Delray Beach entrega uma Flórida elegante e sem multidões
Praia perfeita, hotelaria de primeira, arte urbana, chefs renomados. E mais: é amigável ao pedestre e tem tarifa zero no transporte público
As comparações entre Delray Beach e Miami, separadas por 85 quilômetros de rodovias, são inevitáveis. As praias são parecidas, com areia fina e branquinha, mar azul-turquesa, cabanas de salva-vidas coloridas e um extenso calçadão. Além disso, Delray Beach pode remeter ao descolado Wynwood pelos grafites nos muros e paredes, pelas galerias de arte, pelas lojas de designers locais, ainda que o estilo industrial de Miami tenha ficado de fora. Mas o que chama mais atenção são mesmo as diferenças: Delray Beach é uma cidade de praia pequena e charmosa, descontraída e sofisticada, que está longe de ser um destino de compras. Ela teve um crescimento mais orgânico do que planejado, é convidativa aos pedestres e, o principal, ainda não foi descoberta pelas massas. No fim das contas, Delray Beach é a Flórida como você ainda não viu, e que vai ver agora.
Uma esticada (ou uma parada estratégica)
Palm Beaches é um condado da Flórida que abriga 39 cidades. A região se estende de Jupiter, ao norte, até Boca Raton, mais ao sul. Entre elas está Delray Beach, uma boa opção para passar alguns dias descansando em uma praia com jeitinho de Caribe — pode ser depois de encher as sacolas em Miami, depois de conferir as novidades nos parques de Orlando ou justamente entre um programa e outro, como uma parada estratégica no meio do caminho entre as duas cidades mais famosas da Flórida.
Para quem viaja de carro, basta seguir pela Interstate 95, a principal rodovia que percorre de ponta a ponta a costa leste da Flórida: Delray Beach está a cerca de uma hora e meia de Miami (a depender do trânsito, que pode ser intenso pela manhã e no final da tarde) e a três horas de Orlando.
Mas alugar um carro não chega a ser imprescindível, graças aos novos trens da Brightline. A estação de Miami fica em Downtown, conectada ao Metrorail, o Metrobus, o Metromover e ao Trolley (saiba mais em “Como circular” no nosso guia de Miami). De lá, leva-se uma hora de viagem até Boca Raton, de onde é possível pegar um Uber e chegar em 15 minutos ao centro de Delray Beach. A partir de 4 de julho 2023, a linha da Brightline se estenderá até Orlando, com uma estação dentro do aeroporto, e o trajeto de lá até Boca Raton deve levar duas horas e meia.
Andar a pé eu vou
Ter um carro em Delray Beach é algo opcional. Para quem adora bater perna como eu, foi um alento descobrir uma cidade na Flórida tão amigável ao pedestre: o centrinho é compacto, quase todo plano, bastante arborizado e com ruas perfeitinhas. Para completar o cenário bucólico, ali as pessoas ainda se cumprimentam, mesmo que não se conheçam — um hábito inexistente na maioria das metrópoles.
Sem falar que é fácil se localizar. Há três endereços principais que concentram lojas e restaurantes. A Atlantic Avenue é a artéria que divide a cidade ao meio. Ela desemboca na Ocean Boulevard, paralela à praia, e recorta a 2nd Avenue, apelidada de Pineapple Grove, cheia de murais coloridos.
Há duas opções de hotéis na 2nd Avenue: o Hyatt Place, de perfil mais corporativo, e o novíssimo The Ray, onde me hospedei. Inaugurado em setembro de 2021, ele faz parte da Curio, coleção de hotéis de luxo da Hilton, e sintetiza bem a vibe de Delray Beach com um design moderno e tropical. A ampla recepção chega a lembrar uma galeria de arte com esculturas e quadros de arte contemporânea em larguíssima escala.
Já os quartos, bem dosados entre a elegância e o aconchego, são decorados com fotos que mostram bonecas Barbie em looks dos anos 1960 à beira da praia ou da piscina. Todos possuem varanda e um detalhe arquitetônico peculiar: uma meia parede de vidro que permite espiar o interior do banheiro estando no quarto e vice-versa. Se quiser privacidade, basta fechar a cortina.
Os hóspedes podem se exercitar na academia moderna, que fica aberta 24 horas no térreo, ou durante uma das sessões de yoga, HIIT e Bootcamp que são oferecidas pela manhã como cortesia no terraço ou na praça ao lado do hotel. Quem for mais adepto ao ócio do que ao fitness vai gostar de saber que no último andar há uma piscina, ainda que bem rasinha, cercada por espreguiçadeiras e guarda-sóis.
O The Ray fica a pouco mais de cinco minutos a pé da Atlantic Avenue e a cerca de 20 minutos da Ocean Boulevard e da praia, pernada que eu achei das mais agradáveis. O hotel disponibiliza também bicicletas, opção perfeita para um rolê mais longo, ou ainda um motorista que pode levar você até a praia a bordo de um simpático carrinho azul bebê que lembra um bugue e chama a atenção por onde passa.
Mas a verdade é que as bicicletas e o carrinho são mais mimos do que serviços essenciais. Como já disse, caminhar é fácil e muito recomendável. Mas Delray Beach entrega ainda mais no quesito mobilidade: existe também um transporte público gratuito chamado Freebee, carrinhos elétricos que podem ser chamados por aplicativo (disponível para iOS e Android) e que circula pelo centro da cidade (veja o mapa aqui). É como se fosse um Uber: você informa o endereço onde está, para aonde deseja ir e aguarda a chegada do carro. Fácil e, o melhor, gratuito – mas como estamos na terra da gorjeta, pega bem deixar pelo menos US$ 1 para o motorista.
Relax à beira-mar
A sossegada praia de Delray Beach é de acesso livre e possui uma infraestrutura bacana com bebedouros, chuveiros e torneiras para lavar os pés, tudo gratuito. A areia é fininha, mas precisei vencer um degrauzão para colocar os pés na água. Friorenta que sou, consegui encarar até o joelho em pleno janeiro, inverno no Hemisfério Norte. Soube depois que entre julho e setembro a temperatura da água alcança os 31°C. A Delray Beach Watersports e a Nomad Surf Shop (essa última mais ao norte, em Boyton Beach) alugam pranchas de stand up paddle e caiaques.
Em Delray Beach, o serviço de praia é oferecido exclusivamente pela Oceanside Beach Service, que cobra US$ 15 por hora ou US$ 60 pelo dia inteiro para usar o conjunto com duas espreguiçadeiras e guarda-sol. Quem se hospeda no The Ray já tem o serviço incluído na diária, basta pedir o voucher na recepção do hotel. Já o The Seagate Hotel & Spa, que fica a uma quadra da praia, possui o seu próprio beach club na areia, com direito a piscina de água salgada, mas é somente para hóspedes. Mas se não quiser alugar nada, sem crise. Tudo é muito vazio, sempre dá para achar um cantinho mais tranquilo ou quase deserto.
O Opal Grand Oceanfront Resort & Spa é outra boa opção de hospedagem a um pulo da areia: basta atravessar a Ocean Boulevard. Depois de passar por uma reforma, o lugar reabriu em 2019 com quartos que remetem a uma elegante casa de praia. O destaque é o spa assinado pela Tammy Fender, marca de skincare com produtos à base de plantas e abordagem holística. E, o melhor, é aberto ao público e lá fui eu experimentar o tratamento facial, que é o carro-chefe. O espaço é um verdadeiro santuário onde o branco está presente do chão às paredes e também dos pés à cabeça no uniforme dos terapeutas.
O ritual de 60 minutos começou com o convite para que eu escolhesse três óleos que seriam incorporados ao meu tratamento. Racional que sou, me pus a ler os rótulos, mas a minha terapeuta daquela manhã me orientou a escolher levando em consideração somente o aroma, enfatizando que cada óleo tinha uma função e que o meu inconsciente desempenharia o seu papel nessa seleção. Pelo visto, o aroma cítrico que escolhi, que representava energia, era o que o meu corpo pedia após a cansativa viagem até a Flórida.
Deitada em uma maca que mais parecia uma cama e coberta por lençóis que praticamente me abraçavam, todo o meu rosto até a clavícula foram limpos, esfoliados e massageados meticulosamente. Só então a terapeuta fez uma avaliação da minha pele, que, segundo critérios dela, estava saudável. Ainda assim, recebi uma porção de vitaminas, uma máscara grossa e refrescante e, por fim, uma lufada de oxigênio puro. A experiência foi muito relaxante e, mesmo tendo uma pele muito sensível, não senti nenhum tipo de ardência ou coceira. Saí de lá radiante e com um glow de influencer que perdurou por dias.
Circuito artsy
Tanto na praia quanto nos hotelões, Delray Beach tem uma atmosfera de luxo descontraído que é reforçada pela cena artística. Ao longo da Atlantic Avenue, a avenida principal, não espere encontrar Nike, H&M ou outras grandes redes: as únicas marcas que reconheci foram Urban Outfitters, Tommy Bahama e, claro, Starbucks. Por ali, predominam boutiques locais, intercaladas por galerias de arte que se concentram na altura da 6th Avenue e da 5th Avenue. Há mais uma porção de galerias na Pineapple Grove, o distrito artístico da 2nd Avenue que é uma versão menor e nada industrial de Wynwood, com muitos grafites e murais coloridos. O gostoso é explorar toda essa região a pé, parando para admirar a arte dentro e fora das galerias.
Virando à esquerda na 3rd Street, você encontra a Arts Warehouse, uma incubadora que disponibiliza estúdios gratuitamente para artistas desenvolverem suas obras. Há sempre uma exposição acontecendo no salão principal e acontecem workshops ao longo do mês (fique de olho na programação). Os estúdios são abertos para visitação toda primeira sexta-feira do mês, das 18h às 21h, em um evento batizado de First Friday Art Walk. É uma chance de ver de perto o que anda sendo produzido ali e bater papo com artistas residentes, como a estilista Amanda Perna, que participou da 14ª temporada do reality show Project Runaway e me mostrou o andamento da sua nova coleção em meio a tecidos, tules, tutus, miçangas e pedrarias coloridas.
Um jardim japonês na Flórida
Saindo do centro de Delray Beach, são só vinte minutos de carro até o imperdível Morikami Museum and Japanese Gardens. Como o Freebee não atende essa região, fui de Uber: cada trecho custou pouco mais de US$ 20. Ao chegar ali, quase esqueci que estava na Flórida. O complexo de dois hectares guarda extensos jardins japoneses interligados por pontes de madeira, corredores de bambu e caminhos de pedra. São inúmeros os cantinhos que convidam à meditação, ouvindo nada mais que o farfalhar das folhas. Puro zen.
O Morikami presta homenagem à colônia de fazendeiros japoneses que se estabeleceu na região no início do século XX — história contada no museu através de artefatos, obras de arte, reproduções de ambientes de uma típica casa japonesa, recortes de jornais e fotos da época. Do lado de fora, é exibida uma coleção fascinante de bonsais — há inclusive espécies nativas brasileiras, como a jabuticabeira e o tataré, originário da Mata Atlântica carioca.
Outro espaço na entrada do complexo faz demonstrações da cerimônia do chá e recebe exposições. Até 2025, está em cartaz a “Washi Transformed”, que reúne obras de nove artistas japoneses contemporâneos que fazem trabalhos em papel, de recortes a dobraduras.
Muito além do hambúrguer
A variedade gastronômica de Delray Beach vai muito além do fast food e é satisfatoriamente mais colorida. Em plena Pineapple Grove, o Lulu’s é sucesso no café da manhã com os bowls de iogurte, açaí e overnight oats, tudo tão instagramável quanto fitness.
O Ember Grill, dentro do hotel The Ray, é outro que faz bonito na primeira refeição do dia com ovos beneditinos, panquecas e french toast. Aberto também no almoço e no jantar, o restaurante é especializado em peixes grelhados, frutos do mar e cortes de carne bovina. O que eu gostei mesmo e me esbaldei foi da costeleta de vitela à milanesa servida com rúcula, lascas de parmesão e limão. O prato era tão bem servido que não deixou espaço para a sobremesa mais famosa da casa: Baked Alaska, mistura de sorvete e bolo que é coberta por merengue e finalizada na mesa com um maçarico.
Na Atlantic Avenue, o Lionfish é especializado em frutos do mar e faz um bom lobster roll, enquanto o Elisabetta’s foca na gastronomia ítalo-americana — a entradinha coccoli fritto, massa frita com ricota e presunto cru, é uma tentação.
Para quem busca agito, o El Camino na Pineapple Grove é a pedida. O cardápio é de comida mexicana, o bar prepara diferentes drinks à base de tequila e mezcal e a música ao vivo deixa o ambiente com cara de baladinha. Outra opção divertida é o Silverball Retro Arcade, espaço bem atrás do Lionfish com uma centena de máquinas de pinball e fliperamas. Você paga US$ 15 para jogar o quanto quiser durante uma hora e pode ir pedindo comes e bebes no bar.
Mas a cena gastronômica de Delray Beach ficou ainda mais interessante com a abertura do Akira Back, também dentro do hotel The Ray. Quem assina o menu é o chef de mesmo nome, nascido na Coreia do Sul e criado nos Estados Unidos, que por vários anos consecutivos conquistou uma estrela Michelin pelo seu restaurante Dosa, em Seoul. No restaurante em Delray Beach, ele combina suas origens coreanas com a gastronomia japonesa. A tuna pizza, que leva uma finíssima camada de tartar de atum, aioli e óleo de trufa branca, é imperdível. Também pirei no sabor intenso do rock shrimp, camarão servido com uma picante maionese coreana chamada gochujang, e na maciez do wagyu. Na hora da sobremesa, o cigar é de parar o salão: trata-se de um doce à base de chocolate no formato perfeito de um charuto, que chega à mesa em uma elegante caixa de madeira e é servido em um cinzeiro, com direito a cinzas feitas também de chocolate. Uma forma divertida e memorável de terminar a refeição — e a minha estadia em Delray Beach.
Quando ir: a dica de ouro
Ainda que esteja relativamente fora do radar, Delray Beach é frequentada principalmente por norte-americanos que fogem das temperaturas negativas em Nova York, Boston e Chicago entre os meses de dezembro e fevereiro. Isso porque, nesse cantinho da Flórida, os termômetros marcam de 15°C a 25°C durante o inverno do Hemisfério Norte.
No verão, de julho a setembro, as temperaturas ficam entre 25°C e 31°C, o que para os americanos é quente demais. A dica é ir justamente nessa época, considerada baixa temporada: o clima quente não é nada fora do comum para os padrões brasileiros, a água do mar chega a 31°C e, o melhor de tudo, hotéis e restaurantes baixam os preços.
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