Holbox: a ilha que é um achado e um paraíso pertinho de Cancún
Contraponto perfeito às multidões de Cancún, Playa del Carmen e Tulum, a ilha é um cenário de sonho e tem opções que vão do mochilão ao luxo
Um tanto intimidada pela somatória óculos escuros e balaclava – aquela touca ninja que deixa apenas os olhos da pessoa de fora –, mas que no caso não me deixavam ver um pedaço sequer do rosto do motorista, subi de mala e cuia no inusitado táxi amarelo de Holbox assim que desembarquei do ferry-boat. Os ditos táxis, em grande número e enfileirados próximos ao píer, são um híbrido de carrinho de golfe e quadriciclo e que mais tarde descobri se tratar de UTVs, veículos muito utilizados em terrenos acidentados.
Mas bastou o motorista acelerar para eu entender o motivo de tanta proteção: uma poeira do além começou a levantar me obrigando a tapar o nariz e espremer os olhos enquanto percorríamos as ruas de areia. E não demorou para sentir um déjà vu de Jericoacoara. A diferença é que em Jeri a areia é fofa, de afundar os pés, enquanto em Holbox (a pronúncia é rol-bósh) ela é mais batida, o que facilita o caminhar e o pedalar.
Pelo caminho, passamos pelo centrinho repleto de casas coloridas, paredes cobertas por grafites e bandeirinhas do México penduradas. O cenário seria mais pitoresco se não houvesse um lixo aqui e outro acolá na rua e um emaranhado de fiações expostas — uma poluição visual a qual, enquanto brasileira, já estou bem habituada.
Conforme avançamos em direção à ponta esquerda da ilha, as construções foram ficando mais raras. A vegetação rasteira era interrompida vez ou outra por algum hotel. Chegamos à Playa Punta Coco, onde eu ficaria hospedada pelos próximos dias.
A corrida até ali desde o píer, onde o ferry desembarca os recém-chegados, custou 200 pesos, cerca de R$ 60, que paguei em dinheiro vivo (os taxistas não aceitam cartão). O valor é uma facada se considerar que foram três quilômetros percorridos em pouco mais de 15 minutos. Mas por se tratar de uma ilha isolada e que vive praticamente de turismo, não há outra alternativa.
O meu destino era um hotel bastante charmoso que, quando estive por lá em abril de 2023, se chamava Margaritaville St Somewhere. Alguns meses depois, a hospedagem mudou de mãos e virou Naay Boutique Hotel.
Por estar situado em uma área de mangue, o charmosíssimo hotel foi construído sobre palafitas e passarelas de madeira que ligam a recepção, os blocos de três andares onde ficam os quartos e a praia. Bem no meio está uma gostosa piscina, cercada por convidativas day beds e coroada por uma estrutura charmosa em formato de farol.
Os quartos são um espetáculo! A madeira clara e o branco estão por todos os lados, assim como as referências náuticas na decoração. Sobre a pia de pedra, que remete a um coral, paira um espelho em formato de escotilha de navio. Outro charme é a mala vintage escondida debaixo da cama, que na verdade é uma gaveta para guardar os pertences.
+ Reserve sua hospedagem no Naay Boutique Hotel
O hotel é pé na areia e logo em frente a ele há um beach club com mais uma porção de day beds para relaxar e esquecer da vida. Quando eu estive lá, o espaço pertencia ao hotel, mas agora ele é administrado pelo grupo Rosa Negra, que tem um beach club badalado e requintado em Tulum.
Um pequeno mirante de madeira, construído logo ao lado, permitia ver de cima o degradê de Holbox: um azul bebê bem clarinho que lá no fundo vai ganhando tonalidades mais escuras. Era a hora de dar um tchibum. A surpresa foi descobrir que, além de morninho, o mar é também rasinho, uma deliciosa piscina. A água só começa a bater na cintura depois de caminhar muitos metros em direção ao horizonte desimpedido.
Quando parecia que o cenário não poderia ficar melhor, ele melhorou. Fim de tarde, o sol começou a descer até a linha do horizonte, encostou no mar e mergulhou de vez. Mas não sem antes deixar pelo caminho pinceladas de tons rosa, laranja e roxo, dignas de um quadro de Monet. Foi daqueles entardeceres que dá vontade de aplaudir de pé ou de fotografar infinitas vezes, ainda que nenhum clique consiga captar o sublime do momento. Um espetáculo, em suma, que se repetiria nos dias seguintes e que atrai para a Playa Punta Coco gente de todos os cantos de Holbox.
Naqueles momentos eu só pensava: é o paraíso! E se a sua ideia de éden se traduz em um lugarejo pouco povoado, com areia branquinha, mar calmo e os dias terminando com um pôr do sol arrebatador, então Holbox definitivamente é pra você também.
Isso não significa que não haja perrengues. Por sorte o sargaço, uma questão preocupante em Tulum, é quase inexistente em Holbox e nunca atrapalhou o meu banho de mar. Mas a quantidade de pernilongos é considerável – nada que um bom repelente não resolva –, o sinal de celular e o wi-fi oscilam bastante e as quedas de energia são frequentes. Por sorte o meu hotel tinha gerador próprio, sem o qual eu não teria conseguido manter o ar condicionado ligado durante as noites escaldantes.
Outra questão é a locomoção. Circular por Holbox não chega a ser difícil, já que a ilha possui apenas 40 km de extensão, mas também não é fácil. Dizem com frequência que a ilha é livre de automóveis. Não é bem assim, como eu constatei logo no desembarque. Existem, sim, alguns poucos carros e caminhonetes que pertencem aos moradores ou prestadores de serviço.
Mas é fato que o meio de transporte oficial são os veículos do tipo UTV, muito usados como táxis. Os mais simpáticos que você vai ver na vida, mas também um tanto careiros.
Se não quiser ficar dependendo deles para cada deslocamento, existe a possibilidade de alugar carrinhos de golfe ou bicicletas através do hotel ou em uma das muitas lojas no centrinho — saindo do píer, é só andar um pouco para encontrar várias. Os preços das bikes giram em torno de 100 pesos por três horas e, o dos carrinhos de golfe, 1.350 pesos por 12 horas.
A pé, consegui explorar toda a extensão da Playa Punta Coco. Por ali encontrei barracas vendendo coco, pedaços de abacaxi e manga no palito, além de alguns poucos beach clubs para quem vem passar o dia (em torno de 250 pesos a diária). Muitos deles tinham redes dentro d’água que coloriam a paisagem. Na ponta da praia, um banco de areia forma uma lagoa que atrai diferentes espécies de pássaros.
De bicicleta, segui rumo ao centro e à praia principal, a Playa Holbox. O visual é bastante parecido com o de Punta Coco, com a diferença que a Holbox é bem mais movimentada e tem mais beach clubs. Alguns cobram somente pelo que se consome, enquanto outros têm uma taxa de cerca de 350 pesos pelo day use. Me faltou fôlego, mas daria para seguir até Punta Mosquito, na outra extremidade da ilha, com praias desertas.
De Playa Holbox para Playa Punta Coco são cerca de 45 minutos de caminhada e 20 minutos de bicicleta. Punta Coco carece de restaurantes e pode ser cansativo pedalar por 40 minutos ida e volta para almoçar e jantar no centrinho. Por isso, quem se hospeda em Playa Punta Coco acaba dependendo mais dos táxis ou faz boa parte das refeições no próprio hotel, como foi o meu caso.
Holbox é um grande convite ao dolce far niente. Mas além de curtir as praias, existem três programas principais por lá. O primeiro consiste em assistir ao fenômeno da bioluminescência na lagoa que se forma na ponta de Punta Coco. Funciona assim: um guia passa para buscar no hotel de madrugada (o horário exato depende da fase lunar), te conduz até esse cantinho da praia e mostra como agitar a água para que o plâncton se “acenda”.
A bioluminescência não é nem um pouco parecida com o que se vê nas fotos (e muito menos no filme As Aventuras de Pi). As imagens são produzidas por fotógrafos e com técnicas específicas que fazem tudo parecer muito maior e mais neon. O visual é bem mais sutil e singelo, a ponto das câmeras de celular sequer captarem a luz. Mas isso não torna o fenômeno menos interessante.
Os passeios guiados para ver a bioluminescência são bacanas para quem está hospedado no centro de Holbox e precisa do transporte de madrugada até lá. Mas quem está em Playa Punta Coco pode fazer por conta própria. Basta acender a lanterna do celular e caminhar até a lagoa (o ponto onde ocorre o fenômeno está marcado no Google Maps). Chegando lá, não tem segredo: é só agitar a água e curtir. Algumas agências oferecem variações desse passeio incluindo caiaque ou stand up paddle (os preços variam entre 400 e 600 pesos).
View this post on Instagram
Outro passeio bastante procurado é o Tour das Três Ilhas (cerca de 350 pesos o passeio + 100 pesos de entrada nas atrações). A bordo de barcos pequenos, que molham e balançam bastante, a primeira parada acontece em Yalahau, uma lagoa de águas cristalinas cercada por mata nativa que fica no continente.
View this post on Instagram
Só então o tour segue para as tais “três ilhas”: Isla Pájaros, uma área de proteção que é casa para 140 espécies de pássaros, Isla Pasión, praia deserta com um mirante para admirar o visual de cima, e Punta Mosquito, que na realidade fica na própria ilha de Holbox e combina praia deserta e uma porção de pássaros.
Tu-tubarão
Holbox é um destino famoso para observação de tubarões-baleia. A melhor época para flagrar os gigantes do mar é da segunda quinzena de junho até o final de agosto. Em setembro eles até aparecem, mas as condições climáticas não colaboram. Os passeios são feitos de barco, com paradas para fazer snorkel do ladinho deles (a partir de 3.350 pesos com a Holbox Whale Shark Tours). Está aí o motivo que eu nem precisava para voltar a Holbox.
View this post on Instagram
SERVIÇO
Como encaixar Holbox no roteiro?
Por ora Holbox ainda é pouco conhecida, principalmente quando comparada com Cancún, a vizinha ilustre, onde fica o aeroporto mais próximo. Por isso, é fácil encaixá-la no começo ou no final de um roteiro pela Riviera Maya. Minha sugestão é deixar Holbox por último, para encerrar a viagem com chave de ouro. Três dias costumam ser suficientes para explorar a ilha e descansar, mas já aviso: chegando lá, você vai querer ficar muito mais.
+ Leia também as minhas matérias sobre Cancún, Puerto Aventuras e Tulum
+ Veja as melhores opções de voos para Cancún
Como chegar em Holbox?
São duas etapas para chegar em Holbox. A primeira consiste em viajar de Cancún até a pequena cidade de Chiquilá: a distância é de cerca de 140 km e o percurso leva pouco mais de duas horas. Isso pode ser feito de ônibus (160 pesos com a ADO) ou traslado, que pode ser compartilhado (a partir de 300 pesos com a Holbox Transfer) ou privativo (5.500 pesos com a Lomas Travel).
Em Chiquilá, saem ferries que levam para Holbox. Somente duas empresas fazem o trajeto, a 9 Hermanos e a Holbox Express, cujos barcos saem alternadamente a cada 30 minutos das 6h às 21h30. As passagens podem ser compradas na hora, no próprio píer e o preço é tabelado (220 pesos em espécie ou 250 pesos no cartão). O trajeto leva cerca de 30 minutos e o ferry praticamente não balança.
E se eu estiver com carro alugado?
Você até pode dirigir para Chiquilá com um carro alugado (o trajeto é todo asfaltado e bem sinalizado, apesar de serem poucos os postos de gasolina pelo caminho). Porém, terá que deixar o veículo em algum estacionamento próximo ao píer durante os dias em que estiver na ilha.
A maioria dos estacionamentos cobra 100 pesos a diária, o que realmente não é muito, mas a questão da segurança é incerta e você ainda estará pagando pelo automóvel por um período em que ele não será utilizado.
Na minha viagem, optei por retirar o carro alugado em Cancún, usá-lo durante a minha viagem pela Riviera Maya e depois devolvê-lo novamente em Cancún, onde peguei o traslado até Chiquilá. Na volta de Chiquilá, o traslado me deixou direto no aeroporto de Cancún, onde já peguei o voo de volta para o Brasil.
Como circular por Holbox, então?
Veículos do tipo UTV pintados de amarelo são utilizados como táxis (um trajeto de três quilômetros sai por 200 pesos). Para não depender deles, existe a possibilidade de alugar carrinhos de golfe (1.350 pesos por 12 horas) ou bicicletas (100 pesos por três horas) em uma das muitas lojas dedicadas a isso no centrinho.
View this post on Instagram
Onde se hospedar em Holbox?
Uma vez que circular por Holbox pode ser chatinho, é muito importante escolher bem a sua base. Logo em frente ao píer onde chegam os ferries está o centrinho comercial, repleto de grafites coloridos, e a Playa Holbox. Na extremidade esquerda da ilha, a cerca de três quilômetros do píer, está Playa Punta Coco.
Playa Holbox é mais movimentada, com muitas espreguiçadeiras e guarda-sóis montados pelos hotéis e beach clubs. Ali também há opções de hospedagens em diferentes faixas de preço e uma grande variedade de restaurantes na porta.
Já Playa Punta Coco é quase deserta e mais bonita. É ali que o sol se põe — um espetáculo que você não deveria perder de jeito nenhum —, e também onde é possível ver o fenômeno da bioluminescência à noite. Ali, praticamente não há oferta de restaurantes fora dos hotéis.
Quando ir para Holbox?
Os únicos meses a serem evitados são setembro e outubro, quando as fortes chuvas deixam as ruas em condições ruins e podem causar inundações. Quem vai entre junho e agosto pode fazer os passeios de barcos para ver tubarões-baleias.
Hotéis em Holbox
Em uma dos cantos mais afastados de Playa Punta Coco, com vista privilegiada para o pôr do sol e a poucos minutos do lagoa onde se observa a bioluminescência, o Naay Boutique (nota no 8/10 no Booking) tem uma charmosa decoração de inspiração náutica – e eu voltaria sem pestanejar.
Outra opção na região é o Nomade (nota 9,4/10), que também possui uma badalada unidade em Tulum. São trinta suítes que variam entre bangalôs suspensos sobre palafitas e tendas luxuosas com banheiros ao ar livre — tudo altamente instagramável.
View this post on Instagram
Na Playa Holbox, são hospedagens pé na areia o Hotel La Palapa (nota 8,9/10), de quartos simples e somente para adultos, e o Casa Las Tortugas (nota 9,1/10), onde as charmosas suítes levam molduras de bambu e decoração étnica.
A lista continua com o Aldea Kuká (nota 8,2/10), hotel boutique eco-friendly móveis de madeira, e a Villas Tiburón (8,3/10), opção de bom custo/benefício com bar e piscina no terraço.
View this post on Instagram
O pé na areia mais luxuoso do pedaço é o Ser Casasandra (nota 9/10), hotel boutique que se destaca pela quantidade de obras de arte decorando os quartos e as áreas comuns.
View this post on Instagram
No centrinho da ilha, o Mystique (nota 8,1/10) tem quartos espaçosos, alguns deles verdadeiros apartamentos, com vistas parciais ou totais do mar. O hotel fica a poucos metros da praia e oferece serviço de cadeiras e guarda-sol na praia.
Já o Punta Caliza compensa a distância da praia com cabanas de pé-direito alto que se distribuem em torno de uma piscina turquesa.
View this post on Instagram
Se a ideia é economizar, considere o Che Hostel (nota 8/10), bem próximo do píer onde chegam os ferries: tem quartos privativos e compartilhados, um bar badalado em frente à piscina e terraço com vista para o mar.
Por fim, para quem quer se isolar de tudo e todos, o Las Nubes (nota 8,4/10) fica já no caminho para Punta Mosquito.
View this post on Instagram
+ Busque outras opções de hospedagem em Holbox
Restaurantes em Holbox
O Painapol é uma ótima pedida para o café da manhã, caso ele não esteja incluído na diária do seu hotel: panquecas, sanduíches caprichados e bowls de frutas são servidos até a hora do almoço.
Para tacos, vá ao Barba Negra ou ao Las Panchas (esse último é mais conhecido pelos de peixe e camarão). Outra instituição local é o Roots, que serve uma famosa pizza de lagosta.
Para uma refeição mais refinada, dentro do hotel Casa Las Tortugas fica o Mandarina, de cozinha mediterrânea, e o Ama, um japonês. No hotel Ser Casasandra, o destaque é o Ser Esencia, que celebra ingredientes e tradições culinárias mexicanas.
View this post on Instagram
O Milpa trabalha com menu degustação e chama atenção da rua por causa das estruturas de madeira em formato de folha na entrada e em torno das mesas.
View this post on Instagram
A vida noturna não é o ponto forte de Holbox, mas de vez em quando rola algum agito no Hot Corner, com drinques e música ao vivo. Outras opções são o Alma Bar, no rooftop do hotel Villas Tiburón, e o Luuma, dentro do Casa Las Tortugas, com mesas ao ar livre e aperitivos para compartilhar.
View this post on Instagram
Pelas ruas do centrinho, também vale parar em um dos carrinhos que preparam as marquesitas, espécie de crepe crocante recheado com Nutella.