Termina a greve em Machu Picchu
A Joinnus não será mais a empresa responsável pelas vendas de ingressos para a cidade inca e um novo sistema deverá ser desenhado e operado pelo Estado
Terminou na manhã desta quarta-feira (31) a greve que já durava sete dias e impedia a circulação de trens até Aguas Calientes, vilarejo que é a base para visitar Machu Picchu, e também dos ônibus que levavam visitantes até a entrada da cidade inca. O estopim da greve foi a entrada da Joinnus, empresa de eventos que passaria a ter exclusividade na venda dos ingressos, o que para os grevistas significava o primeiro passo para a privatização do receptivo da maior atração do Peru, que hoje está nas mãos do governo.
Ficou acordado nesta quarta-feira que a Joinnus não será mais a empresa responsável pelas vendas, mas que a comercialização dos bilhetes não voltará a ser o que era por conta fragilidade do antigo sistema e das denúncias de desvio de dinheiro. A partir de agora, o governo peruano vai correr para instituir um terceiro meio de pagamento, que deverá ser desenhado e operado pelo Estado.
Em comunicado no Instagram, o Ministério da Cultura do Peru anunciou que os ingressos comprados para o período de 25 a 31 de janeiro seguem válidos durante o ano de 2024. Os ingressos comprados para outras datas seguem vigentes e nenhum trâmite para troca será necessário. Em caso de devolução, o email de contato é ingresos@culturacusco.gob.pe. O site para a compra de novos ingressos é https://tuboleto.cultura.pe/
Desde o dia 25 de janeiro, moradores e operadores turísticos de Aguas Calientes (Machu Picchu Pueblo) se organizaram em uma paralisação por tempo indeterminado contra a venda de ingressos ao sítio arqueológico pela empresa peruana Joinnus.
Na última semana, a comunidade local interrompeu a prestação de serviços, fechou lojas e bloqueou as vias férreas que fazem o transporte da cidade inca até Ollantaytambo, a 60 km de Cusco.
O trem é a principal forma de deslocamento até Aguas Calientes, povoado onde os turistas embarcam em ônibus para chegar em Machu Picchu. Por causa da paralisação dos transportes, turistas foram evacuados da cidade.
Em comunicado oficial, a Embaixada do Brasil em Lima desaconselhou turistas brasileiros a tentarem acessar Machu Picchu por quaisquer vias até a resolução do conflito; leia o o comunicado na íntegra
Os brasileiros podem entrar em contato com a Embaixada pelo email consular.lima@itamaraty.gov.br e pelo telefone +51 985 039 263, em caso de emergências. A Iperú, entidade peruana de assistência aos turistas, está fazendo atendimentos pelo Whatsapp, com o número +51 944 492 314, e organizando evacuações com as autoridades locais por um formulário. Clique aqui para acessá-lo. A empresa Incarail, que opera trens para Machu Picchu, disponibilizou o telefone +51 084 501860 e o e-mail devoluciones@incarail.com para consultas, remarcações de viagens e devoluções de dinheiro. |
A empresa Joinnus começou a intermediar a venda de ingressos on-line para Machu Picchu e trilhas incas no dia 20 de janeiro. Para a comercialização presencial no Centro Cultural de Machu Picchu, em Aguas Calientes, podem ser reservados até 1000 ingressos por dia.
Antes, o serviço era realizado em uma plataforma do Ministério da Cultura e administrado pela Direção Descentralizada de Cultura de Cusco. A pasta defende que a terceirização do sistema de vendas foi feita porque a plataforma governamental era vulnerável a fraudes. O órgão revelou que há um rombo de $ 7,5 milhões de soles (R$ 9, 76 milhões) na comercialização dos ingressos em 2023.
O Coletivo Popular de Machu Picchu, representante de funcionários e moradores da região, alega que a intermediação por uma empresa privada caracteriza a “privatização sistemática” do serviço e do patrimônio cultural. O pagamento à Joinnus de uma comissão de 3,9% sobre os ingressos vendidos também é criticado.
A empresa peruana trabalha com a venda de ingressos e a promoção de eventos e turismo. Para o grupo de manifestantes, trata-se de um conflito de interesses, pois a base de dados virtuais a qual a Joinnus terá acesso como intermediadora poderá beneficiar seus próprios negócios. A suspensão do contrato foi apresentada como exigência para que a greve se encerre, assim como a renúncia da ministra da Cultura, Leslie Urteaga.
Urteaga rechaça hipóteses de corrupção no processo e afirma que a empresa foi contratada por oferecer o menor preço entre outras que participaram da licitação. Além disso, a ministra rejeita a possibilidade de quebra do contrato com a Joinnus. A empresa, por sua vez, comunicou estar disposta a renunciar o recebimento da comissão por seis meses e também se disponibilizou para participar de um novo processo licitatório.
Nesta terça-feira (30), ocorre um dia de trégua da greve. A suspensão temporária é motivada por uma mesa de negociação que acontece hoje entre o Coletivo Popular de Machu Picchu e o governo de Cusco. Por 24 horas, as estradas de trem e o acesso às ruínas estão liberados.
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