Trem Expresso do Oriente: histórica linha Paris-Istambul ganha revival caríssimo
Trajeto deve chegar novamente à Turquia em 2025, com passagens que custam o preço de um carro. No vagão mais luxuoso, o pernoite supera meio milhão de reais
Com vagões pomposos que figuram na literatura, aparecendo em obras como as de Agatha Christie e Graham Greene, as viagens no luxuoso trem Orient Express (ou Expresso do Oriente, em português) mexem com a imaginação de muita gente há décadas.
Originalmente, o seu trajeto mais longo ligava Paris a Istambul, mas a extensão da viagem foi sendo reduzida com o passar dos anos. Em 1977, o trem passou a transportar os passageiros só até Bucareste, na Romênia. Em 1991, um novo corte reduziu o extremo da linha a Budapeste, na Hungria. E, dez anos mais tarde, um novo enxugamento transformou a linha em um modesto Paris–Viena, na Áustria. Quando o trem original deixou de circular, em 2009, sua partida nem era mais da capital francesa, mas de Estrasburgo.
A boa notícia é que há planos para reviver a rota original, de Paris a Istambul, em 2025. A má notícia é que a passagem para a mais simples das suítes custará mais de R$ 100 mil.
Atualmente, dois grupos empresariais dividem os direitos para comercializar viagens sob o título de Orient Express. A Belmond opera a linha Venice Simplon-Orient-Express (VSOE). Já a rede Accor está investindo na restauração de vagões originais de época para uma “linha nostálgica” ainda em testes, batizada de Nostalgie-Istanbul-Orient Express, que deve ser inaugurada no ano que vem.
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Venice Simplon-Oriente-Express da Belmond
O Venice Simplon-Orient-Express da Belmond tenta recuperar o charme das viagens mais longas. A estrela do programa é um pacote que percorre a linha Paris–Budapeste, mas há mais de 50 itinerários possíveis, envolvendo cidades como Bruxelas, Veneza, Genebra e Amsterdã, entre outros destinos europeus.
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Com vagões restaurados ou inspirados na estética da viagem que acontecia nos anos 1920 – período do auge da art déco –, cada espaço do Venice Simplon-Orient-Express transporta os passageiros para outros tempos enquanto cruza o continente europeu.
O trem possui três vagões de refeições. O vagão-restaurante Étoile du Nord foi construído em 1926 e preserva a decoração em madeira entalhada de época completamente restaurada. Já o Côte d’Azur foi restaurado em duas ocasiões – 1961 e 1981 – e é coberto de decorações em vidro com design de René Lalique. O L’Oriental também passou por uma remodelação com painéis de laca preta reluzentes.
Nas acomodações, as categorias disponíveis variam em preço, mas não perdem o requinte. As mais caras, chamadas de Grand Suites, dispõem de serviço de mordomo 24 horas, compartimento para jantar particular, banheiros privativos e champanhe à vontade. Tudo a partir de £ 10.165 por pessoa (mais de R$ 74 mil).
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As suítes tradicionais – um pouco menos salgadas, a partir de £ 7.260 por pessoa (mais de R$ 53 mil) – são decoradas com inspiração na paisagem do trajeto e na art déco, com cores, padrões e texturas de antigamente. Durante o dia, a cama do quarto fica “guardada” em um compartimento, fazendo da cabine uma área de estar.
Já as cabines históricas funcionam com duas camas de solteiro ou beliches ladeando os assentos do tipo banqueta rente às janelas – de onde é possível observar a paisagem da viagem durante o dia. A partir de £ 3.885 por pessoa (mais de R$ 28 mil) nos trajetos mais curtos, o modelo mais simples de cabine é equipado com pia com água quente e fria, mas os banheiros são compartilhados e se encontram no final de cada vagão leito.
Todas as opções de trajetos e datas (que são escassas, oferecidas poucas vezes por ano) podem ser encontradas no site da empresa, que também pretende reviver a linha Paris–Istambul: há previsão de uma viagem de 5 noites saindo em 30 de maio de 2025, com preços a partir de £ 17.500 por passageiro (cerca de R$ 128 mil).
Cabine exclusiva foi concebida por artista francês
Se você achou caro, espere para ver a próxima atração projetada pela Belmond para o Venice Simplon-Orient-Express: o ápice do conforto estará no L’Observatoire, um vagão concebido pelo fotógrafo e artista francês JR.
Inspirado nos gabinetes de curiosidades renascentistas, o vagão é todo decorado com padrões de marchetaria, possui uma biblioteca com diversos volumes da famosa editora francesa Gallimard e conta com uma claraboia, bem como outras decorações suntuosas.
As viagens no L’Observatoire estarão disponíveis a partir de março de 2025, mas só para quem realmente puder se dar ao luxo de pagar surreais £ 80 mil por noite (um valor que beira os R$ 600 mil).
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Nostalgie-Istambul-Oriente Express da Accor
A outra empresa com os direitos para explorar a marca Orient Express é a Accor, que está preparando a linha Nostalgie-Istanbul-Orient Express. O trem, que percorrerá a lendária rota Paris-Istambul, terá 17 vagões originais do Orient Express histórico, datados de 1920 e 1930. O projeto de restauração é liderado pelo arquiteto Maxime d’Angeac, que já trabalhou para marcas como Daum e Hermès.
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D’Angeac reúne elementos da década de 1920 com o luxo contemporâneo para criar um design original para cada ambiente dos vagões. Elementos como lâmpadas florais recuperadas do trem histórico e abajures que revisitam os modelos originais foram mantidos para preservar a história do comboio. As duas primeiras viagens-teste foram realizadas este ano e, em 2025, a linha entrará em operação comercial.
Por enquanto, a Accor já abriu vendas para um trajeto bem mais curto, que percorre algumas regiões da Itália, com o pacote sendo vendido sob o nome La Dolce Vita Orient Express – mas a primeira partida também só ocorrerá em 2025.