Índia: roedores são reverenciados no Templo dos Ratos

No templo de Karni Mata, roedores são cultuados como reencarnações humanas, mas podem estar ameaçados

Por Gabriel Bortulini
Atualizado em 8 jun 2024, 21h31 - Publicado em 8 jun 2024, 20h00
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Dentro do templo, cerca de 20 mil roedores circulam livremente entre visitantes e oferendas (Jean-Pierre Dalbéra/Creative Commons/Reprodução)
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Na pequena aldeia de Deshnok, na Índia, está localizado o templo de Karni Mata, que geralmente é conhecido por um nome bem menos lisonjeiro: o Templo dos Ratos. A denominação descritiva faz referência ao fato de que, ali, esses animais são venerados como reencarnações humanas.

Deshnok fica na região do Rajastão, a mais de 500 quilômetros da capital Nova Delhi e a cerca de 35 quilômetros da cidade de Bikaner, a maior das redondezas.

Para visitar o templo, é obrigatório estar descalço, o que pode gerar receio dos visitantes diante dos roedores. No entanto, o costume segue as tradições da maior parte dos templos indianos. A recomendação, para quem fica desconfortável com a situação, é usar um par de meias para circular pelo prédio, algo que geralmente é tolerado.

Não se paga para entrar, mas pode haver uma pequena cobrança para usar a câmera fotográfica dentro do templo.

Veja um relato de uma colaboradora da VT

“Os ratos povoaram meus sonhos, ou pesadelos, na noite que antecedeu à nossa ida a Bikaner, cinco horas de carro a nordeste de Jaisalmer. Explico: é ali que está o templo Karni Mata, a única atração que meu companheiro de viagem não abria mão de visitar. A lenda que envolve o lugar, muito rapidamente: Karni Mata pediu a Yama, deus da morte, para trazer de volta do mundo das trevas seu filho Lakhan. Yama, um tanto blasé, teria dito então que aquele pedido estava fora de sua alçada. De qualquer forma, Karni Mata não voltou da conferência de mãos vazias. Muitos de seus parentes ganharam de Yama a eternidade. Não morreriam mais, a partir de então sempre reencarnariam em ratos. Pois ali, naquele palácio, vive toda a descendência de Karni Mata, corporificada em centenas de ratos pretos e gordos, todos aparentemente tratados com carinho e atenção por emocionados indianos. Como se não bastasse, o decoro pede que você adentre o templo descalço. Descalço! A maioria dos turistas, na verdade, usa meias. Eu só cheguei até o pátio, a uma distância civilizada dos roedores. Já meu indômito companheiro não passou mais de cinco minutos no templo. Não sei que destino deu ao par de meias.” Leia aqui o relato completo.

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Ratos sagrados de Karni Mata

Os milhares de ratos de Karni Mata, conhecidos como kaba, não são apenas reencarnações de pessoas. A morte de um rato, segundo os fiéis, também representaria o nascimento de uma nova pessoa na aldeia.

Por todo o templo, a maioria dos ratos são cinzentos. Existe a crença, inclusive, de que os ratos brancos, mais raros, trazem sorte a quem tiver a oportunidade de avistá-los. Mas não só: a pelagem branca indicaria a reencarnação da deusa ou um herdeiro.

Oferendas têm encurtado a vida dos roedores

O costume de oferecer comida aos ratos é comum no templo. No entanto, o hábito de incluir alimentos que contêm leite e doces está afetando a saúde dos roedores. Em condições normais, esses produtos não costumam fazer parte da dieta dos animais, e isso tem consequências visíveis na saúde: eles perdem pelo, engordam e se tornam diabéticos.

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Os ratos que comem doces podem chegar a viver apenas dois meses. Isso também está afetando a população de roedores, que já não é tão numerosa como antes dentro do templo.

Os fiéis temem, inclusive, o desaparecimento completo dos animais. Por outro lado, as autoridades turísticas da Índia defendem (sem evidências sólidas) que, apesar dos temores manifestados por estrangeiros, nunca teria sido registrado um caso no sentido oposto, de doenças transmitidas pelos ratos aos visitantes.

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