Verdade seja dita: o inverno europeu não é para os fracos. Sobreviver sob temperaturas negativas e dias curtíssimos demanda boa vontade na maior parte do do tempo. Mas em dezembro, quando a neve começa a forrar o chão, as cidades se acendem com um sem-fim de luzinhas, o clima natalino se instala e, de repente, tudo fica mais fácil – e imensamente mais bonito.
Passar o fim de ano na Europa é viver um cenário de filme, daqueles que te invadem, aquecem o peito e te fazem não querer desligar a TV. Some isso à facilidade de locomoção entre países, aos hits culturais, ao vinho quente e pronto: não falta nada.
Terminei meu ano bem assim, em grandessíssimo estilo, com 10 dias de viagem entre Amsterdã, Bruxelas e Paris, e compartilho aqui um roteiro completo. Confira:
Dia 1
Às vezes, ao caminhar por entre canais, pontes e ruelas circundadas de predinhos estreitos em diferentes tons de marrom, dá até para esquecer que Amsterdã é a capital da Holanda. Com uma qualidade de vida invejável e bicicletas por todo canto, a cidade passa um ar de aconchego que é difícil de se achar em outros centros urbanos.
Mesmo no inverno, quando os parques ficam mais mirradinhos e as famosas tulipas ainda não estão florescendo, é impossível não se encantar pelo seu jeito relax, mas não menos cultural.
Para além das ciclovias, é fácil se locomover de trem desde o Aeroporto de Schiphol: a estação fica bem abaixo do centro comercial na saída da área segura e é possível comprar tickets nas máquinas físicas, online pelo site da NS International ou usar um cartão de débito internacional (melhor opção) ou crédito do tipo contactless diretamente na catraca (seja qual for o meio de pagamento, você precisa sempre encostá-lo no tótem tanto ao entrar (check-in) quanto ao sair (check-out); isso vale para todos os transportes públicos). A depender da sua rota, pode ser necessário pegar o metrô, pago separadamente – se você pretende usar bastante o transporte público local, considere comprar um ticket de 24 horas por € 9.
Malas no hotel (eu me hospedei no Meininger Amsterdam Amstel, muito limpo e organizado, com quartos coletivos e individuais, ao lado da estação Amstel), faça um snack rápido na rede de fast-food local, a FEBO, antes de começar a explorar. O carro-chefe são os croquetes vendidos em máquinas automáticas (pague em moedas), mas também há hambúrgueres (de carne ou de croquete) fritos na hora e servidos com uma mostarda levemente picante. Praticidade: 10; saúde: depois a gente corre atrás.
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A primeira parada pode ser a Museumplein, a praça dos museus, onde você pode escolher entre dois dos principais centros culturais da Holanda, ou visitar ambos: o imponente Rijksmuseum, com joias dos mestres holandeses Rembrandt e Vermeer, e o Van Gogh Museum, que guarda as célebres O Quarto em Arles e Os Girassóis, bem como seus múltiplos autorretratos, explicações sobre sua trajetória e estilo artístico, pinturas de artistas contemporâneos e outras obras icônicas, como a Seascape near Les-Saints-Maries-de-La-Mer. Ingressos esgotam rápido, tanto no verão quanto no fim do ano, e comprar com antecedência é essencial.
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Se o frio apertar, aproveite para tomar um vinho ou chocolate quente na Christmas Village, o principal mercado de natal da cidade, com algumas dezenas de barraquinhas de comidas, presentes e também uma pista de patinação (em 2023 a bendita pista não foi montada por problemas nas autorizações). Por sorte, a enorme árvore de natal iluminada por 40.000 luzinhas na DAM Square não costuma falhar.
Da Museumplein, basta caminhar por entre os arcos do Rijksmuseum ou, para uma rota um pouco mais luxuosa, subir pela paralela Pieter Cornelisz Hoofstraat, pontuada de boutiques high-fashion como Chanel e Gucci, para cair na Spiegelgracht, a entrada do semi-círculo de canais que forma o fotogênico centro histórico de Amsterdã.
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Tome a esquerda na Prinsengracht e caminhe a esmo por entre as ruas, aproveitando para observar as floreiras nas grades dos canais, as casas-barco (é possível ver uma por dentro no Museu da Casa-Barco; foto acima), as charmosas lojinhas de porcelana holandesa e, claro, os muitos ciclistas. Se sobrar disposição, suba até o bairro de Jordaan, continuação natural do anel de canais, onde você poderá fechar a tarde provando no Winkel 43, tida como a melhor torta de maçã de Amsterdã e que é servida com um chantilly levíssimo. Ela desce muito bem com um capuccino e a costumeira fila vale a espera.
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Dia 2
A manhã seguinte pode começar no multicultural De Pijp, inicialmente um bairro de trabalhadores e estudantes que, nos últimos anos, vem se transformando em um distrito boêmio e moderno. A pedida ali é caminhar até a Albert Cuypstraat, onde, há mais de um século, feirantes vendem de peixes a queijos, vegetais, produtos de cabelos e lembrancinhas no Albert Cuyp Market, aberto de segunda a sábado. Deixe para tomar seu café da manhã por lá e aproveite para experimentar uma especialidade holandesa: stroopwafels quentinhos e crocantes, recheados de caramelo e, se quiser, com uma camada de Nutella por cima. É tão bom que você vai querer levar um saquinho inteiro para casa – experimente colocar o stroopwafel em cima de uma caneca de chá por um minuto para que o caramelo derreta outra vez.
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Logo ao lado, no bairro De Weteringschans, uma série de operadoras de turismo se espalham ao redor dos canais, oferecendo tours de barco; essa pode ser uma ótima pedida para fazer a digestão. Fui com a Stromma Canal Tours, cujo passeio parte da Museum Brug, bem atrás do Rijksmuseum, em barcos cobertos e aquecidos, bons para fugir do vento constante. A rota dura cerca de uma hora e meia, circulando quase toda a extensão do Herengracht, passando em frente ao grandioso Museu de Ciências NEMO, em forma de barco, e regressando por debaixo da Magere Brug (quem você beijar ali, reza a lenda, será seu amor verdadeiro por toda a vida). O tour é guiado em inglês, mas há audioguias em português.
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Na saída, caminhe alguns minutos de volta a De Pijp, para um pequeno happy hour na Heineken Experience, museu instalado no prédio que foi a primeira fábrica da cervejaria. O tour apresenta a história do rótulo e das pessoas que o transformaram em um ícone internacional, exibe os barris originais, o processo de fermentação e termina com uma degustação da cerveja (o ingresso simples dá direito a dois copos). Na sequência, vale se render a outro clássico da gastronomia local, o cone de batatas fritas com maionese e molhos diversos (eu escolhi a barraquinha da Vleminckx), antes de seguir para o Red Light District, se essa for sua praia.
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Além de reconhecido polo de prostituição da cidade, onde as moças se exibem em vitrines esperando pelos clientes, o bairro possui sex shops, teatro de sexo explícito, alguns coffeeshops e também bares e restaurantes variados. A visita vale, no mínimo, para saciar a curiosidade sobre esse pedaço descolado e um tanto inusitado de Amsterdã. Desde 2020 os tours guiados estão proibidos, decisão tomada pelas autoridades para melhorar as condições de trabalho das profissionais do sexo.
Dia 3
No último dia, comece com uma visita à Casa de Anne Frank, onde a jovem judia e sua família se esconderam por dois anos durante a ocupação nazista na Holanda. É impressionante e comovente ver a estante de livros que separava o prédio do anexo secreto, subir as estreitas e vertiginosas escadas e perceber na pele o quão silenciosa e amedrontada era a vida dos Frank e seus amigos, especialmente se você já leu o diário de Anne – caso não tenha lido, não se preocupe; tudo é explicado em vídeos, fotos e audioguias em português.
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Amenize o peso na alma com um lanche na Pancakes Amsterdam, a poucos passos de distância: o restaurante serve as típicas panquecas holandesas, finíssimas e abertas, com variados tipos de coberturas. Vale provar também as poffertjes, bolotas de panqueca doce servidas com açúcar e manteiga ou com adicionais como calda de chocolate ou mirtilo.
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De volta à Museumplein, termine sua estadia fugindo do frio e (provavelmente) da chuva se rendendo à arte moderna e contemporânea. Ali, estão o Stedelijk Museum, com obras de gente como Piet Mondrian e Marina Abramovic, e também o pequenino MOCO, com uma sala dedicada à arte de rua do elusivo Banksy, assim como curiosas instalações imersivas, esculturas e telas de nomes como Yayoi Kusama, Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat.
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