemos algo delas; o grupo de motoqueiros Quatis das Cataratas, que nos convidaram para um churrasco; o dono de um hotel na Argentina, que só faltou não nos cobrar para ficarmos por lá; um mecânico da cidade paulista de Assis que nos falou sobre várias corridas de Vespas nos anos 70 e tantas outras.
São histórias que ainda lembro com a mesma nitidez com que recordo dos detalhes de espetáculos à parte, como pilotar em meio a um bando de borboletas amarelas. Voando ao nosso redor aos milhares, elas provocavam uma sensação de epifania durante quase 10 quilômetros de estrada.
Momentos que não esqueci nem mesmo naqueles instantes tecnicamente mais difíceis da viagem, quando percorremos os últimos 400 quilômetros de Curitiba a São Paulo, com chuva, frio e neblina pela Régis Bittencourt em meio a “centos” caminhões. Aliás, só de volta a São Paulo, já em casa, eu soube que o apelido dessa estrada é “Rodovia da Morte”. Ainda bem, porque, para mim, nem foi tão terrível assim.
Hernán Rebaldería tinha medo de moto, mas achou a Vespa tranquila
Texto publicado na edição 220 da revista Viagem e Turismo (fevereiro/2014)