Quando vamos a um restaurante que tem por trás um grande chef, corremos dois riscos. O primeiro deles é elevar as expectativas às alturas, aumentando as chances de rolar uma decepção. O outro é gostar (ou achar que gostou) automaticamente de tudo, induzido pelo pensamento de “se todo mundo diz que é bom, deve ser”. Minha sorte, portanto, foi ter dormido no ponto. Jantei no Tanta na semana passada sem ter a menor ideia de que se tratava da única e grandiosa empreitada do cozinheiro peruano Gastón Acurio em Barcelona.
Para quem não segue de perto a alta cozinha: o chef é o grande embaixador da gastronomia peruana e um dos responsáveis pelo hype que a culinária do país andino vive atualmente. Em outras palavras, está para o Peru assim como Alex Atala está para o Brasil (ou até mais). No começo do ano, o chef que espalhou a marca Astrid & Gastón pelo mundo anunciou a sua aposentadoria das cozinhas para se dedicar ainda mais a fundo a seus projetos educativos. Mas seus restaurantes seguem funcionando, sob a batuta de chefs treinadíssimos por ele.
Inaugurado em 2012, o Tanta é o segundo restaurante de Acurio na Espanha (o primeiro foi o Astrid & Gaston de Madri). O lugar é grandioso. Na entrada, há um bar espaçoso e classudo, que costuma ficar animadíssimo aos finais de semana. No fundo, uma parede de vidro se abre a um lindo jardim e a cozinha, à vista, é emoldurada por uma parede de pedras. As mesas são bem espalhadas por um salão de piso de madeira, assim como algumas obras de arte. O serviço é impecável e informatizado (a bebida chegou em segundos, quando o garçom ainda estava terminando de anotar o pedido completo).
O cardápio tem pratos básicos, intermediários e avançados da cozinha peruana. Me considero uma novata nesse ramo, de forma que não ousei no pedido: ceviche Nikkei para começar, com fartos cubos de atum vermelhíssimo, leite de tigre, tamarindo e shoyo (€ 24). Perfeito. É possível pedir meia porção, mas tenha em mente que a inteira já é pequena (e, portanto, caríssima para os padrões de Barcelona). Também dei uma bicada no ceviche clássico (€ 22) da minha mãe. Igualmente delicioso apesar de excessivamente frugal.
Mas os pratos principais dissiparam o temor de passar fome. Meu Salteado Nikkei (€ 15) era uma sinfonia de atum branco suculento com cogumelos e pedaços de tomate, cebola e broto de soja cozidos no ponto certíssimo. Supercolorido, o prato veio à mesa numa panelinha. Nem assim deixei de invejar o prato do meu irmão, um arroz com mariscos que tinha cara de paella, mas exalava um sabor completamente diferente, levemente picante, com doses generosas de camarões e mexilhões misturados a pedacinhos de cebola e abacate.
Recomendo alegremente. E, se seu orçamento é apertado, dá para driblar o susto na conta se você abrir mão do ceviche. Há outras entradas tão ou mais apetitosas por menos da metade do preço.
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